Em agosto, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão de 1,1% m/m, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 5,52 trilhões no mês. Este é resultado da combinação entre os avanços observados tanto no saldo de crédito livre (0,7% m/m) quanto no saldo de crédito direcionado (1,7% m/m). No que diz respeito ao público, o desempenho no mês foi influenciado, principalmente, pela expansão de 1,3% m/m no saldo de crédito destinado às famílias, ao passo em que houve avanço de 0,9% m/m no crédito destinado às empresas, revertendo a queda de 0,8% m/m observada no mês imediatamente anterior.
Na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, em termos nominais, que registrou avanço de 8,9% a/a, ante 9,3% a/a no mês imediatamente anterior. Este foi o oitavo resultado consecutivo de arrefecimento da métrica, sinalizando que segue em curso o processo de perda de dinamismo do mercado de crédito, sobretudo na carteira de crédito livre que passou de uma expansão de 21,9% a/a em jun/22 para 6,7% a/a em ago/23. Com este resultado, o ritmo de expansão em 12 meses do estoque total de crédito acumula queda de 8,9 p.p. desde jun/22, refletindo a queda de 10,0 p.p. e de 7,8 p.p. no ritmo de expansão das carteiras de crédito às pessoas físicas e às empresas, respectivamente. Entretanto, ressaltamos que o processo de desaceleração nos últimos meses não aponta para rupturas no setor dado o ritmo moderado de contração observado no período, sugerindo que este movimento reflete os efeitos da política monetária contracionista sobre o mercado de crédito, sobretudo dos saldos de crédito livre tanto para empresas quanto para as famílias.
Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre deu continuidade ao processo de expansão ao avançar 1,2% m/m (totalizando R$ 1,87 trilhão), ante expansão de 0,4% m/m no mês imediatamente anterior. Na métrica interanual, a tendência de desaceleração continua, visto que o ritmo de expansão desacelerou de 10,5% a/a para 10,2% a/a na passagem de julho para agosto. No mês, o desempenho positivo teve como destaque para as Carteiras de crédito consignado para beneficiários do INSS (2,3% m/m e R$ 5,4 bilhões); Financiamento para aquisição de veículos (1,4% m/m e R$ 3,8 bilhões); Crédito consignado para trabalhadores do setor público (0,9% m/m e R$ 2,9 bilhões) e Crédito pessoal não consignado (1,0% m/m e R$ 2,6 bilhões). No que diz respeito ao saldo da carteira de Crédito do cartão de crédito, houve expansão de 0,3% m/m em agosto (+R$ 1,6 bilhão), decorrente da expansão da carteira de Crédito à vista 0,4% m/m ter compensado o recuo de 0,9% m/m da carteira de Crédito rotativo. Vale destacar que, embora o resultado do mês tenha apontado para uma melhora no perfil de crédito livre das pessoas físicas devido ao recuo na contratação do crédito via Cartão de crédito rotativo, este ainda se encontra em um patamar significativamente superior ao observado no período que precedeu a pandemia e deve continuar sendo um fator de risco relevante para o retorno da alta da inadimplência nos próximos meses.
Já no crédito livre para as PJ, houve expansão de 0,1% m/m, totalizando R$ 1,4 trilhão, ante contração de 1,8% m/m observado no mês imediatamente anterior. Os destaques vão para as diminuições das carteiras de Antecipação de faturas de cartão de crédito (-7,1% m/m e -R$ 6,8 bilhões); Financiamento à exportações (-2,4% m/m e -R$3,0 bilhões); e Adiantamento de contratos de câmbio – ACC (-2,4% m/m e -R$ 2,6 bilhões). Em contrapartida, destacamos o desempenho positivo das carteiras de Cartão de crédito total (10,6% m/m e R$ 3,5 bilhões); Capital de giro com prazo superior a 365 dias (0,7% m/m e R$ 2,7 bilhões); e Outros créditos livres (1,4% m/m e R$ 1,7 bilhão)).
O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,3 trilhões em agosto, elevação de 1,7% m/m no mês e de 12,2% a/a (ante 12,6% a/a em julho). Por segmento, as operações contratadas com as empresas avançaram 2,4% m/m e 10,1% a/a, atingindo R$ 773,1 bilhões, com destaque para a carteira de crédito rural, que apresentou alta de 20,4% m/m (+R$ 12,4 bilhões), em linha com o início do novo Plano Safra com uma linha de financiamento recorde de R$ 363 bilhões. Por sua vez, o crédito direcionado para as pessoas físicas cresceram 1,4% m/m e 13,2% a/a, alcançando o patamar de R$ 1,5 trilhão, com destaque para a carteira de Crédito rural com taxas reguladas (3,0% m/m e R$ 7,7 bilhões); Crédito rural com taxas de mercado (4,5% m/m e R$ 7,6 bilhões) e financiamentos imobiliários com taxas reguladas (0,4% m/m e R$ 3,6 bilhões).
A taxa média de juros das operações de crédito recuou 0,4 p.p. na passagem de julho para agosto, atingindo o nível de 30,7% a.a., ante 31,1% a.a., o terceiro mês consecutivo de queda na taxa média de juros. Este resultado, tanto a queda nas taxas cobradas para aplicações feitas por pessoas jurídicas (passou de 19,6% a.a. para 19,3% a.a), quanto para pessoas físicas (de 37,1% a.a. para 36,5% a.a.). As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre apresentaram queda de 0,3 p.p. em relação ao mês imediatamente anterior, alcançando o patamar de 43,5% a.a. Esse movimento foi determinado pelos recuos nas taxas médias de juros para operações contratadas com pessoas jurídicas (22,6% a.a.), com redução de 0,3 p.p. no mês e com pessoas físicas (57,7% a.a.) com redução de 0,6 p.p. no mesmo período. Vale destacar que tanto para as pessoas físicas quanto jurídicas as taxas de juros cobradas sobre a carteira de cartão de crédito rotativo ainda se encontram em um patamar significativamente elevado e, dessa forma, constituem um importante fator de risco para uma intensificação do processo de deterioração do mercado de crédito nos próximos meses.
No contexto de taxa de juros e inflação elevadas, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a inadimplência das famílias apresentou queda de 0,1 p.p., recuando para 6,1%, em linha com o lançamento do programa Desenrola Brasil que teve como foco inicial a extinção de dívidas de até R$ 100, enquanto para pessoas jurídicas, houve aceleração de 0,1 p.p. para 3,3%, a maior taxa desde ago/18. Mesmo em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica na modalidade livre apresentou uma elevação de 1,5 p.p. nos últimos 12 meses, com destaque para a inadimplência na modalidade de cheque especial (14,5%) e cartão de crédito (41,2% em jul/23), enquanto para as famílias, a alta é de 0,5 p.p. no mesmo período, com destaque para o cartão de crédito rotativo, cuja inadimplência alcançou o patamar de 49,3% em agosto.
Na nossa avaliação, o mês de agosto aponta para a continuidade do cenário de desaceleração do mercado de crédito, entretanto, observamos que este processo tem se mostrado gradativo e sem rupturas. Analisando os dados na métrica anual, fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com as do saldo de concessões de crédito desacelerando desde jun/22 tanto para pessoas físicas quanto para empresas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração ocorrida nos últimos meses no perfil de crédito das famílias, tanto pelo aumento da inadimplência quanto pela composição da carteira de crédito, com destaque para o patamar significativamente elevado do saldo de crédito rotativo, que possui elevada taxa de inadimplência. Diante desse cenário, acreditamos que o BC se encontre atualmente em uma posição desafiadora. Por um lado, a dinâmica ainda perversa da inflação corrente combinada à desancoragem das expectativas de inflação mais longas, demandam que a autarquia mantenha a política monetária em patamar restritivo por um período mais prolongado, constituindo, assim, um fator de risco relevante para a deterioração ainda maior dos parâmetros apresentados anteriormente, sobretudo a inadimplência. Em contrapartida, uma mudança abrupta na condução da política monetária, pode descredibilizar o BC em um cenário adverso no que diz respeito à dinâmica de preços da economia, principalmente dos grupos de maior inércia inflacionária. Nesse contexto, avaliamos que a autarquia deva seguir o atual plano de voo, de cortes de 0,5 p.p. na taxa Selic nas próximas reuniões, de modo que, projetamos uma taxa Selic terminal de 11,75% a.a. em 2023. Acreditamos que este cenário como o mais adequado para dar continuidade ao atual ritmo de desaceleração das concessões de crédito, que vem acontecendo sem rupturas, e deve impactar a demanda agregada de maneira mais significativa a partir do segundo semestre de 2023, contribuindo para o processo de desinflação dos componentes mais inerciais do índice de preços.