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Publicado em 27 de Fevereiro às 12:01:20

Mercado de Crédito (jan/23): Saldo de concessões tem perda de dinamismo em janeiro

Em janeiro, o saldo das concessões de crédito recuou 0,3% m/m, totalizando R$ 5,317 trilhões no período, após ter apresentado expansão de 1,5% m/m na passagem de novembro para dezembro. Este resultado decorreu da expansão de 0,5% m/m do saldo de crédito direcionado ter sido compensada pela contração de 0,9% m/m no saldo de crédito livre. Diferentemente do mês anterior, o saldo de crédito das pessoas jurídicas teve maior contribuição ao recuar 2,4% m/m, compensando a expansão de 1,1% m/m do saldo de crédito de pessoas físicas. Na comparação interanual, o estoque de crédito avançou 13,6%, ante 14,0% no mês anterior, o oitavo mês consecutivo de desaceleração nesta métrica, sinalizando a perda de dinamismo do mercado de crédito frente à significativa elevação da taxa de juros nos últimos meses.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre avançou 1,1% m/m e 17,6% a/a (ante 0,5% m/m e 17,4% a/a em dezembro), saindo de R$ 1,78 trilhão para R$ 1,80 trilhão, em um movimento de aceleração na margem. Na ponta negativa, os destaques foram o saldo de Cartão de Crédito à Vista (-0,6% m/m) e o Desconto de Cheques (-0,9% m/m). Por outro lado, o Cheque Especial (9,0% m/m); o Arrendamento Mercantil de Veículos (7,2% m/m); Cartão de Crédito Rotativo (4,0% m/m); Cartão de Crédito Parcelado (3,4% m/m); e o Crédito Consignado para Beneficiários do INSS (2.5% m/m) lideraram as altas.

O crédito livre para as pessoas jurídicas recuou 3,5% m/m, totalizando R$ 1,35 trilhão, e expansão de 8,1% a/a, o oitavo mês de desaceleração do saldo de crédito livre na métrica interanual. Entre as modalidades de crédito, os destaques vão para Descontos de Duplicatas (-15,7% m/m); Antecipação de Faturas de Cartão (-10,2% m/m); Cartão de Crédito Rotativo (-41,0% m/m); e Compror (-8,7% m/m). Já na ponta positiva, Cheque Especial (9,2% m/m) foi o único destaque.

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$2,123 trilhões em janeiro, elevação de 0,5% m/m no mês e de 14,5% a/a (ante 14,3% em dezembro). Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram variação de -0,3% m/m e de 8,3% a/a, atingindo R$ 736,5 bilhões. Dentre os destaques, recursos direcionados ao BNDES (-0,4% m/m) e Crédito Rural (-1,1% m/m) foram as principais baixas. Nas operações com as famílias, o volume de crédito direcionado elevou-se 1,0% m/m e 18,0% a/a, totalizando R$ 1,426 trilhão, com crescimento do volume concentrado em Crédito Rural com Taxas de Mercado (1,9% m/m).

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário que se manteve em 2023, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 8,2 p.p. nos últimos doze meses. Após a queda marginal registrada em dezembro (-1,4 p.p.), a primeira em vinte leituras, a taxa média passou de 41,7% em dezembro para 43,5% em janeiro (+1,8 p.p.). Vale destacar que a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu 3,8 p.p. em janeiro, chegando a 411,5%, maior taxa desde abr/17. No crédito livre para empresas, a taxa média ficou em 25,3% a.a. (+2,2 p.p.), voltando a aumentar depois do primeiro recuo em seis meses, enquanto para as famílias a taxa média também voltou a aumentar, novamente atingindo 56,6% a.a. (+1,2 p.p.).

No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência voltaram a acelerar em patamares historicamente altos. No crédito livre, a inadimplência das famílias teve avanço de 0,2 p.p. em janeiro ante dezembro, voltando ao patamar mais elevado (6,1%) desde out/16, e, para pessoas jurídicas, também houve volta da aceleração, chegando a 2,3%, maior taxa desde mai/20. Mesmo que ainda em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica apresentou uma elevação de 0,71 p.p. nos últimos doze meses, enquanto para as famílias, a alta é de 1,47 p.p. no mesmo período. ▪ Diante do patamar atingido pela taxa básica de juros e após alguns meses de sinais discretos, o resultado do mês de janeiro dá mais indícios de que o mercado de crédito está em desaceleração. A perda de dinamismo apresentada se mostra bem mais generalizada, sendo que tanto o avanço do saldo em crédito direcionado quanto o recuo do saldo em crédito livre demonstram perda de fôlego, uma vez que as taxas passaram de 1,3% m/m e 1,6% m/m em dezembro, para 0,5% m/m e -0,9% m/m em janeiro, respectivamente, além da queda no saldo total após três altas consecutivas.

Assim, o atual contexto macroeconômico, com a melhora no mercado de trabalho (queda do desemprego e aumento da massa salarial) em conjunto com políticas fiscais expansionistas, em nossa visão, ajuda a explicar o resultado mais benigno do ano passado, que ainda gera um vetor positivo para as leituras do início de 2023. No entanto, daqui para frente, além de uma desaceleração mais contundente, esperamos que haja uma maior deterioração do mercado tanto pelo aumento da inadimplência, que já está em patamares elevados e em aceleração, quanto pela piora na qualidade dessas concessões. Esse vetor negativo é visível no já recorrente destaque de avanços de modalidades de crédito que contam com taxas de juros mais elevadas, como o cartão de crédito rotativo, por exemplo. Acreditamos que as discussões em torno da nova âncora fiscal e o aumento do risco associado elevaram a probabilidade de que o ciclo de aumento da Selic seja retomado, como forma de ancorar as expectativas de inflação, pressionando as taxas de juros e encarecendo ainda mais o crédito.

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