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Publicado em 05 de Dezembro às 14:53:14

PIB (3ºtri/2023): Atividade perde tração apesar do PIB continuar a surpreender positivamente

O PIB registrou alta de 0,1% t/t no terceiro trimestre de 2023 comparado ao trimestre imediatamente anterior na série com ajuste sazonal. O número veio melhor do que a estimativa de mercado de -0,2% t/t. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a expansão foi de 2,0% a/a, resultado que também superou a mediana das projeções do mercado, que apontava para expansão de 1,7% a/a. O PIB do período somou R$ 2,741 trilhões, dos quais R$ 2,387 trilhões foram de valor adicionado a preços básicos e R$ 353,8 bilhões referentes aos impostos sobre produtos líquidos de subsídios, praticamente não apresentando crescimento em termos absolutos comparativamente ao segundo trimestre. Na nossa avaliação, o bom desempenho da atividade econômica no período refletiu as surpresas positivas com o setor de serviços pelo lado da oferta, ao passo que pela ótica da demanda a surpresa ficou pelo avanço mais significativo da abertura de consumo das famílias e das exportações. Apesar disso, o PIB do período confirmou a desaceleração da economia brasileira que era esperada para o segundo semestre.

Tivemos revisões mistas no crescimento nos últimos trimestres por parte do IBGE. A atividade no 3º trimestre de 2022 foi de 0,4% t/t para 1,1% t/t, no 4º trimestre de 2022 passou de 0,1% t/t para -0,1% t/t, no 1º trimestre de 2023 saiu de 1,8% t/t para 1,4% t/t, e no 2º trimestre de 2023 avançou de 0,9% t/t para 1,0% t/t. Com o resultado do terceiro trimestre e as revisões das últimas leituras, o PIB acumulou alta de 2,6% no ano levando em consideração os três primeiros trimestres e cresceu 3,2% em relação ao mesmo período do ano passado, operando 7,2% acima do patamar observado antes da pandemia (dez/19) e deixando um carrego estatístico de 3,0% para o crescimento do ano de 2023.

Na ótica da demanda, os destaques ficaram por conta do consumo das famílias (1,1% t/t), do consumo do governo (0,5% t/t), com ambos atingindo o pico das suas respectivas séries históricas, e das exportações (3,0% t/t). O primeiro está no seu nono trimestre consecutivo de alta e vem sendo, junto do setor de serviços pelo lado da oferta, o principal responsável pela recuperação acima do esperado da economia brasileira na reabertura pós-pandemia. A força do consumo das famílias vem de um mercado de trabalho mais aquecido, com a massa de rendimento real apresentando forte alta em decorrência do movimento de recomposição dos salários reais e da trajetória de queda da inflação. Outro fator que explica a resiliência do consumo privado é a manutenção e a ampliação dos programas de transferência de renda do governo. Já o consumo do governo acelerou em relação ao início do ano devido ao maior uso por parte do governo central da “munição fiscal” obtida com a PEC da Transição no final do ano passado, permitindo a ocorrência de um impulso fiscal ao longo desse segundo semestre. As exportações, por sua vez, continuaram a apresentar crescimento robusto por conta, a nosso ver, do chamado “efeito Argentina”, no qual as exportações brasileiras vêm se beneficiando da perda de competitividade das exportações argentinas em decorrência da imposição de barreiras de preço (taxação sobre produtos do agronegócio) e quantidade (limites à quantidade de carne exportada). Como a pauta exportadora brasileira e argentina são muito similares, e, portanto, concorrentes entre si, parte do mercado global dos produtos argentinos foi ocupado por produtos brasileiros. Daqui em diante, esperamos uma perda de vigor no crescimento das exportações brasileiras caso o novo governo da Argentina retire as restrições às exportações do país. Finalmente, em linha com a desaceleração da economia brasileira, as importações registraram uma taxa de variação de -2,1% t/t.

Pela ótica da oferta, tivemos surpresas positivas no setor de serviços (0,6% t/t). Mesmo vindo de uma base de comparação muito elevada, o crescimento do setor continua a surpreender para cima, o que acaba puxando boa parte do avanço da economia como um todo pelo fato dos serviços responderem por cerca de 70% da economia. Além disso, o mercado de trabalho mais forte vem contribuindo para a alta do segmento de serviços intensivos em trabalho e vice-versa. Já o setor da agropecuária sentiu os efeitos da base de comparação mais elevada após o crescimento exuberante de 21,6% t/t do primeiro trimestre, contraindo 3,3% t/t agora no terceiro trimestre, com a desaceleração devendo alcançar também o último trimestre do ano. Adicionalmente, o fenômeno climático de um El Niño mais forte deve afetar a produção de algumas commodities alimentícias, com impactos negativos sobre a produção e a inflação de alimentos. As chuvas na região sul do país já vêm contribuindo para gerar um choque de oferta negativo sobre alguns alimentos, principalmente aqueles in natura, com os seus efeitos já alcançando os preços. A indústria, por sua vez, apresentou alta na sua taxa de crescimento após um início de ano mais difícil no qual o setor registrou contração. Vale destacar que esse esboço de recuperação da indústria se deve a melhora do cenário macroeconômico ao longo do ano, que começou marcado por uma política monetária ainda significativamente restritiva.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (3º trimestre de 2022), o PIB registrou alta de 2,0% a/a, refletindo a alta ainda forte da agropecuária (8,8% a/a), resultante do bom desempenho sazonal da lavoura em alguns produtos como: milho (19,5% a/a), cana-de-açúcar (13,1%), algodão (12,5% a/a) e café (6,9% a/a). Por sua vez, os serviços avançaram 1,8% a/a, tendo como destaque o bom desempenho de atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (7,0% a/a); atividades imobiliárias (3,6% a/a); informação e comunicação (1,6% a/a); transporte, armazenagem e correio (1,6% a/a) e outras atividades de serviços (1,1% a/a). Já a indústria registrou alta de 1,0% a/a devido ao bom desempenho das indústrias extrativas (7,2% a/a), na esteira do grande volume prospectado de petróleo e gás. Também contribuiu para isso a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (7,3% a/a) em decorrência do alto consumo de água e luz na sequência de temperaturas acima da média para o período. Por outro lado, a construção recuou 4,5% a/a.

Na nossa avaliação o destaque desse resultado do PIB do terceiro trimestre foi a continuidade da queda da Formação Bruta de Capital Fixo (-2,5% t/t e -6,8% a/a), da taxa de investimento, que saiu de 17,2% no segundo trimestre para 16,6% do PIB, e da taxa de poupança, que saiu de 16,9% para 15,7% do PIB no mesmo período. A queda nesse último indicador se deu pelo fato de o consumo das famílias ter crescido acima da taxa de expansão do próprio PIB. Já a FBCF e a taxa de investimento vêm caindo pela prioridade que o governo vem dando aos gastos públicos a ao consumo privado em detrimento dos investimentos. Vem pesando também sobre as decisões de investimento dos empresários a política monetária ainda restritiva conduzida pelo Banco Central combinada com o elevado grau de incerteza presente na economia brasileira.

Por fim, com esse resultado do PIB revisamos a nossa estimativa para o crescimento em 2023 de 2,7% para 2,8%. Para 2024 optamos por deixar a nossa projeção de crescimento do PIB inalterada em 1,3%, levemente abaixo da mediana do mercado de 1,5%, por conta da continuidade do movimento de queda tanto da FBCF e da taxa de investimento. Recentemente havíamos revisado a nossa estimativa de crescimento potencial da economia brasileira para 2,2% por conta de todo o conjunto de reformas que haviam sido implementadas nos últimos anos. Contudo, caso essa tendência de queda no investimento persista, muito provavelmente esse número sofrerá uma revisão baixista no futuro, diminuindo o espaço para a economia brasileira crescer sem gerar inflação. Nesse sentido, vale destacar que o resultado do PIB do terceiro trimestre, ao contrário do ocorrido no primeiro trimestre, no qual o crescimento se deu muito mais pelo lado da oferta do que da demanda, é um PIB com um viés inflacionário bem maior, padrão esse que também deve se repetir nos trimestres à frente.

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