Em junho, pelo terceiro mês consecutivo, houve recuo nas concessões de crédito, sendo a quarta contração nos últimos cinco meses. No mês, as concessões de crédito recuaram 0,7% m/m, após terem recuado 0,8% no mês de maio. Apesar do recuo na margem, as concessões de crédito se encontram em patamares elevados. No mês, houve recuo na concessão de recursos livres (-0,6% m/m), porém aumento no crédito direcionado (4,7% m/m).
A concessão para pessoas físicas cresceu 1,8% em junho, após recuar 3,0% em maio. Houve aumento na concessão de crédito livre (0,5% m/m), porém contração no crédito não rotativo (-2,9% m/m), na aquisição de veículos (-2,2%) e no cartão de crédito à vista (-1,0%). Por outro lado, houve avanço de 12,1% no crédito direcionado.
O crédito para as pessoas jurídicas recuou 0,9% em junho, após avançar 1,6% em maio. Houve avanço no crédito livre (0,8% m/m). O crédito não rotativo recuou 0,3% e o capital de giro apresentou forte contração (-20,2%), após avançar 27,2% no mês anterior. Já o crédito direcionado apresentou recuo de -6,8%. Em relação as captações de recursos no mercado de capitais, a tendência permanece a mesma: desaceleração nas captações totais com concentração nas emissões de debêntures e pouca obtenção de recursos com emissão de ações. O apetite por debêntures vem aumentando, enquanto o cenário macroeconômico adverso limita as captações via equity. No mês de julho, em especial, houve um aumento expressivo nas emissões de ações, porém decorrente do processo de privatização da Eletrobras. O follow on da Eletrobras corresponde por mais da metade das emissões de ações em 2022, sinalizando o momento de cautela do mercado.
Em linha com o movimento de aumento da taxa básica de juros, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre subiram novamente, passando de 38% para 39% a.a., aumento de 10,6 p.p. nos últimos 12 meses. É o maior nível de juros desde abril de 2018. Houve elevação tanto nas taxas de juros para empresas quanto para as famílias.
No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência vêm apresentando aceleração, principalmente no crédito livre voltado para as pessoas físicas. No crédito livre, a inadimplência das famílias e das empresas apresentam dinâmicas diferentes. Por um lado, vemos baixa e estável inadimplência por parte das empresas (1,7%). Entretanto, em relação as pessoas físicas, vemos significativa aceleração, retornando aos patamares vistos no período pré pandemia. A inadimplência das pessoas físicas se manteve estável (5,2%) no mês de junho, porém vem em tendência de aceleração. Por outro lado, no cenário de melhora do emprego, o comprometimento da renda das famílias apresentou queda.
Os dados recentes corroboram nossa visão de desaceleração suave do mercado de crédito. Apesar da redução das concessões e do aumento do custo do crédito, vemos uma certa estabilidade na margem na inadimplência e de melhora no comprometimento da renda das famílias. Ou seja, projetamos uma desaceleração do mercado de crédito suave, sem rupturas, diante das medidas implementadas pelo governo, tanto para empresas, quanto para as famílias. No âmbito das pessoas físicas, políticas de sustentação da demanda (liberação do FGTS, redução do ICMS e aumento do Auxílio Brasil) em conjunto com a melhora do mercado de trabalho e da massa de rendimentos deve ajudar a suavizar a trajetória de arrefecimento do crédito para as famílias. Além disso, a reedição do Pronampe e do Peac (programas de acesso a crédito para empresas) serão importantes políticas para ajudar no arrefecimento suave das concessões para as firmas.