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Publicado em 29 de Março às 11:03:34

Mercado de Crédito (fev/23): Desaceleração das concessões aliada à deterioração do perfil de crédito

Em fevereiro, o saldo das concessões de crédito apresentou ligeira queda (-0,1% m/m), totalizando R$ 5,32 trilhões. Este resultado foi composto por mais uma retração do saldo de crédito livre (-0,5% m/m, ante -0,8% m/m em janeiro) e uma leve aceleração do saldo de crédito direcionado (0,6% m/m, ante 0,6% m/m). No que diz respeito ao público, houve certa compensação entre o resultado do saldo de pessoas jurídicas e físicas, com o primeiro tendo nova retração, mas em menor dimensão (-0,7% m/m, ante -2,3% m/m), e o segundo desacelerando a expansão (0,4% m/m, ante 1,1% m/m).  Por fim, na variação interanual, houve moderada perda de fôlego do saldo total de concessões, com avanço de 12,6% a/a ante 13,8% a/a em janeiro, mais uma vez sinalizando a perda de dinamismo em meio à manutenção das altas taxas de juros. Este já é o nono mês consecutivo de desaceleração na métrica anual, acumulando queda de 5,1 p.p. desde junho do último ano.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre sofreu forte desaceleração, mantendo a estabilidade (0,0% m/m) após avanço de 1,1% m/m em janeiro, comportamento que também se reflete na métrica anual, na qual houve avanço de 17,0% a/a ante 17,7% a/a. Na ponta negativa, destacamos o saldo de Arrendamento Mercantil (-5,3% m/m) e Cartão de Crédito (-1,7% m/m) que, além de estar em um processo de quatro meses consecutivos de perda de ímpeto, conta com uma forte deterioração da modalidade à Vista (-3,6% m/m). Por outro lado, os principais avanços se encontram no Cheque Especial (3,5% m/m) e Cartão de Crédito Rotativo (4,6% m/m), em concordância com a nossa tese de que há uma deterioração do perfil de crédito das famílias. Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, componente responsável pela desaceleração das concessões livres totais, os destaques são o Desconto de Duplicatas (-7,7% m/m), que apresentou certa melhora depois do recuo no mês anterior (-15,4% m/m) e a Antecipação de faturas de cartão (-5,9% m/m).

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,176 trilhões em fevereiro, elevação de 0,6% m/m no mês e de 14,3% a/a (ante 14,2% em janeiro). Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram variação de 0,1% m/m e de 7,7% a/a, atingindo R$ 737,3 bilhões. Dentre os destaques, recursos direcionados ao BNDES (-0,7% m/m) e Financiamentos Imobiliários (2,2% m/m) obtiveram as maiores variações. Nas operações com as famílias, o volume de crédito direcionado elevou-se 0,8% m/m e 17,9% a/a, totalizando R$ 1,439 trilhão, com crescimento do volume concentrado em Crédito Rural com Taxas de Mercado (2,5% m/m), contrabalanceando Micro-créditos (-1,1% m/m).

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário que se manteve em 2023, a taxa média de juros das operações de crédito se manteve estável em 31,2% a.a. em fevereiro, com continuação da aceleração no terceiro mês consecutivo para pessoas físicas (36,4% a.a., aumento de 0,4 p.p.) e queda para pessoas jurídicas (21,2% a.a., diminuição de 1,0 p.p.). As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 7,7 p.p. nos últimos doze meses. Vale destacar que a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu 6,0 p.p. em janeiro, chegando a 417,4% a.a., maior taxa desde abr/17. No crédito livre para empresas, a taxa média ficou em 24,2% a.a. (-1,1 p.p.), o segundo recuo nas sete últimas leituras, enquanto para as famílias a taxa média ampliou o avanço de janeiro atingindo 58,3% a.a. (+1,7 p.p. no mês e +2,9 p.p. em relação a dezembro).

No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem em aceleração. No crédito livre, a inadimplência das famílias se manteve estável no patamar mais elevado (6,1%) desde out/16, e, para pessoas jurídicas, houve mais uma aceleração chegando a 2,4%, maior taxa desde nov/19. Mesmo que ainda em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica na modalidade livre apresentou uma elevação de 0,89 p.p. nos últimos doze meses, enquanto para as famílias, a alta é de 1,38 p.p. no mesmo período. Vale mencionar que a métrica de atrasos, que abrange faltas de pagamentos entre 15 e 90 dias, tiveram um aumento considerável no mês para pessoas jurídicas, ao passar de 1,9 % para 2,4%, maior valor desde maio/20.

O mês de fevereiro, portanto, demonstra que o cenário de desaceleração do mercado está se concretizando aliado a uma deterioração das condições de crédito. A perda de dinamismo apresentada se mostra bem mais generalizada, tanto pela retração das concessões a pessoas jurídicas, quanto pela perda de fôlego dos avanços para pessoas físicas.  Daqui para frente, além de uma desaceleração mais contundente, esperamos que haja uma maior deterioração do mercado tanto pelo aumento da inadimplência, que já está em patamares elevados e em aceleração, quanto pela piora na qualidade dessas concessões. Esse vetor negativo já é visível no recorrente avanço de modalidades de crédito que contam com taxas de juros mais elevadas, como o cartão de crédito rotativo, por exemplo. Vale destacar, no entanto, que os eventos envolvendo a estabilidade do sistema financeiro internacional acenderam o alerta para uma possível crise de crédito também no Brasil, tendo em vista o alto patamar das taxas de juros. Diante disso, acreditamos que o BC esteja em uma posição desafiadora, uma vez que o aumento da Selic para combater a inflação subjacente pode acelerar a deterioração dos parâmetros apresentados anteriormente, mas a sua diminuição pode descredibilizar a autoridade monetária. Assim, ainda na expectativa da divulgação do arcabouço fiscal, esperamos que a taxa básica de juros seja mantida em 13,75% a.a. por mais tempo, dando continuidade ao atual ritmo de desaceleração das concessões.  

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