O IPCA de novembro registrou variação de 0,39% m/m, acima da nossa expectativa de 0,35% m/m e acima das expectativas de mercado de 0,36% m/m (Broadcast+). Em nossa avaliação, a composição é substancialmente pior do que a sugerida pela nossa projeção, com aceleração em itens chaves para a melhora no diagnóstico da dinâmica inflacionária. Esperávamos uma melhora na composição, em linha com o sugerido pelo IPCA-15 de novembro, mas o realizado veio na outra direção.
Alimentação registrou variação de 1,81% m/m, acima das nossas expectativas de 1,75% m/m e um pouco abaixo das expectativas de mercado de 1,84% m/m. Em nossa projeção, a surpresa é explicada por alguns itens em alimentos subjacentes (e.g. pão francês) e in-natura. Carnes registraram variação em linha com o esperado. Esperamos arrefecimento da sequência de alta para os próximos meses. Conforme um item da cesta de consumo tende a descolar em preço relativo, efeitos substituição por parte do consumidor dificultam o repasse de custos do produtor. Isso é corroborado pela recente queda da arroba do boi gordo na BM&F, que saiu de R$ 350 para R$ 322 entre 29 de novembro e 9 de dezembro.
Serviços registraram variação de 0,83% m/m, acima da nossa expectativa de 0,61% m/m e acima da expectativa de mercado de 0,69% m/m. Em nossa avaliação, o qualitativo da categoria é bastante negativo. Apesar do efeito sazonal, esperávamos continuidade no arrefecimento em alimentação fora do domicílio, conforme último IPCA-15. Serviços intensivos em trabalho registraram um salto de 17bps em relação ao último IPCA, magnitude atípica. Em nossa visão, esses dois componentes estabelecem o quadro negativo do número, e trazem preocupação para a futura trajetória dos serviços. Uma forte dinâmica inflacionária nos serviços pode sugerir que, apesar de sequentes quedas na taxa de desemprego, o mercado de trabalho está operando acima do potencial, sugerindo inflação para o futuro.
Nos industriais, o headline veio substancialmente abaixo da nossa projeção, com surpresa concentrada nos duráveis e vestuário. Devido a deterioração cambial, esperávamos um efeito Black Friday próximo da neutralidade. No entanto, houve surpresas baixistas em eletrodomésticos, aparelhos telefônicos, televisores e automóveis usados. Caso essa queda seja de fato um efeito Black Friday, ela deveria ser devolvida no próximo mês, comprometendo a categoria.
Média dos núcleos registrou variação de 0,39% m/m, bem acima da nossa expectativa (0,29% m/m), e acima das expectativas de mercado (0,35% m/m). A surpresa no DP e MS, núcleos bem inerciais, corroboram uma tendência pior que a esperada por nossas projeções. No entanto, núcleo P55 ainda sinaliza variação centrada em torno de 0,29% m/m, indicando bastante heterogeneidade. Juntando o IPCA e IPCA-15 de outubro e novembro, já são quatro leituras de deterioração em alimentação fora do domicílio e núcleos. Dezembro será chave para confirmar essa tendência.