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Publicado em 27 de Janeiro às 12:21:29

Mercado de Crédito (dez/22): Saldo de concessões tem novo avanço com sinais de desaceleração

No mês, o saldo das concessões de crédito avançou 1,3% m/m, totalizando R$ 5,326 trilhões no período, após ter apresentado expansão de 0,9% m/m em novembro. Este resultado decorreu da expansão de 1,3% m/m tanto do saldo de crédito livre quanto de crédito direcionado.  Diferentemente do mês anterior, o saldo de crédito às pessoas jurídicas teve maior contribuição em relação às pessoas físicas, que avançaram 2,1% m/m e 0,8% m/m respectivamente. O estoque de crédito no Brasil cresceu 14% em 2022 na comparação com o ano anterior, mesmo diante do processo de aperto monetário que elevou significativamente as taxas de juros, mostrando certa resiliência da economia brasileira.

Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pela autoridade monetária, o estoque de operações foi para 54,2%, frente a 53,8% em novembro. Em dezembro de 2021, o saldo era de 52,5%.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre avançou 0,2% m/m e 17,0% a/a (ante 1,2% m/m e 18,7% a/a em novembro), mantendo R$ 1,8 trilhão, em um movimento de desaceleração na margem. Na ponta negativa, houve destaque no saldo de Cheque Especial (-6,5% m/m), Crédito Renegociado (-6,4% m/m) e Cartão de Crédito Rotativo (-3,5% m/m). Por outro lado, o Arrendamento Mercantil (+7,7% m/m) e Cartão de Crédito à Vista (+2,2% m/m) lideraram as altas.

O crédito livre para as pessoas jurídicas avançou 2,7% m/m em dezembro, totalizando R$ 1,4 trilhão, e expansão de 9,9% a/a. Entre as modalidades de crédito, os destaques vão para Descontos de Duplicatas (+19,5% m/m), Cartão de Crédito (+9,0% m/m) e Compror (7,5% m/m). Já na ponta negativa, Cheque Especial (-8,0% m/m) e Repasse Externo (-4,0% m/m) lideraram.

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$2,151 trilhões em dezembro, elevação de 1,3% m/m no mês e de 14,3% a/a (ante 13,9% em novembro). Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram alta de 0,9% m/m e aumento de 8,1% a/a, atingindo R$ 740,6 bilhões. Nas operações com as famílias, o volume de crédito direcionado elevou-se 1,6% m/m e 17,9% a/a, totalizando R$ 1,410 trilhão, com crescimento do volume concentrado em Crédito Rural com Taxas Reguladas (3,0% m/m) e nos Financiamentos Imobiliários com Taxas de Mercado (2,6% m/m).

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário de 2022, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 8,2 p.p. nos últimos meses. No entanto, em dezembro, foi registrada a primeira queda marginal desde junho de 2021, uma vez que a taxa média passou de 43,5% em novembro para 42,0% em dezembro (-1,5 p.p.).  No crédito livre para empresas, a taxa média situou-se em 23,1% a.a., com leve recuo (-0,2 p.p.), enquanto para as famílias a taxa média teve maior contribuição, com queda de 2,1 p.p. chegando a 55,8%.

No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência apresentaram estabilidade em um patamar historicamente alto. No crédito livre, a inadimplência das famílias teve avanço marginal de 0,1 p.p. em dezembro ante novembro, voltando ao patamar mais elevado (5,9%) desde mai/17, e para pessoas jurídicas houve estabilidade em 2,1%, maior taxa desde mai/20. Mesmo que ainda em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica apresentou uma elevação de 0,6 p.p. em 2022, enquanto para as famílias, a alta é de 1,1 p.p. no ano.

Embora o mercado de crédito tenha apresentado mais um avanço no saldo das concessões, os dados apresentam sinais de desaceleração na margem, tanto para empresas quanto para as famílias, sinalizando que os efeitos da política monetária, ainda que parciais, já podem ser sentidos no mercado de crédito. Especialmente no que diz respeito às pessoas físicas houve uma desaceleração considerável, mas o avanço observado ao longo de 2022 comprova a tese de uma economia resiliente mesmo em meio a um dos mais fortes ciclos de aperto monetário já feitos, tanto em magnitude quanto em tempo. Assim, o atual contexto macroeconômico, com a melhora no mercado de trabalho (queda do desemprego e aumento da massa salarial) em conjunto com políticas fiscais expansionistas, em nossa visão, ajudam a explicar o resultado do ano. Para 2023, esperamos, além de uma desaceleração mais contundente, uma maior deterioração do mercado tanto pelo aumento da inadimplência quanto pela piora na qualidade dessas concessões. Acreditamos que as discussões em torno da nova âncora fiscal e o aumento do risco fiscal aumentaram a probabilidade de que o ciclo de aumento da Selic seja retomado, como forma de ancorar as expectativas de inflação, pressionando as taxas de juros e encarecendo ainda mais o crédito.

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