O PIB recuou 0,1% no terceiro trimestre desse ano, comparado ao segundo trimestre, na série com ajuste sazonal. O resultado veio pior que o projetado pelo mercado, que aguardava avanço de 0,1%. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, o PIB avançou 4,0% a/a. No ano, o PIB apresenta crescimento de 5,7%. O resultado no trimestre foi influenciado pela queda do setor agropecuário e das exportações de bens e serviços.
Tivemos algumas revisões na série do PIB. A atividade no 1º trimestre de 2021 passou de 1,2% para 1,3% e no 2º trimestre de -0,1% para -0,4%. Além disso, em 2020, a economia contraiu menos, passando de -4,1% para -3,9%. Com o resultado do último trimestre e com a revisão da série, o PIB se mantém em nível próximo ao pré pandemia (-0,1% em relação ao 4º tri de 2019), porém ainda está 3,4% abaixo do nível mais alto da série (1º tri de 2014).
Apesar do recuo no trimestre, o resultado foi impactado pela forte contração do setor agropecuário, que recuou -8,0% t/t (em relação ao 2º tri de 2021). Por outro lado, o setor de serviços apresentou crescimento de 1,1% t/t. Já a indústria se manteve estável na passagem do segundo para o terceiro trimestre.
Pela ótica da demanda os resultados foram: Formação Bruta de Capital Fixo (-0,1% t/t), a Despesa de Consumo das Famílias (0,9% t/t), a Despesa de Consumo do Governo (0,8% t/t), Exportações (-9,8% t/t) e Importações (-8,3% t/t).
Destaques
Entre os destaques negativos no terceiro trimestre temos: o setor agropecuário (-8,0% t/t), que vem sendo impactado pelos eventos climáticos negativos; a indústria de transformação (-1,0%), que passa por escassez de componentes e matéria prima; e o comércio (-0,4%), impactado pela aceleração inflacionário recente. Já os destaques positivos vão para o setor de serviços (1,1%), em especial para o grupo outros serviços (4,4%) e serviços de informação (2,4%). O setor de serviços vem sendo impulsionado pelo arrefecimento da pandemia, que permite o deslocamento do consumo de bens para serviços na economia.
Diante de um cenário climático adverso, a agropecuária recuou -8,0% t/t e -9,0% a/a. A queda foi influenciada pelo encerramento da safra de soja. Além disso, outras importantes safras também apresentaram desempenho negativo: milho recuou 16% a/a, café (-22,4% a/a) e algodão (-17,5% a/a). O setor agropecuário também acabou influenciando as exportações, uma vez que muitos produtores anteciparam seus embarques de soja para o primeiro semestre do ano.
A indústria se manteve estável no terceiro trimestre em relação ao segundo e apresentou crescimento interanual de 1,3% a/a. O avanço da construção civil (3,9% t/t) conseguiu compensar as quedas na indústria extrativa (-0,4% t/t), na de transformação (-1,0%) e na produção e distribuição de energia, gás e água (-1,1%). O encarecimento dos insumos, a escassez de componentes e de matéria-prima, além da crise energética vem afetando negativamente o setor industrial, em especial a indústria de transformação.
O setor de serviços (1,1% t/t e 5,8% a/a) foi impactado pelo grupo outros serviços (4,4%), que reúnem diversos serviços prestados às famílias. Houve avanço em quatro das sete atividades no setor de serviços. Além dos outros serviços, tivemos avanço nos serviços de informação (2,4%), transporte (1,2%) e administração, defesa e saúde (0,8%). O setor imobiliário se manteve estável e houve recuo apenas no setor de comércio (-0,4%) e atividades financeiras (-0,5%). A queda nos serviços financeiros, por sua vez, se deve ao aumento dos sinistros de planos de saúde.
Na ótica da demanda, o maior impacto veio do consumo das famílias (0,6 p.p.), diante do aumento da mobilidade, em seguida tivemos a contribuição positiva do consumo do governo (0,1 p.p.), impulsionado pelos gastos com saúde pública e vacinação. Além disso, havia expectativa por forte recuo dos investimentos (FBKF), que ao invés disso permaneceram constantes no último trimestre. A estabilidade dos investimentos pode ser explicada em parte pelo forte avanço do setor de construção civil no 3º trimestre. Em suma, nossa avaliação é que, mesmo com o PIB vindo pior que o esperado pelo mercado, a composição foi melhor, uma vez que a queda foi muito concentrada no setor agropecuário e tivemos bons resultados para o setor de serviços, construção civil e para taxa de investimento (19,4%, maior nível para o 3º trimestre desde 2014). Nossa expectativa para o PIB em 2021 é de 4,9%.