Em março, o IPCA avançou 1,62% m/m, resultado pior que o projetado pelo mercado (1,35%, Broadcast), ficando acima do teto das expectativas (1,44%). Esta foi a maior variação para o mês de março desde 1994, antes do plano Real. O resultado do mês advém, em grande parte, por impactos decorrentes do conflito no leste europeu, com concentração nos grupos Alimentos e Transportes. Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 11,30% e 3,20% no ano.
O conflito no Leste Europeu afeta a economia brasileira, principalmente, por meio das elevações nos preços das commodities agrícolas e energéticas. O resultado no mês foi influenciado pela elevação do grupo Alimentação e Bebidas (2,42%) e pelo Transportes (3,02%), que juntos corresponderam por 70% do aumento no índice cheio. Houve aceleração da taxa de inflação em 5 dos 9 grupos, com taxa de difusão alta (76,1%), a maior desde fevereiro de 2016 (77,21%).
Em relação aos Transportes, no dia 11/03, a Petrobras reajustou os preços dos combustíveis nas refinarias em 18,77% para gasolina, 24,9% para o diesel e 16% para o GLP. Com isso, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento do preço dos combustíveis (6,7%), com destaque para a gasolina (6,95%), que apresentou o maior impacto individual no IPCA do mês (0,44 p.p.). Além disso, tivemos elevação de 5,29% no gás veicular, 3,02% no etanol e 13,6% no diesel. Além dos combustíveis, tivemos impacto importante do aumento do preço dos transportes por aplicativo (7,98%) e conserto de automóvel (1,47%). Algumas cidades como São Paulo, Curitiba, São Luís Recife e Belém apresentaram reajustes de preços nas tarifas de ônibus urbanos. Por outro lado, houve queda no preço das passagens aéreas (-7,33%). Entretanto, isso decorre da metodologia utilizada para a coleta: o preço das passagens reflete o preço de uma passagem marcada com dois meses de antecedência. Ou seja, em março está refletindo o preço das viagens reservadas em janeiro, um mês que ficou marcado pelo aumento de casos com a variante Ômicron e redução de demanda por voos.
Os alimentos foram impactos, principalmente, pelos alimentos para consumo no domicílio (3,09%). A aceleração da inflação nos alimentos se deve por questões climáticas especificas de cada alimento, mas também pelo aumento do custo do frete e encarecimento de algumas commodities agrícolas. O aumento dos combustíveis tem impacto indireto em diversos setores econômicos, inclusive o de alimentos. A maior contribuição veio do tomate (0,08 p.p.), aumentando 27,22% no mês. Já a cenoura aumentou 31,47%, acumulando alta de 166,2% em 12 meses. A Rússia e a Ucrânia são grandes exportadores de trigo, milho e óleo de girassol, enquanto o Brasil importa cerca de 60% do trigo que consome internamente. Esses importantes produtos agrícolas já haviam aumentado no mês anterior e continuaram a subir em março.
O terceiro maior impacto decorreu do grupo Habitação (1,15% e 0,18 p.p.), principalmente pelo aumento do gás de botijão (6,57%), diante do reajuste de 16% no preço de venda para as distribuidoras. Além disso, a alta da energia elétrica influenciou o resultado do mês (1,08%), diante dos reajustes de 15,6% e 17,3% nas tarifas de duas concessionarias de energia no Rio de Janeiro.
Nossa leitura para o IPCA do mês foi negativa: o índice avançou acima das expectativas; apresentou uma taxa de difusão elevada, a média dos núcleos de inflação veio, novamente, próxima a 1% m/m; e o preço de bens industriais continua em trajetória de elevação, apesar da forte apreciação cambial recente. Ou seja, vemos uma inflação mais persistente e disseminada entre as categorias, sem alívio da pressão sobre bens industriais, enquanto a inflação de serviços já retornou para o patamar histórico de 6% a.a.