Tivemos revisões mistas no crescimento nos últimos trimestres por parte do IBGE. A atividade no 3º trimestre de 2022 foi de 0,4% t/t para 1,1% t/t, no 4º trimestre de 2022 passou de 0,1% t/t para -0,1% t/t, no 1º trimestre de 2023 saiu de 1,8% t/t para 1,4% t/t, e no 2º trimestre de 2023 avançou de 0,9% t/t para 1,0% t/t. Com o resultado do terceiro trimestre e as revisões das últimas leituras, o PIB acumulou alta de 2,6% no ano levando em consideração os três primeiros trimestres e cresceu 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado, operando 7,2% acima do patamar observado antes da pandemia (dez/19) e deixando um carrego estatístico de 3,0% para o crescimento do ano de 2023.
Pela ótica da oferta, tivemos surpresas positivas no setor de serviços (0,6% t/t). Mesmo vindo de uma base de comparação muito elevada, o crescimento do setor continua a surpreender para cima, o que acaba puxando boa parte do avanço da economia como um todo pelo fato dos serviços responderem por cerca de 70% da economia. Além disso, o mercado de trabalho mais forte vem contribuindo para a alta do segmento de serviços intensivos em trabalho e vice-versa. Já o setor da agropecuária sentiu os efeitos da base de comparação mais elevada após o crescimento exuberante de 21,6% t/t do primeiro trimestre, contraindo 3,3% t/t agora no terceiro trimestre, com a desaceleração devendo alcançar também o último trimestre do ano. Adicionalmente, o fenômeno climático de um El Niño mais forte deve afetar a produção de algumas commodities alimentícias, com impactos negativos sobre a produção e a inflação de alimentos. As chuvas na região sul do país já vêm contribuindo para gerar um choque de oferta negativo sobre alguns alimentos, principalmente aqueles in natura, com os seus efeitos já alcançando os preços. A indústria, por sua vez, apresentou alta na sua taxa de crescimento após um início de ano mais difícil no qual o setor registrou contração. Vale destacar que esse esboço de recuperação da indústria se deve a melhora do cenário macroeconômico ao longo do ano, que começou marcado por uma política monetária ainda significativamente restritiva.
Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (3º trimestre de 2022), o PIB registrou alta de 2,0% a/a, refletindo a alta ainda forte da agropecuária (8,8% a/a), resultante do bom desempenho sazonal da lavoura em alguns produtos como: milho (19,5% a/a), cana-de-açúcar (13,1%), algodão (12,5% a/a) e café (6,9% a/a). Por sua vez, os serviços avançaram 1,8% a/a, tendo como destaque o bom desempenho de atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (7,0% a/a); atividades imobiliárias (3,6% a/a); informação e comunicação (1,6% a/a); transporte, armazenagem e correio (1,6% a/a) e outras atividades de serviços (1,1% a/a). Já a indústria registrou alta de 1,0% a/a devido ao bom desempenho das indústrias extrativas (7,2% a/a), na esteira do grande volume prospectado de petróleo e gás. Também contribuiu para isso a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (7,3% a/a) em decorrência do alto consumo de água e luz na sequência de temperaturas acima da média para o período. Por outro lado, a construção recuou 4,5% a/a.
Na nossa avaliação o destaque desse resultado do PIB do terceiro trimestre foi a continuidade da queda da Formação Bruta de Capital Fixo (-2,5% t/t e -6,8% a/a), da taxa de investimento, que saiu de 17,2% no segundo trimestre para 16,6% do PIB, e da taxa de poupança, que saiu de 16,9% para 15,7% do PIB no mesmo período. A queda nesse último indicador se deu pelo fato de o consumo das famílias ter crescido acima da taxa de expansão do próprio PIB. Já a FBCF e a taxa de investimento vêm caindo pela prioridade que o governo vem dando aos gastos públicos a ao consumo privado em detrimento dos investimentos. Vem pesando também sobre as decisões de investimento dos empresários a política monetária ainda restritiva conduzida pelo Banco Central combinada com o elevado grau de incerteza presente na economia brasileira.
Por fim, com esse resultado do PIB revisamos a nossa estimativa para o crescimento em 2023 de 2,7% para 2,8%. Para 2024 optamos por deixar a nossa projeção de crescimento do PIB inalterada em 1,3%, levemente abaixo da mediana do mercado de 1,5%, por conta da continuidade do movimento de queda tanto da FBCF e da taxa de investimento. Recentemente havíamos revisado a nossa estimativa de crescimento potencial da economia brasileira para 2,2% por conta de todo o conjunto de reformas que haviam sido implementadas nos últimos anos. Contudo, caso essa tendência de queda no investimento persista, muito provavelmente esse número sofrerá uma revisão baixista no futuro, diminuindo o espaço para a economia brasileira crescer sem gerar inflação. Nesse sentido, vale destacar que o resultado do PIB do terceiro trimestre, ao contrário do ocorrido no primeiro trimestre, no qual o crescimento se deu muito mais pelo lado da oferta do que da demanda, é um PIB com um viés inflacionário bem maior, padrão esse que também deve se repetir nos trimestres à frente.