Em outubro, o volume de vendas no setor varejista recuou 0,3% m/m em relação ao mês imediatamente anterior, abaixo do piso das estimativas de -0,2% m/m (Broadcast+). Ademais, houve revisões nos números dos meses anteriores, com destaque para a revisão de setembro ante agosto de 0,6% m/m para 0,5% m/m. Na comparação interanual, o volume de vendas do comércio apresentou alta de 0,2% a/a, pior que a mediana de 1,9% a/a (Broadcast+). Vale destacar que as rupturas estruturais nas séries históricas da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), decorrentes de mudanças metodológicas no cálculo do indicador e por conta da pandemia, impõe dificuldades adicionais tanto na previsão do indicador quanto na interpretação do desempenho mensal dos seus dados ajustados sazonalmente.
Com este resultado, o setor varejista acumulou alta de 1,6% no ano em relação ao mesmo período de 2022 e de 1,5% no acumulado em doze meses, marcando o seu décimo terceiro mês consecutivo no campo positivo nesta métrica. Dessa forma, o comércio varejista se encontra 4,4% acima do nível pré-pandemia e 2,0% abaixo do ponto mais elevado da série histórica (out/20). Vale ressaltar que em relação ao período pré-covid, os grupos pesquisados apresentaram heterogeneidade em seu desempenho, com destaque positivo para Supermercados e hipermercados e Combustíveis e lubrificantes, que se encontram 10,2% e 7,6% acima do nível pré-pandemia, respectivamente. Em contrapartida, grupos ligados ao consumo de bens discricionários apresentaram depreciação em relação ao patamar observado em fevereiro de 2020, com destaque para Tecidos, vestuário e calçados (-25,8%), Móveis e eletrodomésticos (-13,9%) e Outros artigos de uso pessoal (-13,2%) que se encontram substancialmente abaixo do patamar observado antes da pandemia. Esse diagnóstico sugere que o cenário macroeconômico mais adverso (juros elevados e deterioração do perfil de crédito) combinado com a mudança no perfil de consumo de bens para serviços têm penalizado o setor ao longo dos últimos meses e deve continuar limitando o seu desempenho nas próximas leituras.
Ainda no que se refere ao varejo restrito, o resultado no mês refletiu o resultado negativo em cinco das oito atividades pesquisadas. Nesse sentido, vale destacar a queda de 5,7% de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, o recuo de 1,9% de Tecidos, vestuário e calçados e a queda de 0,8% de Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, interrompendo quatro meses no campo positivo, e o decrescimento de 0,1% de Móveis e eletrodomésticos. Em contrapartida, os destaques positivos foram: Livros, jornais, revistas e papelaria (2,8% m/m), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,4% m/m) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,2% m/m) apresentaram
No que diz respeito a comparação interanual, o varejo restrito apresentou alta de 0,2% a/a, com predominância de taxas negativas. Nesse contexto, os destaques negativos foram: Combustíveis e lubrificantes (-9,5% a/a), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,4% a/a), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-6,8% a/a), Livros, jornais, revistas e papelaria (-4,8% a/a), Tecidos, vestuário e calçados (-3,4% a/a) e Móveis e eletrodomésticos (-0,4% a/a). Em contrapartida, duas atividades apresentaram desempenho positivo: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (9,2% a/a) e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,9% a/a).
Em relação as vendas no varejo ampliado (que inclui Veículos, Motos, Partes e Peças; Material de Construção; e Atacado de Produtos Alimentícios), houve queda de 0,4% m/m frente ao mês de setembro, próximo do piso das estimativas de -0,5% m/m (Broadcast+). O resultado no mês refletiu o aumento de 0,3% m/m na variação mensal de Veículos e motos, partes e peças e pelo aumento de 2,8% m/m de Material de construção. Apesar do desempenho positivo dessas aberturas, a atividade de Atacado especializado em produtor alimentícios, que ainda não tem abertura divulgada na pesquisa, influenciou negativamente o índice ampliado. Na comparação interanual, tanto o setor de Veículos e motos, partes e peças (10,5% a/a), quanto de Atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (8,8% a/a) e Material de construção (6,4% a/a) tiveram alta.
Na nossa avaliação, tal resultado corrobora o cenário de desaceleração da atividade, uma vez que 5 dos 8 setores pesquisados apresentaram desempenho negativo. Nesse sentido, o cenário macroeconômico adverso, marcado por uma política monetária ainda em território contracionista deve fazer com que os setores do varejo mais sensíveis ao crédito tenham um desempenho mais fraco em termos relativos nos próximos meses. Por outro lado, a expectativa de aumento da renda disponível das famílias após o lançamento do programa Desenrola e a ampliação dos programas de transferência de renda por parte do governo deve fazer com que os segmentos do varejo mais sensíveis à renda tenham um melhor desempenho em termos relativos daqui até o final do ano. Ainda assim, os gastos com itens ligados ao consumo mais discricionário, que já se encontram em um patamar significativamente abaixo do observado durante o período pré-pandemia, devem continuar contidos. Dessa forma, esperamos contração de 0,3% t/t no PIB do quarto trimestre e crescimento de 2,9% a/a no PIB de 2023.