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Publicado em 01 de Setembro às 15:26:35

PIB (2ºtri/2023): PIB surpreende o mercado com avanço disseminado entre as aberturas

O PIB registrou alta de 0,9% t/t, no segundo trimestre de 2023 comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal, o oitavo resultado positivo consecutivo nesta comparação. O número veio significativamente melhor que a estimativa mediana de mercado de 0,3% t/t. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a expansão foi de 3,4% a/a, resultado que também superou a mediana das projeções do mercado, que apontava para expansão de 2,7% a/a. Na nossa avaliação, o bom desempenho da atividade econômica no trimestre refletiu as surpresas positivas em todos os setores pela ótica da oferta, sobretudo serviços e a indústria, ao passo em que pela ótica da demanda a surpresa ficou pelo avanço mais significativo da abertura de consumo das famílias.

Tivemos revisões mistas no crescimento nos últimos trimestres. A atividade no 2º trimestre de 2022 foi de 1,1% t/t para 1,0% t/t, no 3º trimestre de 2022 passou de 0,5% t/t para 0,4% t/t, no 4º trimestre de 2022 saiu de -0,1% t/t para 0,1% t/t, e no 1º trimestre de 2023 recuou de 1,9% t/t para 1,8% t/t. Com o resultado divulgado do segundo trimestre e as revisões mistas das últimas leituras, o PIB acumulou alta de 3,7% no primeiro semestre de 2023, operando 7,4% acima do patamar observado antes da pandemia e deixa um carrego estatístico de 3,1% para o crescimento do ano.

Pela ótica da oferta, tivemos surpresas positivas nos três grandes setores pesquisados. O grande destaque ficou por conta do setor de serviços, que responde por cerca de 70% da economia, ao avançar 0,6% t/t, alcançando o nível mais elevado da série histórica ao repetir o ritmo de expansão observado no trimestre imediatamente anterior. Este desempenho foi reflexo dos resultados positivos observados nos seguintes grupos: Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3% t/t); Outras atividades de serviços (1,3% t/t); Transporte, armazenagem e correio (0,9% t/t), que tem se beneficiado do spill over positivo do bom momento da agropecuária e expansão do ­e-commerce desde o início da pandemia; Informação e comunicação (0,7% t/t); e Atividades imobiliárias (0,5% t/t). Por sua vez, a Indústria registrou expansão de 0,9% t/t, refletindo os desempenhos positivos das Indústrias Extrativas (1,8% t/t), com destaque para a extração de petróleo e gás e a de minério de ferro, ligados à pauta de exportação; da Construção (0,7% t/t), devido à expansão de gastos de governos municipais; Eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (0,4% t/t); e das Indústrias de transformação (0,3% t/t). Vale destacar que o desempenho mais lateralizados das Indústrias de transformação reflete os efeitos do cenário macroeconômico adverso, marcado por uma política monetária ainda significativamente restritiva. Por fim, embora a Agropecuária tenha registrado contração de 0,9% t/t em relação ao primeiro trimestre do ano, vale destacar que a retração do setor vem após um expressivo avanço de 21,0% t/t no primeiro trimestre, derivado de uma supersafra de soja que é concentrada neste período. Dessa forma, devido ao efeito base elevado do primeiro trimestre, o desempenho do setor se mostrou negativo no segundo trimestre.

Na ótica da demanda, as surpresas positivas ficaram por conta do desempenho do Consumo das famílias e do Governo que avançaram 0,9 t/t e 0,7% t/t, respectivamente. Com este resultado, ambas aberturas atingiram o patamar mais elevado de suas séries históricas. Primeiramente, o desempenho mais positivo do Consumo das famílias reflete, na nossa avaliação, a combinação entre um desempenho mais positivo do mercado de trabalho e expansão dos programas de transferência de renda (Bolsa Família). Por sua vez, o bom desempenho do Consumo do governo reflete os efeitos dos maiores gastos com a saúde pública, em linha com a expansão de despesas aprovadas com a PEC de Transição, e um maior volume de obras municipais, diante da proximidade das eleições regionais no próximo ano. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), refletindo a queda da produção doméstica de bens de capital, sobretudo de máquinas e equipamentos, devido ao atual ciclo de aperto monetário. Por fim, o setor externo contribuiu negativamente para o desempenho do PIB no segundo trimestre, visto que as Importações se expandiram em um ritmo mais acelerado (4,5% t/t) do que as Exportações (2,9% t/t), reforçando a visão de melhora da demanda doméstica no período.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB registrou alta de 3,4% a/a, refletindo o forte avanço da Agropecuária (17,0% a/a), resultante do bom desempenho da lavoura nesse segundo trimestre, sobretudo da soja (24,5% a/a), milho (13,7% a/a), algodão (10,2% a/a) e café (5,3% a/a). Por sua vez, os Serviços avançaram 2,3% a/a, tendo como destaque o bom desempenho de Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (6,9% a/a); Informação e comunicação (3,8% a/a); Transporte, armazenagem e correio (3,4% a/a); Atividades imobiliárias (2,8% a/a); e Outras atividades de serviços (2,4% a/a). Já a Indústria, registrou alta de 1,5% a/a, devido ao bom desempenho das Indústrias extrativas (8,8% a/a), em decorrência do aumento da extração de petróleo e gás e de minérios ferrosos; a Atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,8% a/a), refletindo o consumo residencial de energia e pela melhora das bandeiras tarifárias. Em contrapartida, a Indústria de transformação registrou a segunda queda consecutiva (-1,7% a/a), refletindo os recuos observados na fabricação de produtos químicos, máquinas e equipamentos, produtos de maneira e aparelhos eletrônicos, em linha com o cenário macroeconômico adverso marcado por uma política monetária significativamente contracionista.  Por fim, a taxa de investimento como proporção do PIB saiu de 18,3% no segundo trimestre de 2022 para 17,2% do PIB, dando sequência a trajetória de desaceleração que pode ser observada desde o terceiro trimestre de 2022, sinalizando que   o ciclo de aperto monetário combinado com o elevado grau de incerteza presente na economia brasileira vem impactando a decisão de investimento dos empresários.

Nossa avaliação é que a leitura do PIB do 2º trimestre surpreendeu positivamente o mercado tanto por sua magnitude acima do consenso quanto pelas altas que se mostraram disseminadas entre as aberturas pelas óticas da oferta e da demanda. Vale destacar que apesar da contração da Agropecuária no segundo trimestre, avaliamos que o setor vem apresentando resultados acima do esperado, sinalizando que os próximos trimestres também podem ser marcados por surpresas altistas desta abertura. Além disso, a leitura do segundo trimestre também apontou para um bom desempenho dos setores mais sensíveis a alta de juros, cujo desempenho reflete a resiliência do mercado de trabalho e a expansão das políticas de transferência de renda, que limitam os efeitos contracionistas da política monetária sobre a economia. Em contrapartida, sinais negativos podem ser observados nos indicadores de investimento (FBKF) e na taxa de investimento como proporção do PIB. Na nossa avaliação, a combinação entre um ciclo de política monetária contracionista e um ambiente de elevação das incertezas políticas/jurídicas atuam como importantes fatores limitadores para os efeitos positivos das reformas aprovadas nos últimos anos sobre os investimentos.

Dessa forma, avaliamos que o resultado mais positivo da atividade no segundo trimestre deve atuar como um fator limitante para a aceleração do ritmo de afrouxamento monetário iniciado no último mês pelo Banco Central, sob o risco de que uma atividade mais resiliente sustente os componentes mais inerciais da inflação em um patamar incompatível com o cumprimento da meta. Dessa forma, mantemos nossa visão de que a taxa Selic deva encerrar o ano em 11,75% a.a., ao passo em que revisamos nossa projeção de crescimento da economia de 2,0% para 2,5% em 2023. Para 2024, nossa estimativa de crescimento saiu de 0,7% para 1,0%, refletindo os efeitos de um maior carrego estatístico para o próximo ano e do ciclo de flexibilização da política monetária.

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