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Publicado em 05 de Janeiro às 15:07:55

Mercado de Crédito (nov/23): Saldo das concessões apresentou alta de 0,9% m/m

Em novembro, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão de 0,9% m/m, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 5,7 trilhões no mês. Este é resultado da combinação entre o aumento observado no saldo de crédito livre (1,0% m/m) e do avanço do saldo no crédito direcionado (0,7% m/m). No que diz respeito ao público, o desempenho no mês foi influenciado, principalmente, pela alta de 0,8 % m/m no saldo de crédito destinado às empresas, ao passo em que houve avanço de 0,9% m/m no crédito destinado às famílias.

Na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, em termos nominais, que registrou avanço de 7,1% a/a, ante 7,5% a/a no mês imediatamente anterior. Este foi o décimo primeiro resultado consecutivo de arrefecimento da métrica, sinalizando que segue em curso o processo de perda de dinamismo do mercado de crédito. Na nossa avaliação, o processo de desaceleração do mercado de crédito não aponta para rupturas neste mercado, visto que o ritmo de arrefecimento ocorre de maneira moderada, sugerindo que este movimento reflete os efeitos da política monetária contracionista sobre a evolução das carteiras de crédito nos últimos meses, sobretudo nas carteiras de crédito livre.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre apresentou avanço de 1,1% na passagem de outubro para novembro, ante aumento de 0,9% no mês imediatamente anterior. Na métrica interanual, a tendência de desaceleração desta modalidade continua, uma vez que o ritmo de alta saiu de 8,2% a/a para 8,0% a/a no mesmo período. No mês, o resultado pode ser explicado pela combinação entre as seguintes dinâmicas: elevação dos financiamentos para aquisição de veículos (1,8% m/m); expansão do crédito consignado para os aposentados e pensionistas do INSS (1,32% m/m); e crescimento da carteira de crédito total (1,1% m/m), em função do recuo observado na carteira de crédito rotativo (-3,3% m/m), e do crescimento do parcelado (4,9% m/m) e do à vista (3,6% m/m). Embora o resultado do mês tenha apontado para uma melhora no perfil de crédito livre das pessoas físicas, devido ao recuo na contratação do crédito na modalidade de crédito rotativo, avaliamos que, essa modalidade ainda se encontra em um patamar significativamente superior ao observado no período que precedeu a pandemia, sendo um fator de risco para a melhora dos indicadores de crédito nos próximos meses.

Já no crédito livre para as pessoas jurídicas, houve aumento de 0,9% m/m em novembro, ante queda de 1,7% observado no mês imediatamente anterior. Os destaques positivos foram: outros créditos livres (8,8% m/m), cartão de crédito (7,0% m/m) e desconto de duplicatas e outros recebíveis (4,2%). Em contrapartida, os destaques negativos ficaram com as contrações das carteiras de antecipação de faturas de cartão de crédito (-3,0%) e de financiamento de importações (-11,6%).

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,3 trilhões em novembro, elevação de 0,7% m/m no mês e de 10,2% a/a (ante 11,0% a/a em outubro). Por segmento, as operações contratadas com as empresas avançaram 0,7% m/m e 9,1% a/a, atingindo R$ 798,5 bilhões, com destaque para a carteira de crédito rural, que apresentou alta de 4,9% m/m. Por sua vez, o crédito direcionado para as pessoas físicas cresceu 0,6% m/m e 10,8% a/a, alcançando o patamar de R$ 1,5 trilhão, com destaque para a carteira de crédito rural com taxas de mercado (2,8% m/m) e financiamentos imobiliários com taxas reguladas (0,3% m/m).

A taxa média de juros das operações de crédito recuou 0,5 p.p. na passagem de outubro para novembro, atingindo o nível de 29,5% a.a., o sexto mês consecutivo de queda na taxa média de juros. Este resultado reflete a combinação entre a queda nas taxas cobradas para aplicações feitas por pessoas jurídicas (19,1% a.a, ante 19,7% a.a no mês anterior), ao passo em que foi registrado queda nas taxas cobradas para aplicações feitas pelas famílias (passou de 35,2% a.a para 24,7% a.a). As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre apresentaram queda de 0,8 p.p. em relação ao mês imediatamente anterior, alcançando o patamar de 41,8% a.a. Esse movimento foi determinado pela queda de 0,6 p.p nas taxas medias de juros para operações contratadas com pessoas jurídicas (22,2% a.a), ao passo em que houve recuo de 1,2 p.p nas taxas cobradas sobre a carteira das famílias (54,9% a.a).

No contexto de taxa de juros e inflação elevadas, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a inadimplência das famílias recuou 0,2 p.p. alcançando 5,7%, em linha com o lançamento do programa Desenrola Brasil que teve como foco inicial a extinção de dívidas de até R$ 100, enquanto para pessoas jurídicas, houve aceleração de 0,1 p.p. para 3,6%, a maior taxa desde julho de 2018.  Nesse sentido, o endividamento das famílias ficou em 47,6% em outubro, o patamar mais baixo desde setembro de 2021 (47,5%). Além disso, o comprometimento da renda apresentou a quarta queda consecutiva, atingindo 27,2% em outubro.

Na nossa avaliação, esse último dado aponta para a continuidade do cenário de desaceleração do mercado de crédito, entretanto, observamos que este processo tem se mostrado gradativo e sem rupturas. Analisando os dados na métrica anual, fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com as do saldo de concessões de crédito desacelerando desde junho de 2022 tanto para pessoas físicas quanto para empresas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração ocorrida nos últimos meses no perfil de crédito das famílias, tanto pelo aumento da inadimplência quanto pela composição da carteira de crédito, com destaque para o patamar significativamente elevado do saldo de crédito rotativo, que possui elevada taxa de inadimplência. Diante desse cenário, acreditamos que o Banco Central se encontre atualmente em uma posição desafiadora. Por um lado, as incertezas em relação à execução do arcabouço fiscal e a continuidade da desancoragem das expectativas de inflação para prazos mais longos demandam que a autarquia mantenha a política monetária em patamar restritivo por um período mais prolongado, constituindo, assim, um fator de risco relevante para a deterioração ainda maior dos parâmetros apresentados anteriormente, sobretudo a inadimplência. Em contrapartida, o ciclo de crédito deve se beneficiar de um cenário externo mais favorável em 2024, com uma maior convergência inflacionária entre os países abrindo espaço para um ciclo de afrouxamento monetário mais abrangente.

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