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Publicado em 24 de Janeiro às 11:23:05

Monitor de Atividade: Ômicron supera o número de casos observados em jun/21

Resumo: O IAG recuou tanto em sua variação diária quanto na média móvel de 7 dias. Com este resultado, o índice se encontra 6,6 p.p. acima do nível pré-covid e teve baixa de 1,2 p.p. em relação ao número observado há 7 dias. Os indicadores que compõem o IAG tiveram resultados mistos. Por um lado, o consumo de energia e a mobilidade urbana (a pé e transporte público) avançaram em relação à nossa última leitura. Em contrapartida, os demais indicadores seguem em trajetória de queda.

Indicadores de Atividade Econômica

No mês de novembro, com exceção da indústria, os indicadores de atividade apresentaram resultados positivos, surpreendendo o mercado para cima do consenso das projeções. Em particular, o destaque no mês vai para o desempenho do setor de serviços que avançou 2,4% m/m em relação ao mês de outubro. A projeção mediana de mercado era de avanço próximo à estabilidade de 0,1% m/m. Nossa avaliação é que a atividade econômica segue sendo afetada pelos desarranjos nas cadeias globais de produção e pela elevada inflação. Entretanto, acreditamos que o setor de serviços seguirá apresentando resultado positivo no último trimestre devido ao arrefecimento da pandemia.

Por um lado, a indústria recuou -0,2% m/m em novembro, surpreendendo negativamente o mercado que aguardava um leve avanço de 0,2% m/m no mês por conta da recuperação da produção automobilística e da baixa base de comparação no período. Com este resultado, a indústria acumula a sexta baixa consecutiva com perda acumulada de 4% no período. Este resultado, segue mostrando que o setor industrial ainda enfrenta muitas dificuldades devido aos gargalos nas cadeias globais de produção, elevação dos custos e a uma demanda que não vem se realizando devido ao elevado processo inflacionário. Esses fatores prejudicam as vendas e as expectativas. Nesse sentido, nossa perspectiva é que o setor seguirá apresentando resultados próximos da estabilidade devido ao efeito-base das sucessivas quedas e dos desafios que o setor segue enfrentando em 2022.

No sentido contrário, observamos um avanço de 0,6% m/m do varejo no mesmo período, resultado melhor que a projeção mediana do mercado de estabilidade (Broadcast). Um ponto de destaque foram as revisões nos resultados dos meses anteriores que fizeram com que o setor acumulasse uma contração menos intensa que passou de -5,3% para -4,8%. Embora o varejo tenha apresentado um resultado positivo no mês, cinco das oito atividades pesquisadas recuaram. O avanço observado no mês se deve ao bom desempenho do segmento de hipermercados e supermercados, o maior grupo do índice, que teve alta de 0,9% m/m. Já o volume de vendas no varejo ampliado (inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção) avançou 0,5% m/m, resultado melhor que o esperado pelo mercado (-0,6% m/m). Isso se deve ao bom desempenho das vendas de veículos (0,7% m/m) e material de construção (0,8% m/m). Embora ambas medidas de desempenho do comércio tenham aumentado no mês, o avanço da receita nominal do setor foi superior ao resultado do volume de vendas, ou seja, indicando que a elevada inflação segue impactando o desempenho do setor. Nossa avaliação é que o elevado nível de preços, a transição do consumo de bens para serviços e o avanço da variante Ômicron impõem um viés negativo para o setor nos próximos meses. 

O principal destaque no mês vai para o setor de serviços que surpreendeu o mercado com o forte avanço de 2,4% m/m em novembro. Além disso, as revisões nos dados dos dois meses anteriores fizeram com que o setor acumulasse uma contração mais intensa que passou de -1,9% para -2,2%. Os avanços foram bastante disseminados no mês, visto que quatro das cinco atividades investigadas tiveram resultados positivos. Este cenário contrasta com os números observados nos meses anteriores, com rum recuo mais disseminado entre os grupos. Os serviços prestados às famílias, segmento bastante afetado pela pandemia, seguiu em recuperação ao avançar 2,8% m/m, o oitavo avanço consecutivo. Entretanto, o setor segue 11,8% abaixo do nível observado no pré-covid e deve continuar a ser o direcionador de crescimento do setor nos próximos meses. Nesse contexto, diante da trajetória de arrefecimento do número de óbitos por Covid, acreditamos que as perspectivas para o setor nos próximos meses são positivas, principalmente, por conta da normalização dos setores que ainda se encontram abaixo do nível pré-pandemia. Nossa avaliação é que o setor de serviços será o principal driver de crescimento da economia brasileira no ano de 2022.

Por fim, tivemos a divulgação do índice de atividade do Banco Central (IBC-BR) que, diante das surpresas positivas nos setores de varejo e serviços, avançou 0,69% m/m em novembro, ficando em linha com a expectativa mediana de mercado. Com este resultado, o carrego estatístico para o 4º trimestre é de -0,33%, ou seja, caso a atividade se mantenha neste patamar em dezembro, teremos uma queda trimestral dessa magnitude nos últimos 3 meses do ano. Diante da surpresa positiva dos setores de varejo e serviços, nossa projeção preliminar aponta para um crescimento do PIB do quarto trimestre de 0,2% t/t, ante 0% t/t, de modo que, em 2021 devemos ter um crescimento de 4,7% a/a.

Pandemia e Vacinação

Na última semana, o total de doses aplicadas alcançou o patamar de 306,7 milhões, ante 303,5 milhões em nossa leitura anterior. Com isso, o percentual da população vacinada com pelo menos uma dose alcançou o patamar de 77% da população total brasileira, um aumento de 0,4 p.p. Por sua vez, a média móvel (MM7D) de doses aplicadas apresentou leve avanço ao passar de 335,2 mil para 460,1 mil. Acreditamos que o significativo aumento no número de doses aplicadas reflete o fim do efeito calendário de fim de ano e da vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Ademais, o percentual da população com esquema vacinal completo alcançou o patamar de 70,2% da população, um aumento de 1,1 p.p. em relação à semana anterior.

No que diz respeito ao avanço da pandemia no Brasil, na última semana observamos uma significativa piora do quadro da pandemia com um novo recorde na média móvel de novos casos. Em 7 dias a MM7D de novos casos saiu de 68021 para 136246, um aumento de mais de 100% neste indicador. Em contrapartida, o número de óbitos, embora tenha aumentado nos últimos dias ao sair de 147 para 280, não tem apresentado uma trajetória explosiva assim como o número de casos. Se comparado ao recrudescimento da pandemia observado no primeiro semestre de 2021, o pico de novos casos (MM7D) foi de 78663, enquanto isso, na mesma data, a média móvel de óbitos se encontrava no patamar próximo de 2000. Na mesma direção, o Estado de São Paulo apresentou piora nos indicadores da pandemia, visto que o número de novas internações saiu de 1099 para 1429, enquanto o número de internados em leito de UTI saiu de 2365 para 3322. Diante desses fatos, nossa avaliação é que, embora a variante Ômicron seja mais transmissível que as anteriores, por conta dos indícios de menor grau de severidade e da ampla disponibilidade de vacinas, o número de óbitos não deve apresentar uma trajetória explosiva como observado no número de novos casos.

Ademais, o Reino Unido, um dos primeiros países a ser atingidos pela onda causada pela Ômicron, começa apresentar sinais de arrefecimento da pandemia. A média móvel de 7 dias de novos casos apresenta uma forte trajetória de queda, desde o pico alcançado há duas semanas. Em contrapartida, ainda não observamos a mesma tendência para o número de novos óbitos, o qual, desde o início dessa nova onda, não apresentou sinais de aceleração explosiva e se encontra estável em relação ao número da última semana. Este fato corrobora com os estudos que apontam para um menor grau de severidade se comparado a variantes anteriores.

Nesse contexto, nossa avaliação é que o recrudescimento da pandemia no Brasil por conta da nova variante acende um alerta por conta do ainda inicial processo de vacinação com doses de reforço, que segundo estudos se mostra fundamental para mitigar os efeitos dessa cepa. Portanto, acreditamos que em face ao forte aumento do número de casos, o risco de sobrecarga do sistema de saúde não pode ser descartado, tampouco o risco de adoção de novas ou prolongamento das atuais medidas restritivas como forma de conter este avanço devem ser desconsideradas.

Agenda da Semana

Frequência Mensal – Indústria

Indústria: Na última semana foi divulgado o consumo de cimento. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), em dezembro, a produção de cimento avançou 6,5% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior. O resultado no ano foi puxado pela autoconstrução, obras imobiliárias e início de recuperação da infraestrutura, permitindo que o mercado de cimento retornasse ao patamar de 2015. Entretanto, para 2022 a projeção é leve expansão de 0,5% do setor diante do cenário adverso para o setor de elevada inflação, ciclo de alta de juros, elevado nível de desemprego e de endividamento das famílias.   

Setor de Serviços

Serviços: Não houve divulgações na última semana.

Setor de Varejo

Varejo: Na última semana foram divulgados os dados do índice Serasa Experian e de Faturamento da CIELO referentes ao mês de dezembro. Por um lado, o indicador de atividade do comércio da Serasa apontou para um leve recuo no mês de dezembro, rompendo com a sequência de três resultados positivos consecutivos. Em contrapartida, o indicador de faturamento do varejo apontou para um avanço de 1,3% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior, acelerando 0,1 p.p. em comparação ao resultado do mês anterior. Nossa avaliação é que o setor deve apresentar um desempenho similar ao observado no mês de novembro, sendo impulsionado pelas vendas de fim de ano que se beneficiarão do cenário de menor restrição social diante do arrefecimento da pandemia.

Demais Indicadores

Demais Indicadores: Na última semana tivemos a divulgação do Índice de Atividade do Banco Central referente ao mês de novembro. Nesse sentido, o indicador ficou em linha com a expectativa do mercado ao avançar 0,7% m/m, refletindo os avanços dos indicadores setoriais do varejo e, principalmente, de serviços. Com o resultado do mês, o IBC-Br encontra-se 0,7% abaixo do nível observado no período pré-pandemia e deixa um carrego estatístico para o 4º trimestre do ano de -0,33%.

Mercado de Trabalho

Mercado de Trabalho: Na próxima semana teremos a divulgação dos dados da PNAD contínua do trimestre encerrado em novembro e de emprego formal (Caged) do mês de dezembro. Nesse sentido, devido à continuidade do arrefecimento da pandemia, que beneficia o setor de serviços, e dos resultados positivos do Caged e do IBC-Br no período, nossas projeções apontam para um recuo da taxa de desemprego de 0,5 p.p., alcançando o patamar de 11,6% no trimestre encerrado em novembro. Em contrapartida, devido à sazonalidade histórica que marca o mês de dezembro com o encerramento de contratos temporários, há um substancial aumento das demissões. Nesse contexto, nossas projeções apontam para um saldo negativo de 150 mil vagas de emprego formal no período, de modo que, no ano o resultado acumulado será de geração líquida de um pouco menos de 3 milhões de vagas de trabalho formal.

Sobre o IAG

O Índice de Atividade da Genial (IAG) é um indicador de frequência diária que tem como objetivo monitorar o ritmo de recuperação da atividade econômica brasileira.

Esse índice diário não se propõe a ser uma proxy do PIB, ou seja, não substitui o modelo de projeção de PIB da Genial (o qual inclui muitas outras variáveis econômicas de frequência mensal).  Dessa forma, um indicador não substitui o outro, são duas formas complementares de acompanhar a retomada do nível de atividade. O IAG tem frequência diária e se propõe a acompanhar a evolução da velocidade da retomada da atividade no dia a dia, enquanto a nossa projeção de PIB dá uma ideia do cenário como um todo, e é calibrado para gerar estimativas para os trimestres à frente.

O IAG tem alta correlação com índices mensais de atividade e possui alto poder preditivo sobre as variações mensais do IBC-BR (indicador mensal de atividade divulgado pelo Bacen).

O IAG é construído por uma média ponderada dos seguintes dados de frequência diária: consumo de energia elétrica, indicadores de mobilidade urbana da Apple, emissão de notas fiscais eletrônicas no estado do Rio Grande do Sul e número de voos diários no Brasil.[1]

O índice é construído de forma que toma o valor de 100 para o nível de atividade médio antes do surto de COVID-19 (entre 1º de janeiro e 15 de março). Dessa forma, o IAG representa o nível de atividade corrente em relação ao período pré-surto.


[1] Os valores defasados do IAG podem mudar em decorrência de alterações na divulgação de dados da Apple, ONS, Fenabrave ou Air Radar. É natural que haja revisão de dados das fontes citadas, por isso o IAG defasado pode ter alterações. Também pode haver alterações devido a divergências no horário de divulgação dessas diferentes fontes. Contudo as alterações tendem a ser pequenas, de forma que não influenciam a tendência 10-15 dias do índice.

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