Tivemos revisões mistas no crescimento nos últimos trimestres por parte do IBGE. A atividade no 2º trimestre de 2023 foi de 0,9% t/t para 0,7% t/t, no 3º trimestre de 2023 ficou em 0,1% t/t, no 4º trimestre de 2023 saiu de -0,1% t/t para 0,2% t/t, e no 1º trimestre de 2024 avançou de 0,8% t/t para 1,0% t/t. Com o resultado do 2º trimestre de 2024 e as revisões das últimas leituras, o PIB opera 9,9% acima do patamar observado antes da pandemia (4T/19) e deixa um carrego estatístico de 2,5% para o ano de 2024.
O destaque negativo ficou por conta da dinâmica da balança comercial que teve como composição a forte expansão das importações (7,6% t/t) e uma ligeira alta das exportações (1,4% t/t), de modo que, o saldo líquido teve contribuição negativa para o crescimento pela ótica da demanda no segundo trimestre. Na nossa avaliação, esse desempenho reflete a combinação entre a contribuição negativa da agropecuária no período, que foi um importante fator de contribuição para o avanço das exportações no último ano, e da demanda interna resiliente com significativas expansões no consumo doméstico e dos investimentos, que vem sendo responsável por impulsionar as importações.
Pela ótica da oferta, os destaques positivos ficaram por conta da indústria (1,8% t/t e 3,9% a/a) e dos serviços (1,0% t/t e 3,5% a/a). O primeiro reverteu a contação de 0,1% t/t registrada no trimestre imediatamente anterior, de modo que, alcançou o patamar mais elevado desde jun/15, derivado da alta de 3 dos 4 subsetores que compõem o setor, com destaque para a construção civil (3,5% t/t) e da produção e distribuição de eletricidade, gás e água (4,2% t/t). Por sua vez, o setor de serviços deu continuidade à sequência de 15 altas acumuladas nos meses imediatamente anteriores, de modo que, alcançou o patamar mais elevado já registrado na série histórica e reflete as altas bastante disseminadas entre as atividades que compõem o grupo. Cabe destacar que, apesar da base de comparação já elevada, o setor segue apresentando um bom desempenho, sugerindo que a atividade econômica segue se beneficiando de um mercado de trabalho bastante resiliente, da expansão das políticas de impulso à demanda, da melhora dos indicadores de crédito e de inflação. Em contrapartida, o desempenho negativo ficou por conta da agropecuária (-2,3% t/t e -2,9% a/a), refletindo tanto a base de comparação elevada do último ano, decorrente da supersafra de grãos do período, e das condições climáticas adversas que prejudicaram o desempenho do setor no ao longo do segundo trimestre.
A taxa de investimento como proporção do PIB ficou praticamente estável ao sair de 16,9% no primeiro trimestre de 2024 para 16,8% no segundo trimestre de 2024, de modo que, a sua média móvel de quatro trimestres também ficou estável em 16,6% do PIB. Na nossa avaliação, o crescente risco de retomada do ciclo de aperto monetário por parte do BC nos próximos meses é um ponto de atenção importante para a dinâmica dos investimentos nos próximos meses, portanto, avaliamos que a recuperação observada ao longo do primeiro semestre deve ser interpretada com uma certa cautela. Por sua vez, a taxa de poupança saiu de 16,2% para 16,0% do PIB na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2024, sugerindo que, assim como nos trimestres anteriores, parte do forte desempenho do consumo doméstico decorreu de um movimento de despoupança, visto a média móvel de quatro trimestres da poupança segue em trajetória de queda por 6 trimestres consecutivos.
Avaliamos que apesar das enchentes no Rio Grande do Sul, o PIB do segundo trimestre apresentou forte ritmo de expansão em relação ao trimestre imediatamente anterior, sugerindo que a tragédia não deve ter impacto negativo sobre o ritmo de expansão do PIB em 2024. Com o resultado divulgado hoje, revisamos preliminarmente nossa projeção de crescimento para o ano de 2,6% do PIB para 2,9% do PIB. Este número reflete nossa expectativa de que o consumo doméstico seguirá atuando como principal driver de crescimento do ano, fato que vem sendo confirmado pelos números do mercado de trabalho, que apontam para um desempenho robusto no início do segundo semestre. Vale ressaltar que se por um lado o bom desempenho da atividade econômica tende a ser um fator positivo para o desempenho fiscal brasileiro através do aumento da arrecadação, por outro, acende um sinal de alerta para o Banco Central, visto que o aquecimento da demanda doméstica se mostra um importante fator de risco altista para a inflação no segundo semestre.