Em dezembro, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão de 1,4% m/m, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 5,8 trilhões no mês. Este é resultado da combinação entre o aumento observado no saldo de crédito livre (1,8% m/m) e do avanço do saldo no crédito direcionado (0,9% m/m). No que diz respeito ao público, o desempenho no mês foi influenciado, principalmente, pela alta de 2,6 % m/m no saldo de crédito destinado às empresas, ao passo em que houve avanço de 0,7% m/m no crédito destinado às famílias.
Na variação interanual, observou-se estabilidade em relação ao mês anterior, em termos nominais, com avanço de 7,9% a/a. Este resultado interrompeu uma sequência de 12 meses consecutivos de desaceleração, indicando, possivelmente uma reversão em função do início do ciclo de flexibilização monetária.
Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre apresentou avanço de 0,3% na passagem de novembro para dezembro, ante aumento de 1,5% no mês imediatamente anterior. Na métrica interanual, a tendência de desaceleração desta modalidade continua, uma vez que o ritmo de alta saiu de 8,1% a/a para 7,9% a/a no mesmo período. No mês, o resultado pode ser explicado pela combinação entre as seguintes dinâmicas: elevação dos financiamentos para aquisição de veículos (2,2% m/m); queda do crédito consignado para os aposentados e pensionistas do INSS (-1,65% m/m); e crescimento da carteira de crédito total (0,61% m/m), em função dos recuos observado na carteira de crédito rotativo (-2,68% m/m) e do parcelado (-1,32% m/m) e do aumento do crédito à vista (1,44% m/m). De maneira geral, podemos observar o arrefecimento tanto do crédito rotativo quanto do cheque especial, apontando para uma melhora no perfil de crédito livre das pessoas físicas.
Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, houve aumento de 3,8% m/m em dezembro, ante avanço de 0,9% observado no mês imediatamente anterior. Os destaques positivos foram: outros créditos livres (5,17% m/m), antecipação de faturas de cartão de crédito (9,40%) e desconto de duplicatas e outros recebíveis (18,42%). Em contrapartida, os destaques negativos ficaram com as contrações das carteiras cartão de crédito (-3,81% m/m) e de financiamento de importações (-5,1%).
O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,4 trilhões em dezembro, elevação de 0,9% m/m no mês e de 11,8% a/a (ante 12,3% a/a em novembro). Por segmento, as operações contratadas com as empresas avançaram 0,5% m/m e 9,6% a/a, atingindo R$ 809,5 bilhões, com destaque para a carteira de crédito rural, que apresentou alta de 2,92% m/m. Por sua vez, o crédito direcionado para as pessoas físicas cresceu 1,1% m/m e 13,0% a/a, alcançando o patamar de R$ 1,6 trilhão, com destaque para a carteira de crédito rural com taxas de mercado (3,5% m/m) e financiamentos imobiliários com taxas reguladas (0,9% m/m).
A taxa média de juros das operações de crédito recuou 0,7 p.p. na passagem de novembro para dezembro, atingindo o nível de 28,4% a.a., o sétimo mês consecutivo de queda na taxa média de juros. Esse movimento foi determinado pela queda de 1,0 p.p nas taxas medias de juros para operações contratadas com pessoas jurídicas (21,1% a.a), ao passo em que houve recuo de 0,2 p.p nas taxas cobradas sobre a carteira das famílias (54,2% a.a).
No contexto de taxa de juros e inflação elevadas, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a inadimplência das famílias recuou 0,2 p.p. alcançando 5,6%, em linha com o lançamento do programa Desenrola Brasil que teve como foco inicial a extinção de dívidas de até R$ 100, enquanto para pessoas jurídicas, houve queda de 0,1 p.p. para 3,5%. Nesse sentido, o endividamento das famílias manteve-se em 48,2% em novembro, com redução de 1,3 p.p. na comparação com novembro de 2022. Além disso, o comprometimento da renda apresentou a quinta queda consecutiva, atingindo 26,5% em novembro.
Na nossa avalição, tal resultado aponta para uma melhora no mercado de crédito em linha com o início da flexibilização monetária. Nesse sentido, ao longo do segundo semestre de 2023 observou-se certa melhora tanto nos indicadores de inadimplência quanto no nível de comprometimento de renda das famílias. Assim, a melhora na saúde financeira das famílias somada ao conjunto de medidas promovidas pelo governo de impulso fiscal e à resiliência do mercado de trabalho, devem contribuir para que haja recuperação das concessões de crédito livre PF ao longo do ano. Isso em conjunto à queda do comprometimento da renda com o pagamento da dívida, devem contribuir para que o consumo das famílias seja um vetor de crescimento importante ao longo deste ano.