Em fevereiro, as concessões de crédito ficaram praticamente estáveis (0,1% m/m) em relação ao mês anterior (série com ajuste sazonal). Houve avanço na concessão de recursos livres (0,5% m/m) e no crédito direcionado (0,2% m/m). Em 12 meses, as concessões aumentaram 23% em termos nominais.
A concessão para pessoas físicas cresceu 3,4% em fevereiro. Houve aumento na concessão de crédito livre (5,2% m/m), com destaque para crédito para aquisição de veículos (6,5% m/m) e em cartão de crédito (4,1% m/m). Vale destacar o aumento recente do crédito rotativo e parcelado nos cartões de crédito (dado em linha com o aumento das contas em atraso e contexto econômico mais desafiador para as famílias). Por outro lado, houve forte queda no crédito direcionado para as famílias de 11,6% no mês.
O crédito para as pessoas jurídicas recuou 1,4% em relação ao mês anterior, porém concentrado no crédito livre, que caiu 2,1%, com destaque para a queda no capital de giro em 7,3%. O crédito direcionado, por sua vez, avançou 32%. Em relação as captações de recursos no mercado de capitais para os meses de fevereiro e março, a tendência permanece a mesma: desaceleração nas captações totais com concentração nas emissões de debêntures e pouca obtenção de recursos com emissão de ações.
Em linha com o movimento de aumento da taxa básica de juros, as taxas cobradas pelas instituições financeiras subiram pela oitava vez consecutiva, passando de 35,3% para 36,9 % a.a., aumento de 8,4 p.p. nos últimos 12 meses. Houve elevação tanto nas taxas de juros para empresas quanto para as famílias. Com o aumento das taxas de juros, as taxas de inadimplência, apesar de se encontrarem em patamar historicamente baixo, estão em tendência de crescimento. Em especial, a taxa de inadimplência para as famílias aumentou de 4,1% para 4,7% no período de um ano. A inadimplência para as empresas, por outro lado, se mantém estável ao longo das últimas leituras. Importante monitorar a evolução desse indicador nos próximos meses, em um cenário de desaceleração econômica e inflação em patamar elevado.
O contexto macroeconômico desafiador (elevada inflação, atividade econômica mais fraca e política monetária contracionista) afeta o mercado de crédito com a redução das concessões, aumento do custo do crédito e elevação da inadimplência. Até o momento, é possível identificar um aumento significativo do custo do crédito, que se elevará ainda mais com os próximos aumentos da taxa básica de juros. As concessões de crédito arrefeceram, mas a inadimplência, apesar de estar aumentando, ainda permanece em patamares baixos. Vale destacar que a inadimplência considera os atrasos superiores a 90 dias. Ao analisarmos os atrasos entre 15 e 90 dias vemos uma elevação mais significativa dos atrasos. Além disso, instituições financeiras têm reportado maior provisionamento em seus balanços com PDD (provisão para devedores duvidosos), mostrando o maior receio com o recebimento de recursos.
Importante salientar o pacote de Crédito Brasil Empreendedor, aprovado no Congresso nos últimos dias, retornando com o Pronampe (programa de crédito voltado para pequenas e médias empresas). Esse programa de estímulo foi lançado durante a Pandemia de Covid-19. O ponto central do projeto é manutenção do Fundo garantidor de operações (FGO), que cobre perdas dos bancos com inadimplentes no Pronampe, estimulando a concessão de crédito. Esse deve ser um vetor importante para contrabalancear os impactos do contexto macroeconômico adverso para o mercado de crédito.