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Publicado em 11 de Abril às 14:01:03

IPCA (mar/23): Inflação desacelera para 0,71% m/m, acumulando alta de 4,65% em 12 meses

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou para 0,71% m/m em março, ante 0,84% m/m em fevereiro, vindo bem melhor do que o consenso de mercado projetava (0,77% m/m, Broadcast+) e próximo do piso das estimativas (0,69% m/m). Na métrica em doze meses, a desaceleração na passagem de fevereiro para março foi de quase 1,0 p.p., ao sair de 5,60% para 4,65%. No ano, a alta acumulada já é de 2,09%, se aproximando de cerca de dois terços da meta de inflação (3,25%). Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 0,64% m/m, arrefecendo em relação ao número observado em janeiro (0,77% m/m), de modo que acumula alta de 1,88% no ano e 4,36% nos últimos doze meses.

Em março, os núcleos de inflação acompanhados pelo banco central apresentaram forte desaceleração em relação ao mês anterior, saindo de 0,73% m/m para 0,37% m/m. Na margem, os bens industriais tiveram alta de 0,27% m/m, ante 0,54% m/m, sendo puxada pelo arrefecimento em bens não duráveis (0,15% m/m, ante 0,51% m/m) e em bens duráveis (-0,16% m/m, ante 0,17% m/m). Já os serviços avançaram apenas 0,25% m/m, ante 1,41% m/m em fevereiro, resultado que veio acompanhado por um forte recuo no índice de difusão desse setor (de 85,3% para 64,7%). O índice de difusão geral também recuou, ainda que em magnitude menor do que o de serviços, saindo de 65,3% para 59,9%. Na ponta altista tivemos os preços administrados saindo de 0,84% m/m para 2,33% m/m. Essa aceleração já era esperada em vista da volta dos tributos federais (PIS/Cofins) incidentes sobre combustíveis e energia elétrica. Na ponta baixista, a repetição de um bom resultado no grupo Alimentação e Bebidas (0,05% m/m, ante 0,16% m/m) se somou a moderação da alta nos grupos Educação (0,10% m/m, ante 6,28% m/m) e Saúde e Cuidados Pessoais (0,82% m/m, ante 1,26% m/m) para fazer com que o número da inflação cheia do mês de março viesse abaixo do esperado. Com isso, os preços livres apresentaram tendência oposta à dos preços administrados e saíram de 0,84% m/m para 0,18% m/m.

Em vista do exposto acima, a principal contribuição ficou por conta do grupo Transportes (2,11% m/m e impacto de 0,43 p.p. no IPCA), puxado por gasolina (8,33% m/m e impacto de 0,39 p.p.). Um contraponto importante dentro desse grupo foram as passagens aéreas (-5,32% m/m e impacto de -0,03 p.p.). Outra contribuição expressiva para o resultado do IPCA do mês veio do grupo Habitação (0,57% m/m e impacto de 0,09 p.p.), com destaque para o item de energia elétrica residencial (2,23% m/m e impacto de 0,09 p.p.). Finalmente, o único grupo a apresentar queda de preços em março foi Artigos de Residência (-0,27% m/m e impacto de -0,01 p.p.), com as maiores contribuições para isso vindo dos itens televisor (-2,15% m/m e impacto de -0,01 p.p.) e refrigerador (-0,73% m/m e impacto de 0,00 p.p.).

Embora 8 dos 9 grupos pesquisados tenham apresentado alta de preços em março, de modo geral a composição mostra uma leitura bem positiva para o mês. As principais métricas de núcleo mostraram arrefecimento, evidenciando a ação da política monetária sobre as mesmas. Do lado dos itens mais voláteis, energia e alimentos apresentaram dinâmicas opostas, com o primeiro sendo impactado pela reoneração parcial dos tributos federais e o segundo estendendo a sua trajetória de desaceleração. Para o restante do ano, o cenário para esses dois itens é promissor dado o elevado nível dos reservatórios e a expectativa de manutenção da bandeira tarifária verde sobre a energia elétrica, e a projeção de um ano de forte crescimento do setor agropecuário, aumentando a oferta de alimentos e aliviando a pressão sobre os preços. Além disso, o desejo de criação de um estoque regulador de alimentos por parte do governo deve contribuir para diminuir a volatilidade de preços.

Nossa avaliação é que apesar do bom resultado do IPCA de março, com a composição indicando arrefecimento tanto de itens mais voláteis como de algumas métricas de núcleo, isso ainda não abre espaço para cortes de juros por parte do banco central. O mercado de trabalho mais apertado continua a pressionar a inflação de serviços, na qual a alta inércia vem sendo comprovada pela dificuldade da política monetária, mesmo em patamar restritivo, em fazer ceder essa métrica de inflação em doze meses, que se situa em 7,63%. Além disso, outras medidas de inflação como a média dos 5 núcleos (7,78% a/a) somente agora começaram a apresentar uma desinflação mais expressiva, mas ainda se encontram em patamares que não estão em consonância com a meta de inflação. A experiência passada desaconselha fortemente cortes precoces da taxa de juros quando o processo de desinflação ainda não estiver sedimentado. Adicionalmente, o corte surpresa na produção de petróleo empreendido pela OPEP+ recentemente somado a ruídos de possíveis mudanças na política de preços da Petrobras contribuíram para adicionar ainda mais incerteza quanto à trajetória futura de preços dessa importante commodity energética. Já a desaceleração na variação em doze meses do índice cheio deve ser interpretada com cautela, tendo-se em vista que o efeito base da inflação elevada nos meses de fevereiro a abril de 2022 sobre o índice deve beneficiar o arrefecimento desta métrica nos próximos meses. Entretanto, a partir do segundo semestre, o oposto será observado com o fim dos efeitos deflacionários das desonerações aprovadas no último ano sobre o acumulado em 12 meses, levando a dinâmica de preços para uma trajetória altista. Além disso, a ofensiva recente de alguns atores do governo contra o atual patamar da Selic e a defesa de uma elevação da meta de inflação, vem tendo como resultado a desancoragem das expectativas de inflação para vários prazos, o que dificulta enormemente o processo de desinflação em curso visto que o canal das expectativas é crucial para trazer a inflação de volta para a meta. Sem esse canal, a autoridade monetária tem que combater a inflação por meio de outros mais custosos como a redução na concessão de crédito, a desaceleração da atividade econômica e o esfriamento do mercado de trabalho.

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