Em março, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão (0,7% m/m), totalizando R$ 5,36 trilhões. Este resultado foi composto pela volta da expansão do saldo de crédito livre (0,8% m/m, ante -0,5% m/m em fevereiro) e manutenção de alta do saldo de crédito direcionado (0,6% m/m, ante 0,7% m/m). No que diz respeito ao público, houve certa expansão tanto para pessoa física quanto jurídica, de 0,8% m/m (totalizando R$ 3,26 trilhões) e de 0,6% m/m (totalizando R$ 2,1 trilhões) respectivamente. Por fim, na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, com avanço de 12,0% a/a ante 12,7% a/a em fevereiro, sinalizando a perda de dinamismo sem rupturas do setor. Este já é o décimo mês consecutivo de desaceleração na métrica anual, acumulando queda de 5,7 p.p. desde junho do último ano.
Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre voltou a se expandir, com variação de 0,6% m/m (totalizando R$ 1,81 trilhão), no entanto, na métrica anual, a tendência de desaceleração continua, com o avanço de 15,4% a/a ante 17,0% a/a no mês anterior. Destacaram-se as evoluções das carteiras de cartão de crédito total (1,8% m/m), aquisição de veículos (0,8% m/m), bem como as de crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público (0,4% m/m), e para aposentados e pensionistas do INSS (0,6% m/m). Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, que teve a maior contribuição para o avanço na margem (1,1% m/m), destaca-se a expansão da carteira de desconto de duplicatas (7,5% m/m), influenciada pela sazonalidade do período, bem como dos incrementos das carteiras de cartão de crédito total (19,1% m/m), e de adiantamentos de contratos de câmbio – ACC (5,6% m/m).
O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,191 trilhões em março, elevação de 0,6% m/m no mês e de 14,2% a/a (ante 14,4% em fevereiro). Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram variação de -0,3% m/m e de 7,3% a/a, atingindo R$ 735,76 bilhões. Dentre os destaques, recursos direcionados ao BNDES (-0,7% m/m) e Crédito Rural (-5,1% m/m) obtiveram as maiores contribuições negativas, sendo capazes de superar o avanço de Financiamentos Imobiliários (4,4% m/m). Nas operações com as famílias, o volume de crédito direcionado elevou-se 1,1% m/m e 18,0% a/a, totalizando R$ 1,455 trilhão, com crescimento do volume concentrado em Crédito Rural com Taxas de Mercado (4,4% m/m) e Financiamento Imobiliário (0,9% m/m).
Em linha com o forte ciclo de aperto monetário que se manteve em 2023, a taxa média de juros das operações de crédito voltou a acelerar em março, avançando para 31,6% a.a., ante 31,2% a.a. em fevereiro, com continuação da aceleração no quarto mês consecutivo para pessoas físicas (36,9% a.a., aumento de 0,5 p.p.) e volta de incremento para pessoas jurídicas (21,5% a.a., aumento de 0,3 p.p.) após uma forte queda no mês anterior. As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre acumularam alta de 7,04 p.p. nos últimos doze meses. Vale destacar que a taxa de juros do cartão de crédito rotativo subiu 13,1 p.p. em março, chegando a 430,5% a.a., maior taxa desde abr/17. No crédito livre para empresas, a taxa média ficou em 24,1% a.a. estável na margem, assim como para as famílias que se manteve em 58,3% a.a. (+2,6 p.p. em relação a dezembro).
No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem em aceleração. No crédito livre, a inadimplência das famílias renovou o patamar mais elevado desde out/16 ao avançar 0,1 p.p. e chegar a 6,2%, enquanto, para pessoas jurídicas, houve manutenção em 2,4%, maior taxa desde nov/19. Mesmo que ainda em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica na modalidade livre apresentou uma elevação de 0,72 p.p. nos últimos doze meses, enquanto para as famílias, a alta é de 1,35 p.p. no mesmo período.
Portanto, o mês de março demonstra que o cenário de desaceleração do mercado de crédito tem se mostrado gradativo e sem rupturas, aliada a uma deterioração das condições de crédito. Ainda que tenha havido avanços nas comparações mensais, ao avaliar a métrica anual fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com os saldos de concessões às pessoas físicas tendo doze desacelerações nos últimos treze meses e os saldos totais com dez consecutivas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração do perfil de crédito, tanto pelo aumento da inadimplência, que já está em patamares elevados e em aceleração, quanto pela piora na qualidade dessas concessões. Ainda que esteja há sete meses em desaceleração, o saldo de concessões de pessoas físicas em cartão de crédito rotativo segue apresentando expansão, sendo que esta modalidade apresenta taxa de juros anual recorde e em crescimento. Diante disso, acreditamos que o BC esteja em uma posição desafiadora, uma vez que o aumento da Selic para combater a inflação subjacente pode acelerar a deterioração dos parâmetros apresentados anteriormente, mas a sua diminuição pode descredibilizar a autoridade monetária. Assim, somada a uma percepção negativa acercado do Novo Arcabouço Fiscal apresentado até aqui que, em nossa visão, não será capaz de estabilizar a dívida pública, esperamos que a taxa básica de juros seja mantida em 13,75% a.a. por mais tempo, dando continuidade ao atual ritmo de desaceleração das concessões.