O PIB registrou -0,2% t/t, no quarto trimestre de 2022 comparado ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal, resultado um pouco pior que a estimativa mediana do mercado (-0,1% t/t, Broadcast). Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, houve avanço de 1,9% a/a, resultando em um resultado anual de 2,9% frente a 2021, ambos também abaixo das estimativas do mercado (2,1% a/a e 3,0% frente a 2021, Broadcast).
Pela ótica da oferta, houve crescimentos em Agropecuária (0,3% t/t) e em Serviços (0,2% t/t), enquanto a Indústria retraiu (-0,3% t/t). Houve uma desaceleração considerável do setor de serviços, refletindo a perda de dinamismo com o estágio já avançado da normalização das atividades presenciais. As atividades destaque foram as de Informação e comunicação (1,8% t/t), em contrapartida da maior queda em Comércio (-0,9% t/t). Essa piora de desempenho vem sendo sinalizada pelas leituras da Pesquisa Mensal do Comércio, haja vista o impacto do encarecimento do custo do crédito, inflação elevada e da normalização do perfil de consumo pós-pandemia. Vale destacar que o PIB de serviços atingiu o maior patamar da série histórica com esse avanço, se beneficiando do processo de recuperação das atividades presenciais ao longo do ano. Dentre as atividades industriais, houve queda nas Indústrias de Transformação (-1,4%), na Construção (-0,7%) e na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (-0,4%). O único resultado positivo foi na Indústria Extrativa (2,5%), beneficiada pela produção de petróleo.
No ano, houve crescimentos em Serviços (4,2%) e na Indústria (1,6%), mas queda na Agropecuária (-1,7%). O PIB totalizou R$ 9,9 trilhões em 2022, com o per capita chegando a R$ 46.154,6, um avanço real de 2,2% ante o ano anterior. Além disso, houve queda na taxa anual de investimento, de 18,9% do PIB em 2021 para 18,8%, bem como da taxa de poupança, que foi de 17,4% em 2021 para 15,9%. A necessidade de financiamento da economia brasileira no ano passado foi de R$ 218 bilhões, uma alta de 20,9% ante o ano anterior, aumento fruto do saldo externo de bens e serviços e da renda líquida de propriedade enviada ao resto do mundo. As exportações de bens e serviços registraram desempenho positivo e fecharam 2022 com alta de 5,5%, enquanto as importações expandiram 0,8%.
Houve aumento de 3,0% no Valor adicionado a preços básicos em 2022, muito em conta do bom desempenho em Serviços, que corresponde por cerca de 70% da economia. Essa queda no Valor adicionado decorreu do decréscimo de produção e perda de produtividade da agricultura, que superou as contribuições positivas em pecuária e pesca. Foi a primeira queda anual da Agropecuária desde 2016, sendo a queda da produção de soja (-11,4%) o maior destaque negativo, diante de condições climáticas desfavoráveis, como as secas na região Sul do país. Na indústria, as atividades ligadas à eletricidade e gás foram destaque, sendo beneficiadas por bandeiras tarifárias mais favoráveis ao longo de 2022. Por fim, todas as atividades de Serviços obtiveram expansão. O destaque, mais uma vez, foram Outras atividades de serviços (11,1%), que correspondem por cerca de 23% do total de serviços e abarca grande parte das atividades ligadas aos serviços prestados às famílias de caráter presencial (bares, restaurantes, hotéis, por exemplo), beneficiadas no pós-pandemia.
Tivemos revisões positivas no crescimento dos trimestres anteriores. A atividade no 4º trimestre de 2021 foi de 0,9% t/t para 1,1% t/t, de modo que, o crescimento do PIB em 2021 foi mantido em 5,0%. Para 2022, tivemos duas revisões negativas. No 2º trimestre de 2022 o crescimento foi revisado de 1,0% t/t para 0,9% t/t, e no 3º trimestre passou de 0,4% t/t para 0,3% t/t. Com isso, o carrego estatístico para o crescimento do PIB em 2023 é de 0,2 p.p.
Na ótica da demanda, houve expansão de 0,3% t/t do consumo das famílias que, apesar da desaceleração nos trimestres finais, fechou 2022 com alta de 4,3% e foi a maior contribuição para o crescimento da economia no ano. Por um lado, este resultado reflete o bom desempenho do mercado de trabalho nos últimos meses, tanto pela queda da taxa de desemprego quanto pela elevação do rendimento médio e massa salarial em termos reais. Além disso, a aprovação de medidas de impulso à demanda e de desoneração tributária (Teto do ICMS e zeragem dos impostos federais sobre combustíveis) contribuíram positivamente ao elevar a renda disponível das famílias. Em contrapartida, a política monetária contracionista que atua como um forte fator de encarecimento do crédito e de elevação do endividamento começou a atuar como um fator de limitação da expansão do consumo no fim de 2022. Já o consumo do governo subiu 0,3% t/t, com um desempenho melhor que o previsto pelo mercado. Em relação a igual período de 2021, o aumento nos gastos da administração pública foi de 0,5%. Por fim, a formação bruta de capital fixo apresentou contração de 1,1% t/t, ficando em linha com o cenário de perda de dinamismo da economia e de elevação das incertezas políticas e econômicas nos últimos meses.
Nossa avaliação é que a leitura do PIB do 4º trimestre foi negativa, apesar de esperada. O resultado aponta para uma desaceleração mais avançada e generalizada, inclusive com um crescimento bem mais modesto do setor de serviços no último trimestre, setor que foi o principal motor da recuperação. No ano, o PIB foi puxado completamente por serviços, na ótica da oferta, e pelo consumo das famílias, na ótica da demanda. Chamam a atenção transportes, uma vez que energia teve um papel fundamental ao longo do ano, e outros serviços, que abarca muito do consumo das famílias. A demanda reprimida pela pandemia foi responsável pelo processo de transição entre o consumo para serviços, além do aumento da poupança das famílias. Dos 2,9% de crescimento anual, 2,0 p.p. vieram da demanda interna e 0,9 p.p. da demanda externa, já que as exportações cresceram mais que as importações. Acreditamos que o consumo das famílias será, a partir de 2023, cada vez mais limitado pelos impactos da política monetária contracionista, com o encarecimento do custo do crédito e a elevação da inadimplência. Outra preocupação se coloca no recuo anual da taxa de investimento como proporção do PIB que, apesar de pequena (0,1 p.p.), pode se intensificar nas próximas leituras. O crescente risco de revogação, ainda que parcial, das reformas aprovadas nos últimos anos pelo novo governo deve contribuir para uma queda na demanda por investimentos, que foi um dos pilares do crescimento nos últimos anos. Na ponta positiva, a expectativa de boas safras e o efeito base mais baixo decorrente das quebras de safra em 2022 devem impulsionar o setor agropecuário em 2023. Com este resultado, nossa projeção de crescimento do PIB em 2023 é de 0,7% e de alta de 0,3% t/t no primeiro trimestre do ano.