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Publicado em 30 de Maio às 15:36:35

Mercado de Crédito (abr/23): Saldo de crédito para pessoas jurídicas recua 0,6% m/m

Em abril, o saldo das concessões de crédito apresentou contração próxima à estabilidade (-0,1% m/m), de modo que, o volume de crédito do SFN totalizou R$ 5,36 trilhões no mês. Este é resultado da combinação entre a volta da contração do saldo de crédito livre (-0,3% m/m, ante 0,9% m/m em março) e a alta do saldo de crédito direcionado (0,2% m/m, ante 0,7% m/m e março). No que diz respeito ao público, os resultados também foram mistos. Por um lado, houve expansão de 0,2% m/m no saldo de crédito para as pessoas físicas (PF), desacelerando em relação ao mês imediatamente anterior, período que se registrou alta de 0,9% m/m. Em contrapartida, o saldo de crédito para pessoas jurídicas (PJ) retornou ao território contracionista ao recuar 0,6% m/m após alta de 0,7% m/m em março. Por fim, na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, com avanço de 11,1% a/a, ante 12,1% a/a no mês imediatamente anterior. Este foi o décimo resultado consecutivo de arrefecimento da métrica, o que sinaliza perda de dinamismo no mercado de crédito, acumulando queda de 6,6 p.p. desde jun/22. Entretanto, ressaltamos que o processo de desaceleração nos últimos meses não aponta para rupturas no setor, sugerindo que este movimento reflete os efeitos da política monetária contracionista sobre o mercado de crédito.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre voltou a se expandir, com variação de 0,3% m/m (totalizando R$ 1,82 trilhão), no entanto, na métrica anual, a tendência de desaceleração continua, com o avanço de 13,9% a/a, ante17,0% a/a no mês anterior. Na ponta positiva, destacaram-se as evoluções das carteiras de crédito pessoal não consignado (1,8% m/m) e de crédito pessoal consignado (0,6% m/m). Vale ressaltar o desempenho do saldo de cartão de crédito que recuou 0,8% m/m, refletindo a contração de 1,5% m/m no saldo do cartão de crédito à vista ter compensado a alta de 1,0% m/m no saldo de crédito rotativo. Já no crédito livre para PJ, houve retração mensal de 1,0% m/m, com destaque para a redução do saldo das operações de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-7,7% m/m), após um movimento sazonal de elevação desta carteira no mês anterior. Além disso, contribuiu também
para o resultado negativo do mês a queda de 24,5% m/m no saldo do cartão de crédito rotativo que também foi beneficiado pela sazonalidade em março.

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$2,2trilhões em abril, elevação de 0,2%m/m no mês e de 14,7% a/a (ante 14,3%a/a em março), registrando o nono mês consecutivo de expansão, de modo que, acumula alta de 3,5 p.p. desde jul/22. Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram variação de 0,2% m/m e de 8,5% a/a, atingindo R$ 738,0bilhões. Por sua vez, o crédito direcionado para pessoas físicas avançou 0,1% m/m e 18,1% a/a, com destaque para o crescimento da carteira de financiamento imobiliário com taxas reguladas (0,5% m/m).

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário que se mantém em 2023, a taxa média de juros das operações de crédito voltou a acelerar em abril, avançando para 32,2% a.a., ante 31,8% a.a. em março, com continuação da aceleração no quinto mês consecutivo para pessoas físicas (37,7% a.a., aumento de 0,6 p.p.) e volta do recuo para pessoas jurídicas (21,3% a.a., queda de 0,2 p.p.) após alta de 0,3 p.p. no mês imediatamente anterior. As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 7,2 p.p. nos últimos doze meses, alcançando o patamar de 45,1% a.a., com destaque para alta de 9,8 p.p. da taxa de juros cobradas as pessoas físicas (59,7% a.a). Vale destacar que a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu 14,4p.p. em abril, chegando a 447,7% a.a., que deve contribuir para deterioração na inadimplência nos próximos meses, diante da piora no perfil de endividamento das famílias marcado pela expansão da carteira de crédito rotativo. No crédito livre para empresas, a
taxa média ficou em 23,9% a.a., recuando 0,2 p.p. na margem e alta de 1,5 p.p. em doze meses.

No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem em aceleração. No crédito livre, a inadimplência das famílias renovou o patamar mais elevado desde out/16 ao avançar 0,2p.p. e chegar a 6,2%, enquanto, para pessoas jurídicas, houve aceleração de 0,4 p.p. para 2,8%, a maior taxa desde ago/19. Mesmo em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica na modalidade livre apresentou uma elevação de 1,1 p.p. nos últimos 12 meses, enquanto para as famílias, a alta é de 1,2 p.p. no mesmo período.

Na nossa avaliação, o mês de abril aponta para a continuidade do cenário de desaceleração do mercado de crédito, entretanto, observamos que este processo tem se mostrado gradativo e sem rupturas. Analisando os dados na métrica anual, fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com as do saldo de concessões de crédito desacelerando desde jun/22 tanto para pessoas físicas quanto para empresas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração do perfil de crédito das famílias, tanto pelo aumento da inadimplência, que já está em patamares elevados e em aceleração, quanto pela piora na qualidade dessas concessões, com destaque para o crédito rotativo, modalidade que apresenta taxa de juros anual recorde e em crescimento. Além disso, destacamos a aceleração do indicador de comprometimento de renda das famílias que avançou 0,3 p.p. em março e 1,6 p.p. em 12 meses, atingindo o patamar de 27,7%, próximo do patamar mais elevado da série histórica (27,8% em set/22). Diante disso, acreditamos que o BC se encontre atualmente em uma posição desafiadora. Por um lado, o aumento da Selic para combater a inflação subjacente pode acelerar a deterioração dos parâmetros apresentados anteriormente, mas a sua diminuição pode descredibilizar a autoridade monetária em um cenário de atividade mais resiliente do que o antecipado. Assim, somada a uma percepção negativa acerca do Novo Arcabouço Fiscal aprovado no Congresso Nacional, ainda que ligeiramente melhor do que o projeto inicialmente proposto, se mostra incapaz de estabilizar a dívida pública em um patamar inferior à 93% do PIB. Dessa forma, esperamos que a autarquia mantenha a taxa básica de juros em 13,75% a.a. por mais tempo, dando continuidade ao atual ritmo de desaceleração das concessões que deve impactar a atividade econômica de maneira mais significativa a partir do segundo semestre de 2023.

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