Com a greve dos servidores do Banco Central, o relatório do mercado de crédito não estava sendo divulgado. Com o fim da paralisação, os dados referentes aos meses de março e abril foram divulgados hoje.
Em abril, as concessões de crédito recuaram 0,2% m/m, após terem crescido 8,7% no mês de março. Apesar do recuo na margem, as concessões de crédito se encontram em patamares elevados. No mês, houve recuo tanto na concessão de recursos livres (-0,8% m/m) quanto no crédito direcionado (-6,9% m/m). Nos primeiros quatro meses do ano, as concessões avançaram 27,8% em termos nominais.
A concessão para pessoas físicas cresceu 1,8% em abril, após avançar 11,5% em março. Houve aumento na concessão de crédito livre (2,8% m/m), com destaque para crédito não rotativo (10,6% m/m) e avanço de 0,6% na aquisição de veículos. Por outro lado, houve recuo no cartão de crédito a vista (-3,4%) e no crédito direcionado (-1,2%).
O crédito para as pessoas jurídicas recuou 0,1% em abril, após avançar 4,0% em março. Houve recuo no crédito livre (-10,9% m/m), principalmente no não rotativo (-3,3%). Já o crédito direcionado apresentou recuo de 12,8% em abril. Em relação as captações de recursos no mercado de capitais para o primeiro semestre, a tendência permanece a mesma: desaceleração nas captações totais com concentração nas emissões de debêntures e pouca obtenção de recursos com emissão de ações. O apetite por debêntures vem aumentando, enquanto o cenário macroeconômico adverso limita as captações via equity.
Em linha com o movimento de aumento da taxa básica de juros, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre subiram pela décima vez consecutiva, passando de 37,4% para 38,1% a.a., aumento de 8,9 p.p. nos últimos 12 meses. É o maior nível de juros desde abril de 2019. Houve elevação tanto nas taxas de juros para empresas quanto para as famílias.
No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência vêm apresentando aceleração, principalmente no crédito livre voltado para as pessoas físicas. No crédito livre, a inadimplência das famílias e das empresas apresentam dinâmicas diferentes. Por um lado, vemos baixa e estável inadimplência por parte das empresas (1,7%). Entretanto, em relação as pessoas físicas, vemos significativa aceleração, retornando aos patamares vistos no período pré pandemia. O crescimento da inadimplência vem ocorrendo principalmente nos cartões de crédito (destaque para o rotativo), crédito pessoal não consignado e no crédito para aquisição de veículos. No ano, por exemplo, a concessão de crédito no rotativo já avançou 59%, salientando as dificuldades enfrentadas pelas famílias para administrar suas finanças.
O contexto macroeconômico desafiador (elevada inflação e política monetária contracionista) afeta o mercado de crédito com a redução das concessões, aumento do custo do crédito e elevação da inadimplência. Até o momento, é possível identificar um aumento significativo do custo do crédito, que se elevará ainda mais com os aumentos da taxa básica de juros. A inadimplência é uma variável que já vem sendo impactada, principalmente no crédito livre para pessoas físicas. Entretanto, a recuperação mais forte do mercado de trabalho e da massa de rendimentos, combinada com políticas de estímulo fiscal devem ajudar na recomposição dos orçamentos familiares, mitigando, em parte, a elevação da inadimplência.