O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a registrar inflação, avançando 0,12% m/m em julho, bem no limite superior das projeções dos analistas (Broadcast+). A métrica em doze meses, conforme o esperado, voltou a acelerar (3,99%, ante 3,16%) em vista da saída da base de cálculo do IPCA interanual do mês de julho no qual foi registrado deflação no ano passado. No ano, a alta acumulada é de 2,99%, já próxima da meta de inflação de 3,25%. Por sua vez, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) continuou a apresentar deflação em julho (-0,09% m/m) após registrar -0,10% m/m em junho, de modo que acumula alta de 2,59% no ano e 3,53% nos últimos doze meses.
Em julho, a média dos cinco núcleos de inflação acompanhados pelo Banco Central continuou a arrefecer, saindo de 0,20% m/m para 0,18% m/m. A desaceleração foi menor em relação ao mês anterior por conta de três dos cinco núcleos terem apresentado alta nas suas taxas de variação. Na margem, os bens industriais deixaram para trás a deflação de 0,60% m/m e avançaram 0,12% m/m em julho, sendo puxados principalmente pelos segmentos de duráveis (0,34% m/m, ante -1,24% m/m) e não-duráveis (-0,47% m/m, ante -0,83% m/m). O movimento oposto foi registrado nos preços dos serviços, que arrefeceram de 0,62% m/m para 0,25% m/m na passagem de junho para julho. Dentro de serviços, os destaques foram: serviços subjacentes (0,20% m/m, ante 0,67% m/m), serviços intensivos em trabalho (0,37% m/m, ante 0,41% m/m) e serviços diversos (0,10% m/m, ante 0,48% m/m). Em consonância, o índice de difusão de serviços voltou a recuar após a alta registrada em junho, saindo de 61,8% para 50,0%. Já o índice de difusão geral recuou moderadamente para 46,2%, ante 49,6% em junho.
Dos 9 grupos que compõe o IPCA, 5 apresentaram alta de preços em julho e o mesmo ocorreu para 13 das 16 regiões pesquisadas. Dentre aqueles com contribuições positivas ficaram os grupos de Transportes (1,50% m/m e impacto de 0,31 p.p.), Despesas Pessoais (0,38% m/m e impacto de 0,04 p.p.), Saúde e Cuidados Pessoais (0,26% m/m e impacto de 0,03 p.p.), Educação (0,13% m/m e impacto de 0,01 p.p.) e Artigos de Residência (0,04% m/m e impacto de 0,00 p.p.). Nesses grupos, os destaques foram para os itens de gasolina (4,75% m/m e impacto de 0,23 p.p.), empregado doméstico (0,29% m/m e impacto de 0,01 p.p.), plano de saúde (0,78% m/m e impacto de 0,03 p.p.), jornal diário (10,97% m/m e impacto de 0,00 p.p.) e móvel para quarto (0,99% m/m e impacto de 0,01 p.p.). Já pelo lado das contribuições negativas, os destaques foram para os grupos de Habitação (-1,01% m/m e impacto de -0,16 p.p.), Alimentação e Bebidas (-0,46% m/m e impacto de -0,10 p.p.), Vestuário (-0,24% m/m e impacto de -0,01 p.p.), e Comunicação (0,00% m/m e impacto de 0,00 p.p.). Dentro desses grupos, os itens de maior impacto foram: energia elétrica residencial (-3,89% m/m e impacto de -0,16 p.p.), frango em pedaços (-2,64% m/m e impacto de -0,02 p.p.), tênis (-0,99% m/m e impacto de 0,00 p.p.) e aparelho telefônico (-0,01% m/m e impacto de 0,00 p.p.). Apesar do prolongamento por parte do governo do programa de descontos automotivos, o índice de preço de carros novos surpreendeu para cima, apresentando inflação de 1,65% m/m em julho.
Do lado dos itens mais voláteis, energia e alimentos apresentaram dinâmicas opostas, com o primeiro saindo de 1,43% m/m para -3,89% m/m na passagem de junho para julho e o segundo arrefecendo a intensidade da deflação (-0,72% m/m, ante -1,07% m/m) no mesmo período. Para o restante do ano, o cenário para energia elétrica continua promissor dado o elevado nível dos reservatórios, com a expectativa de manutenção da bandeira tarifária verde. Já o cenário para os alimentos pode ser impactado negativamente pela decisão recente da Rússia de se retirar do acordo de exportação de grãos que tinha com a Ucrânia, pressionando o preço das commodities alimentícias mesmo com o aumento da oferta de alimentos na esteira do forte crescimento da agropecuária brasileira no 1º trimestre. Nessa conjuntura, o anúncio da criação de um estoque regulador de alimentos por parte do governo deve contribuir para diminuir a volatilidade de preços. Na passagem de junho para julho, o núcleo de inflação (que exclui energia e alimentos) se reduziu de 0,26% para 0,23% na métrica mensal e de 6,88% para 6,43% na métrica anual.
Apesar do IPCA de julho ter vindo no teto das estimativas dos analistas, a composição apresentou uma leitura um pouco mais positiva. A média dos núcleos continuou a arrefecer, assim como métricas importantes de serviços como os subjacentes, os diversos e até os intensivos em trabalho, embora estes últimos em ritmo mais lento por conta do mercado de trabalho mais apertado do que o esperado. Isso mostra o arrefecimento das diferentes métricas de inflação diretamente afetadas pela ação da política monetária.
O resultado do IPCA de julho está de acordo com a continuidade dos planos do Banco Central de reduzir a taxa Selic em 50 pontos-base nas próximas reuniões do ano. Contudo, vale destacar que cortes dessa magnitude continuariam a coincidir com um período no qual a inflação em doze meses vai acelerar em vista da saída da base de cálculo do IPCA interanual dos três meses (julho, agosto e setembro) nos quais foram registradas deflações no ano passado, o que demandaria cautela adicional por parte da autoridade monetária. Além disso, alguns riscos de alta para a inflação oriundos das commodities alimentícias e energéticas ainda pairam no radar. A grande defasagem dos preços domésticos dos combustíveis em relação as cotações internacionais podem forçar a Petrobras a promover algum reajuste nos preços da gasolina e do diesel daqui até o final do ano. A volta das cobranças integrais dos impostos federais (PIS/Cofins) sobre a gasolina e o etanol no início de julho mostrou o efeito que o item gasolina pode ter sobre o IPCA mensal (4,75% m/m e impacto de 0,23 p.p.). Por outro lado, não descartamos uma aceleração no ritmo de corte de juros de 50 para 75 pontos-base na última reunião do ano (dezembro). Uma possível contração do PIB brasileiro no 3º trimestre pode ser usada como justificativa para esse movimento mais agressivo por parte do Banco Central. Mesmo assim, achamos que a taxa Selic deve encerrar o ano em 11,75%, após mais três cortes de 50 pontos-base nas reuniões de setembro, novembro e dezembro.