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Publicado em 06 de Dezembro às 08:18:27

Mercado de Crédito (out/23): Estoque de crédito avança 0,1% na comparação mensal

Em outubro, o saldo das concessões de crédito apresentou expansão de 0,1% m/m, de modo que, o volume de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) totalizou R$ 5,6 trilhões no mês. Este é resultado da combinação entre o recuou observado no saldo de crédito livre (0,4% m/m) e do avanço do saldo no crédito direcionado (0,9% m/m). No que diz respeito ao público, o desempenho no mês foi influenciado, principalmente, pela queda de 0,8 % m/m no saldo de crédito destinado às empresas, ao passo em que houve avanço de 0,8% m/m no crédito destinado às famílias.

Na variação interanual, houve mais um mês de perda de fôlego do saldo total de concessões, em termos nominais, que registrou avanço de 7,3% a/a, ante 8,2% a/a no mês imediatamente anterior. Este foi o décimo resultado consecutivo de arrefecimento da métrica, sinalizando que segue em curso o processo de perda de dinamismo do mercado de crédito. Na nossa avaliação, o processo de desaceleração do mercado de crédito não aponta para rupturas neste mercado, visto que o ritmo de arrefecimento ocorre de maneira moderada, sugerindo que este movimento reflete os efeitos da política monetária contracionista sobre a evolução das carteiras de crédito nos últimos meses, sobretudo nas carteiras de crédito livre.

Para as pessoas físicas, o saldo de crédito livre apresentou avanço de 0,7% na passagem de setembro para outubro, ante estabilidade no mês imediatamente anterior. Na métrica interanual, a tendência de desaceleração desta modalidade continua, uma vez que o ritmo de alta saiu de 9,3% a/a para 8,0% a/a no mesmo período. No mês, o resultado pode ser explicado pela combinação entre as seguintes dinâmicas: elevação dos financiamentos para aquisição de veículos (1,26% m/m);  expansão do Crédito consignado para os aposentados e pensionistas do INSS (1,23% m/m); crescimento da carteira de Crédito consignado para trabalhadores do setor público ( 0,55% m/m); e crescimento da carteira de Crédito total (0,72% m/m), em função do recuo observado na carteira de crédito rotativo (-11,40% m/m), e ao crescimento do parcelado (10,22% m/m) e do à vista (1,62% m/m). Embora o resultado do mês tenha apontado para uma melhora no perfil de crédito livre das pessoas físicas, devido ao recuo na contratação do crédito na modalidade de crédito rotativo, avaliamos que, essa modalidade ainda se encontra em um patamar significativamente superior ao observado no período que precedeu a pandemia, sendo um fator de risco para a melhora dos indicadores de crédito nos próximos meses.

Já no crédito livre para as PJ, houve queda de 1,81% m/m, totalizando R$ 1,39 trilhão, ante crescimento de 2,1% observado no mês imediatamente anterior. Os destaques vão para as contrações das carteiras de Descontos de duplicatas e outros recebíveis (-7,85%), Antecipação de faturas de cartão de crédito (-1,57%) e de outros créditos livres (-1,61%). Em contrapartida, os destaques positivos foram: Repasse externo (1,8% m/m) e Aquisição de veículos (0,8%).

O volume de crédito com recursos direcionados alcançou R$ 2,3 trilhões em outubro, elevação de 0,9% m/m no mês e de 10,7% a/a (ante 11,0% a/a em setembro). Por segmento, as operações contratadas com as empresas avançaram 0,9% m/m e 9,06% a/a, atingindo R$ 788,6 bilhões, com destaque para a carteira de Crédito rural, que apresentou alta de 2,49% m/m, diante do início do Plano Safra com uma linha de financiamento recorde de R$ 363 bilhões, e da expansão de 0,85% m/m da carteira do BNDES. Por sua vez, o crédito direcionado para as pessoas físicas cresceu 0,82% m/m e 11,64% a/a, alcançando o patamar de R$ 1,5 trilhão, com destaque para a carteira de Crédito rural com taxas reguladas (0,6% m/m); Crédito rural com taxas de mercado (2,2% m/m) e Financiamentos imobiliários com taxas reguladas (0,3% m/m).

A taxa média de juros das operações de crédito recuou 0,8 p.p. na passagem de setembro para outubro, atingindo o nível de 29,7% a.a., o quinto mês consecutivo de queda na taxa média de juros. Este resultado reflete, a combinação entre a estabilidade nas taxas cobradas para aplicações feitas por pessoas jurídicas (19,7% a.a), ao passo em que foi registrado queda nas taxas cobradas para aplicações feitas pelas famílias (passou de 36,0% a.a. para 34,8% a.a.). As taxas cobradas pelas instituições financeiras no crédito livre apresentaram queda de 1,1 p.p. em relação ao mês imediatamente anterior, alcançando o patamar de 42,2% a.a. Esse movimento foi determinado pela estabilidade nas taxas médias de juros para operações contratadas com pessoas jurídicas (22,8% a.a.), ao passo em que houve recuo de 1,9 p.p. nas taxas cobradas sobre a carteira das famílias (55,4% a.a.). Vale destacar que tanto para as pessoas físicas quanto jurídicas as taxas de juros cobradas sobre a carteira de cartão de crédito rotativo ainda se encontram em um patamar significativamente elevado (431,6% a.a. e 194,4% a.a., respectivamente) e, dessa forma, constituem um importante fator de risco para a concretização de um cenário mais positivo no mercado de crédito.

No contexto de taxa de juros e inflação elevadas, as taxas de inadimplência (atrasos superiores a 90 dias) seguem se sustentando em um patamar historicamente elevado. No crédito livre, a inadimplência das famílias apresentou estabilidade, permanecendo em 5,9%, em linha com o lançamento do programa Desenrola Brasil que teve como foco inicial a extinção de dívidas de até R$ 100, enquanto para pessoas jurídicas, houve aceleração de 0,1 p.p. para 3,5%, a maior taxa desde jul/18.  Nesse sentido, o endividamento das famílias ficou em 47,7% em setembro, o patamar mais baixo desde setembro de 2021 (47,7%). Em 12 meses, a queda foi de 1,8 p.p. Além disso, o comprometimento da renda apresentou a terceira queda consecutiva, atingindo 27,4% em setembro.

Na nossa avaliação, o mês de outubro aponta para a continuidade do cenário de desaceleração do mercado de crédito, entretanto, observamos que este processo tem se mostrado gradativo e sem rupturas. Analisando os dados na métrica anual, fica clara a perda de fôlego nas principais aberturas, com as do saldo de concessões de crédito desacelerando desde jun/22 tanto para pessoas físicas quanto para empresas. É importante ressaltar, além disso, a deterioração ocorrida nos últimos meses no perfil de crédito das famílias, tanto pelo aumento da inadimplência quanto pela composição da carteira de crédito, com destaque para o patamar significativamente elevado do saldo de crédito rotativo, que possui elevada taxa de inadimplência. Diante desse cenário, acreditamos que o BC se encontre atualmente em uma posição desafiadora. Por um lado, a deterioração do cenário externo, as incertezas em relação à execução do arcabouço fiscal e a desancoragem das expectativas de inflação mais longas, demandam que a autarquia mantenha a política monetária em patamar restritivo por um período mais prolongado, constituindo, assim, um fator de risco relevante para a deterioração ainda maior dos parâmetros apresentados anteriormente, sobretudo a inadimplência. Em contrapartida, uma mudança abrupta na condução da política monetária, pode descredibilizar o Banco Central em um cenário adverso no que diz respeito à dinâmica de preços da economia, principalmente dos grupos de maior inércia inflacionária.

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