Em fevereiro, o setor de serviços recuou 0,2% na comparação com janeiro, pior que a expectativa mediana do mercado que aguardava um avanço de 0,7% (Broadcast), ficando abaixo do piso das projeções (0,3%). Na comparação interanual, houve crescimento de 7,4% a/a (resultado influenciado pela base de comparação baixa).
Além do crescimento abaixo da expectativa em fevereiro, tivemos forte revisão no mês anterior por conta do novo modelo de ajuste sazonal do IBGE. Em janeiro, os serviços passaram de -0,1% m/m para -1,8% m/m. Com isso, o setor acumula perda de 2,0% no primeiro bimestre de 2022. Para o primeiro trimestre do ano, o carrego estatístico é de 0,4%.
O setor de serviços apresenta desaceleração no início de 2022, porém o desempenho dos setores é bastante heterogêneo. Por um lado, vemos desempenho positivo nos serviços de transporte, principalmente, no terrestre com destaque para o transporte rodoviário e ferroviário. Esse setor vem apresentando bom desempenho com o aumento do comércio eletrônico e por conta do escoamento de produtos agrícolas. Além disso, outro setor que vem apresentando bons resultados é dos serviços profissionais e administrativos.
Por outro lado, vemos desaceleração no setor de informação e comunicação além dos outros serviços (que apresentam diversas atividades com caráter presencial). Com a aceleração inflacionária, o poder de consumo das famílias foi negativamente afetado e atividades menos prioritárias nos orçamentos familiares, naturalmente, são afetadas. Serviços de telecomunicação estão apresentando rápida desaceleração. Além disso, as empresas, após forte período de investimentos em serviços de TI, decidiram investir menos em informação e comunicação nesse primeiro bimestre do ano.
Em relação ao resultado de fevereiro, o principal impacto negativo no mês advém do setor de informação e comunicação (-1,2% m/m). Esse segmento vinha apresentando boa recuperação desde 2018, sendo momentaneamente interrompida pela pandemia, que logo em seguida proporcionou forte impulso para o setor. Analisando a composição do grupo, podemos identificar que esse segmento vem sendo puxado pelos serviços de tecnologia da informação, que foi muito influenciado pelo investimento em TI pelas empresas (está 41% acima do nível pré pandemia). Enquanto isso, a atividade de telecomunicações se encontra no menor patamar da série histórica e 9,0% abaixo do nível pré pandemia.
Outros serviços recuaram 0,9% e serviços prestados às famílias avançaram 0,1%. O que puxou a queda dos Outros serviços foi o segmento de coleta de resíduos não perigosos. Os serviços prestados as famílias, que são atividades predominantemente presenciais, estão 14,1% abaixo do nível pré pandemia, possuindo ainda espaço para normalização do setor, porém vem sofrendo com a aceleração inflacionária recente.
Em suma, o setor de serviços perdeu fôlego nesse primeiro bimestre de 2022, com destaque para atividades de informação e comunicação. Vemos estabilidade em setores com fortes características de contato presencial (outros serviços e serviços prestados as famílias), porém contrabalanceado pelos bons desempenhos dos serviços profissionais e de transporte. A inflação vem sendo determinante nessa tendência, e seu arrefecimento impactará positivamente o orçamento das famílias e o crescimento do setor.
Apesar da política monetária contracionista, em 2022, projetamos crescimento de 1,1%, em um cenário de normalização de segmentos do setor de serviços, elevação dos preços das commodities e estímulo fiscal por meio dos entes subnacionais (elevado caixa) e por parte do governo federal com redução de impostos e liberação de pacotes de estímulo como o FGTS. A injeção de R$30 bilhões na economia via saque do FGTS pode elevar o PIB em 0,3 p.p.