Home > Macroeconomia Brasil > Mercado de Crédito (mai/23): Comprometimento da renda das famílias atinge nível recorde

Publicado em 28 de Junho às 15:02:13

Mercado de Crédito (mai/23): Comprometimento da renda das famílias atinge nível recorde

Em maio, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão de 0,3% m/m, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 5,39 trilhões no mês. Este é resultado da combinação dos resultados positivos tanto no saldo de crédito livre (0,3% m/m) quanto no crédito direcionado (0,4% m/m). No que diz respeito ao público, houve incremento de 0,5% m/m no estoque de crédito para pessoas físicas (R$3,30 trilhões), acelerando em relação ao mês de abril, período que se registrou alta de 0,3% m/m. Por sua vez, o saldo de crédito para pessoas jurídicas apresentou expansão próxima à estabilidade (0,1% m/m) atingindo o patamar de R$ 2,09 trilhões, após recuar 0,4% m/m na passagem de março para abril.

Na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, com avanço de 10,4% a/a, ante 11,3% a/a no mês imediatamente anterior. Este foi o décimo segundo resultado consecutivo de arrefecimento da métrica, o que sinaliza perda de dinamismo no mercado de crédito, acumulando queda de 7,3 p.p. desde jun/22. Entretanto, ressaltamos que o processo de desaceleração nos últimos meses não aponta para rupturas no setor dado o ritmo moderado de contração nos últimos meses, sugerindo que este movimento reflete os efeitos da política monetária contracionista sobre o mercado de crédito, sobretudo dos saldos de crédito livre tanto para empresas quanto para as famílias.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre voltou a se expandir, com variação de 0,8% m/m (totalizando R$ 1,84 trilhão), no entanto, na métrica anual, a tendência de desaceleração continua, com o avanço de 12,9% a/a, ante 14,2% a/a no mês anterior. Na ponta positiva, destacaram-se as evoluções das carteiras de cartão de crédito à vista (2,4% m/m), com aumento de R$ 8,74 bilhões em relação ao mês anterior; aquisição de veículos (0,9% m/m e incremento de R$ 2,28 bilhões); e do crédito consignado para servidores públicos (0,6% m/m e expansão de R$ 1,89 bilhão). Na ponta negativa, vale destacar o recuo da carteira de cartão de crédito rotativo (-3,5% m/m) de -R$ 2,56 bilhões, entretanto, o saldo ainda se encontra em um patamar significativamente superior ao observado no período que precedeu a pandemia e deve continuar pressionando a alta da inadimplência nos próximos meses. Já no crédito livre para PJ, houve retração mensal de 0,4% m/m (totalizando R$ 1,35 trilhão), após recuar 0,8% m/m no mês imediatamente anterior. Os destaques vão para as quedas de 8,2% m/m do estoque das operações de desconto de duplicatas (-R$ 13,29 bilhões); e de -1,4% m/m do saldo da carteira de capital de giro com prazo superior a 365 dias (-RS 6,62 bilhões).

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,20 trilhões em maio, elevação de 0,4% m/m no mês e de 14,1% a/a (ante 14,6% a/a em abril), interrompendo uma sequência de dez meses consecutivos de expansão, período em que acumulou alta de 3,5 p.p. Por segmento, as operações contratadas com as empresas avançaram 0,8% m/m e 9,4% a/a, atingindo R$ 744,8 bilhões. Por sua vez, o crédito direcionado para as pessoas físicas cresceram 0,1% m/m e 16,8% a/a, alcançando o patamar de R$ 1,46 trilhão, com destaque para o desempenho da carteira de financiamento imobiliário que avançou R$ 5,38 bilhões frente a abril.

Em linha com o forte ciclo de aperto monetário que se mantém em 2023, a taxa média de juros das operações de crédito continuou em trajetória altista no mês de maio, avançando para 32,5% a.a., ante 32,1% a.a. em abril, com manutenção da aceleração no sexto mês consecutivo para pessoas físicas (38,2% a.a., aumento de 0,5 p.p.) e do recuo para pessoas jurídicas (21,0% a.a., queda de 0,3 p.p.), após recuo de 0,2 p.p. no mês imediatamente anterior. As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 7,4 p.p. em relação ao mesmo mês do ano anterior, alcançando o patamar de 45,4% a.a., com destaque para alta de 9,5 p.p. da taxa de juros cobradas as pessoas físicas (59,9% a.a).  Vale destacar que a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu 7,8 p.p. em maio e 86,3 p.p. quando comparado a maio de 2022, chegando a 455,1% a.a., que deve contribuir para deterioração na inadimplência nos próximos meses, diante da piora no perfil de endividamento das famílias marcado por um elevado saldo da carteira de crédito rotativo. No crédito livre para empresas, a taxa média ficou em 23,8% a.a., ficando estável em relação ao mês anterior e alta de 1,5 p.p. em relação ao mesmo período do ano anterior.

No contexto de taxa de juros e inflação elevadas, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem em aceleração. No crédito livre, a inadimplência das famílias renovou o patamar mais elevado desde out/16 ao avançar 0,1 p.p. e chegar a 6,3%, enquanto, para pessoas jurídicas, houve aceleração de 0,2 p.p. para 3,0%, a maior taxa desde nov/18. Mesmo em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica na modalidade livre apresentou uma elevação de 1,3 p.p. nos últimos 12 meses, com destaque para a inadimplência na modalidade de cheque especial (15,6%), enquanto para as famílias, a alta é de 1,2 p.p. no mesmo período, com destaque para o cartão de crédito rotativo, cuja inadimplência alcançou o patamar de 54,0%.

Na nossa avaliação, o mês de maio aponta para a continuidade do cenário de desaceleração do mercado de crédito, entretanto, observamos que este processo tem se mostrado gradativo e sem rupturas. Analisando os dados na métrica anual, fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com as do saldo de concessões de crédito desacelerando desde jun/22 tanto para pessoas físicas quanto para empresas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração do perfil de crédito das famílias, tanto pelo aumento da inadimplência, que já está em patamares elevados e em aceleração, quanto pela composição dessas concessões, com destaque para o patamar significativamente elevado do saldo de crédito rotativo, que possui taxa de juros anual recorde e em crescimento, e uma elevada taxa de inadimplência. Além disso, destacamos a aceleração do indicador de comprometimento de renda das famílias que avançou 0,3 p.p. em abril e 1,7 p.p. em 12 meses, atingindo o patamar de 27,9%, o mais elevado da série histórica. Diante disso, acreditamos que o BC se encontre atualmente em uma posição desafiadora. Por um lado, a manutenção da Selic em patamar significativamente restritivo para combater a inflação que ainda se encontra desancorada pode acelerar a deterioração dos parâmetros apresentados anteriormente, sobretudo a inadimplência. Em contrapartida, uma mudança abrupta na condução da política monetária pode descredibilizar o BC em um cenário adverso no que diz respeito à dinâmica de preços da economia. Nesse contexto, esperamos que a autarquia adote uma postura mais conservadora nas próximas reuniões do Copom, fato que deve dar continuidade ao atual ritmo de desaceleração das concessões de crédito que deve impactar a atividade econômica, sobretudo desaquecendo a demanda interna de maneira mais significativa a partir do segundo semestre de 2023.

Acesse o disclaimer.

Leitura Dinâmica

Recomendações

    Vale a pena conferir