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Publicado em 10 de Abril às 14:48:28

IPCA (mar/24): Número surpreende para baixo, composição benigna.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou na passagem de janeiro para fevereiro, de 0,42% m/m para 0,16% m/m, vindo acima da mediana das projeções de mercado (0,24% m/m, Broadcast+) e acima de nossa projeção (0,27% m/m). Na métrica em doze meses, o índice desacelera em 3,93% a/a na comparação com o mês imediatamente anterior (4,51% a/a). Por sua vez, o INPC apresentou aceleração em relação à leitura do mês imediatamente anterior, ao sair de um avanço de 0,81% m/m para 0,19% m/m, acumulando 3,40% a/a nos últimos doze meses, acima dos doze meses imediatamente anteriores (3,86% a/a).

Em janeiro, a média dos cinco núcleos de inflação acompanhados pelo Banco Central acelerou, passando de 0,50% m/m para 0,15% m/m. A medida surpreendeu bastante, vindo abaixo da mediana das projeções de mercado (0,25% m/m, Broadcast+) e abaixo da nossa projeção (0,26% m/m). O núcleo com maior pressão altista (médias aparadas suavizadas, com 0,24% m/m realizado e 0,31% m/m em nossa projeção) considera medidas de inflação suavizadas para alguns itens como combustíveis, energia elétrica e comunicação, sendo menos sensível a surpresas na ponta e mais inercial.

Em relação ao índice cheio, as surpresas do resultado vieram tanto de alimentos quanto industriais. Para alimentos, o mercado esperava 0,72% m/m (Broadcast+) e nossa projeção era de 0,79% m/m, já o realizado foi de 0,53% m/m. A surpresa baixista se deu, em nossa projeção, pelo arroz, onde esperávamos leve alta de 0,09% m/m e o valor realizado foi de -0,9% m/m. Outros itens com bastante peso também surpreenderam para baixo nossa projeção, como Carnes (-0,94% m/m com -0,37% m/m esperado), Aves e ovos (1,74% m/m com 3,06% m/m esperado), entre alguns outros. Essa queda é reflexo das condições climáticas mais favoráveis nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que vêm apresentando boas chuvas e seguem com perspectivas favoráveis. Além disso, as condições de produção de milho e soja seguem favoráveis nas principais regiões, especialmente no Mato Grosso, o que tende a baratear os insumos da produção de alimentos. Finalmente, com uma transição para um território de La Niña fraca somente a partir de agosto (de acordo com a maioria das principais instituições climáticas), vemos a continuidade desse cenário benigno para alimentos.

Já industriais, a categoria surpreendeu para baixo a nossa projeção (0,08% m/m) e a projeção de mercado (0,01% m/m, Broadcast+), com um valor realizado de -0,12% m/m. Em nossa projeção, a principal surpresa veio da categoria de bens duráveis, em que esperávamos uma queda de 0,11% m/m versus a queda realizada de 0,32% m/m. Isso é reflexo da demanda chinesa enfraquecida, devido ao estado ainda recessivo da economia desde o primeiro trimestre de 2023, no entanto, a magnitude da queda desse mês específico surpreende quando olhamos para o IPCA15 de março e IPCA de fevereiro (0,23% m/m e 0,37% m/m, respectivamente). A queda excessiva nos bens industriais pode ser reflexo da Semana do Consumidor, celebrada anualmente no dia 15 de março.

Serviços fecham março com alta de 0,10% m/m, valor mais em linha com nossa projeção e a projeção do mercado (0,13% m/m, Broadcast+). O que se destaca em serviços é seu núcleo subjacente, acelerando em 0,45% m/m versus uma expectativa de mercado de 0,44% m/m, e surpreendendo para baixo a nossa projeção (0,56% m/m). A principal surpresa veio do subitem Refeição, registrando leve alta de 0,09% m/m enquanto esperávamos 0,62% m/m, um valor mais consistente com as últimas leituras do IPCA15 e IPCA (0,76% m/m e 0,67% m/m, respectivamente). Essa surpresa é benigna, pois reflete sinal de reação da demanda interna frente aos serviços. No entanto, os serviços intensivos em trabalho surpreenderam nossa projeção (0,50% m/m), acelerando em 0,56% m/m no mês, compensando a surpresa negativa de alimentação fora do domicílio.

O principal impacto negativo no mês veio de passagens aéreas, com deflação de -9,14% m/m, valor já sinalizado pela leitura do IPCA15 do mês de março, contribuindo com -7 bps no índice cheio. Dentre as contribuições altistas, temos 11 bps de Alimentação e bebidas, com 3 bps da cebola e 3 bps do tomate. Habitação contribuiu com 3 bps, reflexo da alta de 0,74% m/m de condomínio, valor também já antecipado pela leitura do IPCA15 do mês. Outras contribuições importantes vieram de saúde e cuidados pessoais (6 bps influenciado pela alta dos planos de saúde), e cinema com 2 bps de contribuição, devolvendo o desconto da última semana de fevereiro (5,14% m/m, e nossa projeção era de 5,00% m/m).

O IPCA de março apresentou uma composição favorável, com aceleração de todos os núcleos abaixo de nossa projeção, bem como média dos núcleos significativamente abaixo da projeção de mercado. Esse número reforça nossa percepção de viés baixista para alimentos, trazendo mais confiança na perspectiva benigna explicada por boas condições climáticas, níveis elevados de produção e arrefecimento das anomalias climáticas. Já para industriais, seguimos com projeções de baixa para a categoria, explicada pela fraca demanda chinesa. Ainda entendemos que esse número não amplia esse viés de baixa, e aguardaremos mais leituras. Por ora, nossa projeção é que devolva essa queda nos próximos meses, retomando a tendência que vinha seguindo. O número de serviços subjacentes trouxe novidades positivas para o contexto de política monetária; no entanto, o mercado de trabalho ainda aquecido, salários reais em alta e inflação de serviços intensivos em trabalho ainda em alta sugerem cautela. Mantemos nossa leitura de uma inflação de serviços ainda persistente. Nossa projeção preliminar para o IPCA15 e IPCA de abril é de 0,24% m/m e 0,28% m/m, respectivamente. Para o fim do ano, ajustamos nossa projeção de 4,0% para 3,9%. Para o Copom de maio, esperamos que a taxa Selic seja reduzida para 10,25% a.a. e que o ciclo de corte se encerre em 9,5% a.a.

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