De acordo com o IBGE, no trimestre móvel encerrado em dezembro, a taxa de desemprego ficou em 7,9% da força de trabalho, como projetado por nossa equipe econômica e em linha com a mediana do mercado. Esta foi a menor taxa de desemprego desde o trimestre móvel encerrado em mar/15 e, com ela, a taxa média anual de desocupação foi estimada em 9,3%, recuando 3,9 p.p. frente a de 2021 (13,2%).
A população ocupada (99,4 milhões) ficou estável ante o trimestre encerrado em setembro e subiu 3,8% (3,6 milhões) frente ao mesmo trimestre de 2021, enquanto a população desocupada (8,6 milhões) diminuiu 9,4% t/t e 28,6% a/a. No que se refere à força de trabalho, esta se contraiu 0,45% m/m e 0,72% t/t (menos 492 mil frente ao trimestre encerrado em novembro e menos 787 mil frente ao encerrado em setembro). Desse modo, a taxa de ocupação (percentual das pessoas ocupadas na população em idade para trabalhar) recuou 0,1 p.p. frente a setembro e avançou 1,6 p.p., no ano, chegando a 57,16% após atingir o maior patamar desde jun/15 em novembro.
Em 2022, a população ocupada média chegou a 98,0 milhões, a maior da série histórica e 7,4% acima de 2021. Assim, o nível da ocupação médio (percentual ocupados na população em idade de trabalhar) foi estimado em 56,6% em 2022, segundo ano seguido de crescimento após o menor patamar registrado, em 2020. Já a população desocupada média no ano totalizou 10,0 milhões de pessoas em 2022, com queda de 3,9 milhões (-27,9%) frente a 2021. No entanto, o número de pessoas em busca de trabalho está 46,4% mais alto que em 2014, quando o mercado de trabalho tinha o menor contingente de desocupados (6,8 milhões) da série histórica da PNAD. A taxa média anual de desocupação foi estimada em 9,3%, recuando 3,9 pontos percentuais (p.p.) frente a de 2021 (13,2%).
Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 36,9 milhões de pessoas, subindo 1,6% (mais 593 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e 6,9% (mais 2,4 milhões de pessoas) frente a 2021. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,2 milhões) ficou estável ante o trimestre anterior e aumentou 6,4% (mais 792 mil pessoas) frente a 2021. Por fim, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,5 milhões de pessoas) também ficou estável na comparação mensal e caiu 1,8% (menos 475 mil pessoas) no ano.
Na passagem de novembro para dezembro, apenas Transporte, armazenagem e correio (0,5% m/m) e Alojamento e alimentação (1,9% m/m) apresentaram expansão. Por outro lado, a maior contribuição negativa para a ocupação veio de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,2% m/m), da mesma forma que, na comparação frente ao trimestre encerrado em setembro, este foi o setor com pior desempenho (-2,7% t/t). No ano, este desempenho negativo se manteve, sendo a única atividade que teve queda percentual (-1,6%), passando a registrar 8,7 milhões de trabalhadores no ano. Na ponta positiva, Outros serviços foi a atividade com maior percentual de aumento da população ocupada (17,8%) entre 2021 e 2022, passando de 4,4 para 5,2 milhões de trabalhadores.
Por fim, no que se refere ao rendimento real habitual dos grupamentos de atividades, frente ao trimestre encerrado em setembro, houve aumento considerável nos setores de Construção (6,8% t/t), Transporte, armazenagem e correio (3,9% t/t), Alojamento e alimentação (6,4% t/t), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (2,9% t/t) e Serviços domésticos (2,2% t/t). Indústria e Outros serviços permaneceram estáveis e, por outro lado, Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,6% t/t) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,1% t/t) apresentaram retração no rendimento. No agregado, o valor médio anual do rendimento real habitual foi estimado em R$ 2.715, valor 1,0% menor (- R$ 28) que o estimado para 2021.
Embora os dados da PNAD Contínua sigam sinalizando a robustez do mercado de trabalho, os primeiros sinais de perda de fôlego já podem ser observados. Essa nova dinâmica se coloca em dados como a queda marginal de -0,32% m/m da população ocupada, em linha com os resultados mais fracos dos indicadores de atividade setorial observados nos últimos meses de 2022. Além disso, vale destacar a queda da taxa de participação, que se encontra em 62,1% (queda de 0,6 p.p. desde setembro, quando tinha atingido o maior patamar desde mar/20), pode estar sendo impactada pela expansão das políticas de transferência de renda ao longo de 2022. Para os próximos meses, esperamos que os efeitos do ciclo de aperto monetário serão cada vez mais intensos para a atividade econômica, inclusive para o mercado de trabalho. Como foi ressaltado, o setor de serviços foi destaque na forte recuperação vista ao longo de 2022, mas a já avançada acomodação do perfil de consumo da população (substituindo bens por serviços com o fim da pandemia) não deve repetir o mesmo desempenho vigoroso. Além disso, a revisão dos cadastros irregulares no programa Auxílio Brasil/Bolsa Família impõe um risco altista para o desemprego no ano. Para 2023, esperamos uma taxa final de desemprego em 8,8% e de 9,3% na média do ano.