No mês, o saldo das concessões de crédito avançou 1,0% m/m, totalizando R$ 5,2 trilhões no período, após ter apresentado expansão de 1,8% m/m em setembro. Ademais, houve queda de 4,4% m/m nas concessões de crédito livre. Diferente do observado no mês anterior, em que houve aumento generalizado, o volume de concessão de crédito para as empresas (-0,1% m/m) recuou, enquanto para as famílias (1,8% m/m) apresentou expansão.
Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre atingiu R$ 1,7 trilhão em outubro, com crescimento disseminado entre as modalidades analisadas. Na série com ajuste sazonal, a expansão foi de 1,8% m/m e 20,9% a/a, com destaque para as operações de cartão de crédito (2,0%), em especial o rotativo (2,8%) e parcelado (3,5%), crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público (2,4%) e crédito pessoal não consignado (1,5%). Vale destacar que no mês de outubro, houve expansão de 328,7% das concessões de crédito consignado dos trabalhadores do setor privado como consequência direta das operações de crédito consignado atreladas ao Auxílio Brasil.
O crédito livre para as pessoas jurídicas recuou 0,4% m/m em outubro, totalizando R$ 1,4 trilhão, e expansão de 13,5% a/a na série com ajuste sazonal. Sobressaiu-se a redução das carteiras de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-7,0%) e repasses externos (-7,6%).
O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$2,1 trilhões em outubro, elevação de 1,3% no mês e de 13,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Por segmento, as operações contratadas com pessoa jurídica tiveram queda de 0,4% m/m e aumento de 4,9% em doze meses, atingindo R$724,5 bilhões. Nas operações com as famílias, o volume de crédito direcionado elevou-se em 1,4% no mês e 18,2% em doze meses, totalizando R$ 1,37 trilhão, com crescimento do volume concentrado em crédito rural com taxas reguladas (4,2%) e nos financiamentos imobiliários com taxas de mercado (1,0%).
Em linha com o forte ciclo de aperto monetário de 2022, as taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre voltaram a registrar avanço de 1,7 p.p. no mês, ficando em 42,4% a.a., de modo que, registraram um aumento de 10 p.p. nos últimos 12 meses.
No contexto de juros e inflação elevados, as taxas de inadimplência tiveram mais um mês de aceleração, sendo que nesse mês as altas foram homogêneas. No crédito livre, tanto a inadimplência das famílias quanto das empresas avançou 0,1 p.p. na passagem de setembro para outubro. Mesmo que ainda em um patamar historicamente baixo, a inadimplência de pessoa jurídica já teve aumento de 0,4 p.p. esse ano, atingindo 2,0% em outubro. Já, em relação às pessoas físicas, vemos uma aceleração maior, em 5,9% no mês, e com subida acumulada de 1,3 p.p. no ano, ultrapassando os patamares vistos no período pré-pandemia. Vale destacar que essa deterioração nos últimos meses reflete as dificuldades do cenário macroeconômico, sobretudo com o aperto monetário que é responsável por um significativo encarecimento do custo do crédito.
Diante de mais um avanço do saldo das concessões, parece que a política monetária ainda não conseguiu surtir total efeito no mercado de crédito, ainda que tenha havido a primeira desaceleração em quatro leituras, somada a uma maior queda do crédito livre. As taxas de crescimento para as famílias ainda são significativas, dando sinais de estabilidade em patamares mais elevados. A persistência do crédito livre para pessoas físicas ilustra a demanda ainda aquecida, sobretudo no consumo de serviços em um contexto de reabertura da economia ao longo de 2022. Assim, o atual contexto macroeconômico, com a melhora no mercado de trabalho (queda do desemprego e aumento da massa salarial) em conjunto com políticas fiscais expansionistas, em nossa visão, ajuda a explicar certa resiliência do mercado de crédito. O aumento generalizado da inadimplência já é mais um sinal de uma tendência que deve se agravar com a desaceleração econômica a partir do 4° trimestre de 2022, e que deve perdurar em 2023, refletindo os efeitos da política monetária contracionista. Acreditamos que as discussões em torno da expansão dos gastos do novo governo eleito elevaram significativamente o risco fiscal, aumentando a probabilidade de que o ciclo de aumento da Selic seja retomado, como forma de ancorar as expectativas de inflação. Este cenário adiciona um viés altista para o avanço da inadimplência tanto para as pessoas físicas quanto jurídicas.