O PIB avançou 0,4% t/t, no terceiro trimestre de 2022 comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal, ficando no patamar mais elevado da série histórica. O resultado veio pior que o projetado pelo mercado, que aguardava avanço de 0,6% t/t (Bloomberg). Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, houve crescimento de 3,6% a/a, também abaixo do consenso de mercado (3,7% a/a). No acumulado no ano, o PIB avançou 3,2% frente ao mesmo período de 2021.
Os destaques do PIB do 3º trimestre vão para o setor de serviços (1,1% t/t), com a normalização das atividades presenciais; para o consumo das famílias (1,0% t/t), refletindo a melhora do mercado de trabalho, dos estímulos fiscais, das desonerações tributárias e de um menor nível inflacionário; e da expansão da indústria (0,8% t/t) sendo generalizada, com desempenho sólido da construção civil; e o avanço nos investimentos (2,8% t/t).
Tivemos revisões positivas no crescimento dos trimestres anteriores. A atividade no 3º trimestre de 2021 saiu de 0,1% t/t para 0,4% t/t e no 4º trimestre de 2021 de 0,8% t/t para 0,9% t/t, de modo que, o crescimento do PIB em 2021 foi revisado de 4,6% para 5,0%. Para 2022, tivemos revisões em ambas as direções. No 1º trimestre de 2022 o crescimento foi revisado de 1,1% t/t para 1,3% t/t. Em contrapartida, o crescimento do 2º trimestre de 2022 passou de 1,2% t/t para 1,0% t/t. Com o resultado do último trimestre e com a revisão da série, o PIB se encontra 4,5% acima do patamar pré-pandemia, deixando um carrego estatístico de 3,1% para o ano de 2022.
Na ótica da oferta, o setor de serviços, que corresponde por cerca de 70% da economia, foi novamente o grande destaque do trimestre com avanço de 1,1% t/t, com resultado bastante disseminado entre os subgrupos. O destaque no trimestre vai para os Serviços de Informação e Comunicação (3,6% t/t), beneficiado pela alta dos serviços de desenvolvimento de software e internet. Além disso, tivemos um bom desempenho de Outros Serviços (1,4% t/t), que corresponde por cerca de 23% do total de serviços e abarca grande parte das atividades ligadas aos serviços prestados às famílias de caráter presencial (bares, restaurantes, hotéis, por exemplo), que vem se beneficiando pela recuperação no pós-pandemia. Por fim, vale mencionar o desempenho dos Serviços de Intermediação Financeira (1,5% t/t) e Atividades Imobiliárias (1,4% t/t).
Em contrapartida, o comércio apresentou leve contração de 0,1% t/t que já vinha sendo antecipada pelas leituras da Pesquisa Mensal do Comércio, haja vista o impacto do encarecimento do custo do crédito diante de uma política monetária mais restritiva e da normalização do perfil de consumo das famílias de bens para serviços.
Já o setor agropecuário, após três trimestres de altas consecutivas, recuou 0,9% t/t no 3º trimestre. A contração no trimestre é resultante da queda da produção nas culturas relevantes nesse trimestre, como é o caso da cana-de-açúcar e da mandioca. No ano, o desempenho do setor é atrelado ao desempenho da cultura da soja, que teve sua produção afetada por questões climáticas. Vale ressaltar que o peso do setor agropecuário no valor adicionado do PIB passou por uma forte mudança ao sair de 4,9% em 2019 para 8,8% em 2021, sendo o aumento dos preços das commodities agrícolas e o crescimento da safra os principais fatores altistas. Esse fator contribuiu para as revisões positivas no PIB de 2021 em que a agropecuária saiu de uma contração de 0,2% t/t para alta de 0,3% em comparação ao ano de 2020.
Por sua vez, a indústria apresentou crescimento de 0,8% t/t no terceiro trimestre. O maior avanço ocorreu no segmento de construção civil (1,1% t/t), um dos setores destaque nos últimos trimestres que se beneficiou das taxas de juros mais baixas durante a pandemia e devido ao seu ciclo mais alongado ainda não sofreu com o impacto da política monetária mais restritiva. Além disso, houve contribuição positiva no segmento de eletricidade, gás, água e esgoto (0,6% t/t), sendo beneficiado pelo desligamento de usinas térmicas. Em contrapartida, a indústria extrativa registrou contração de 0,1% t/t puxada por redução na extração de minério de ferro no período.
Na ótica da demanda, houve expansão de 1,0% t/t do consumo das famílias desacelerando dos 2,1% t/t observados no trimestre imediatamente anterior. Por um lado, este resultado reflete o bom desempenho do mercado de trabalho nos últimos meses, tanto pela queda da taxa de desemprego quanto da elevação do rendimento médio quanto da massa salarial em termos reais. Além disso, a aprovação de medidas de impulso à demanda como a elevação do Auxílio Brasil, Auxílio Taxista e o Auxílio Caminhoneiro, assim como as políticas de desoneração tributária (Teto do ICMS e zeragem dos impostos federais sobre combustíveis) contribuíram positivamente ao elevar a renda disponível das famílias. Em contrapartida, a política monetária contracionista que atua como um forte fator de encarecimento do crédito e de elevação do endividamento atuou como um fator de limitação da expansão do consumo no terceiro trimestre.
Além disso, tivemos um bom desempenho nos investimentos (FBKF) que avançaram 2,8% t/t frente ao segundo trimestre de 2022, que vem sendo influenciado positivamente pela alta da construção, do desenvolvimento de softwares e pela produção e importação de bens de capital. Além disso, houve contribuição negativa do setor externo, com elevação de 3,6% t/t das exportações, impactadas pelos lockdowns na China e guerra na Ucrânia, e da expansão de 5,8% t/t das importações. A taxa de investimento ficou em 19,6% do PIB no 3º tri, se elevando 0,2 p.p. em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e em 18,8% do PIB na média móvel de quatro meses.
Nossa avaliação é que a leitura do PIB do 3 º trimestre foi positivo mesmo diante dos sinais de desaceleração da economia, sobretudo no que diz respeito ao consumo das famílias, investimentos e expansão do setor de serviços. Acreditamos que embora o consumo das famílias tenha desacelerado em relação ao trimestre anterior esta segue elevada, sendo limitada pelos impactos da política monetária contracionista sobre o encarecimento do custo do crédito e da elevação da inadimplência. Já a taxa de investimento como proporção do PIB alcançou o patamar de 19,6%, o maior nível desde o terceiro trimestre de 2014 (19,8%), refletindo os impactos positivos das reformas estruturais aprovadas que têm impulsionado os investimentos privados nos últimos trimestres. Com este resultado, mantemos, de forma preliminar, nossa projeção de crescimento do PIB em 3,0% para o ano de 2022, refletindo os efeitos positivos da significativa recuperação do mercado de trabalho sobre o consumo das famílias pela ótica da demanda. Além disso, seguimos com uma avaliação positiva para o desempenho do setor de serviços ao longo do último trimestre de 2022 pela ótica da oferta.