O Banco Central divulgou os dados referentes aos meses de julho e agosto para o mercado de crédito. Nesses dois meses, houve uma reversão da tendência de arrefecimento nas concessões de crédito observadas nos meses anteriores. As concessões apresentavam três quedas consecutivas, porém, em julho houve avanço de 4,9% e em agosto de 1,7% m/m.
No mês de agosto, as concessões de crédito avançaram 1,7% m/m, após terem avançado 4,9% no mês de julho. Diferentemente do mês anterior, em que houve avanço generalizado nas diversas aberturas, em agosto houve avanço concentrado nas empresas (2,3%), enquanto houve queda nas concessões para as famílias (-2,7%).
Nas famílias, houve recuo das concessões no crédito livre (-0,7%), com destaque para contração no não rotativo (-0,5%) e para aquisição de veículos, que recuou 0,2%, sendo a quinta taxa negativa consecutiva nesse segmento. Por outro lado, houve avanço de 1,1% na concessão via cartão de crédito a vista. Já o crédito direcionado recuou 14,3%.
O crédito livre para as pessoas jurídicas avançou 2,4% em agosto, após avançar 0,2% em julho. O crédito não rotativo aumentou 1,6% e o capital de giro apresentou forte elevação (11,1%). Já o crédito direcionado apresentou incremento de 14,2%.
Em linha com o movimento de aumento da taxa básica de juros, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre subiram novamente, ficando em 40,6% a.a., aumento de 10,9 p.p. nos últimos 12 meses. É o maior nível de juros desde março de 2018.
No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência vêm apresentando aceleração, principalmente no crédito livre voltado para as pessoas físicas. No crédito livre, a inadimplência das famílias e das empresas apresentam dinâmicas diferentes. Por um lado, vemos baixa e estável inadimplência por parte das empresas (1,8%). Entretanto, em relação as pessoas físicas, vemos significativa aceleração, estando em 5,6%, ultrapassando os patamares vistos no período pré pandemia.
Com os dados divulgados nos últimos dois meses, o cenário de maior evidência do impacto da política monetária sobre as concessões de crédito parece ainda não se concretizar. As taxas de crescimento para as famílias ainda são significativas, dando sinais de estabilidade em patamares mais elevados. O crescimento das concessões no cartão de crédito a vista está ligado a recuperação da economia, com maior consumo de bens e serviços. O contexto macroeconômico atual, com a melhora no mercado de trabalho (queda do desemprego e aumento da massa salarial) em conjunto com políticas fiscais expansionistas, em nossa visão, ajuda a explicar certa resiliência do mercado de crédito. Entretanto, avaliamos que uma desaceleração econômica deve ocorrer no 4º trimestre de 2022 e ao longo de 2023.