De acordo com o IBGE, no trimestre móvel encerrado em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 8,6% da força de trabalho, dentro do intervalo de projeções do mercado (8,1%-8,9%, Broadcast). Esta foi a menor taxa para o trimestre encerrado em fevereiro desde 2015 (7,5%). Assim, após a forte trajetória de recuperação do mercado de trabalho ao longo do último ano, os sinais de uma perda de tração já estão gerando um aumento da taxa de desemprego, o que deve continuar nas próximas leituras.
A população ocupada (98,1 milhões) registrou redução de 1,6% t/t frente ao trimestre terminado em novembro e alta de 3,0% a/a, enquanto a população desocupada (9,2 milhões) cresceu 5,5% t/t e caiu 23,2% a/a. Desse modo, a taxa de ocupação (percentual das pessoas ocupadas na população em idade para trabalhar) recuou 1,0 p.p. no trimestre e avançou 1,2 p.p. ante igual trimestre do ano anterior, chegando a 56,4%, terceira leitura consecutiva de queda após a máxima histórica (57,4%).
Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 36,8 milhões de pessoas, mantendo a estabilidade no trimestre e crescendo 6,4% a/a. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,0 milhões) caiu 2,6% t/t frente ao trimestre terminado em novembro e aumentou 5,5% a/a. Por fim, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,2 milhões de pessoas) caiu 1,2% t/t e manteve-se estável na comparação anual.
No trimestre móvel de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) chegou a 107,3 milhões de pessoas, redução de 1,0% t/t (menos 1,1 milhão de pessoas) frente ao trimestre móvel terminado em novembro de 2022 e apresentou estabilidade frente ao mesmo período do ano passado. Vale ressaltar que este é o quarto mês consecutivo de queda dessa métrica. Esta, em nossa avaliação, tem contribuído para a queda da taxa de desemprego nos últimos meses, sinalizando que o bom desempenho do mercado de trabalho ao final de 2022 não deriva de um robusto processo de criação de empregos, mas sim do movimento de saída de pessoas desempregadas da força de trabalho.
Na passagem de janeiro para fevereiro, não houve aumento no contingente de ocupados de nenhum dos grupamentos de atividade. Houve redução nos seguintes grupamentos: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,3% m/m), Indústria Geral (-2,7% m/m), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-2,7% m/m) e Outros serviços (-3,2% m/m). Na comparação anual, o único grupo que apresentou redução foi Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-4,6% a/a).
Por fim, o rendimento real habitual (R$ 2.853) ficou estável frente ao trimestre anterior e cresceu 7,5% no ano. A massa de rendimento real habitual (R$ 275,5 bilhões) também ficou estável frente ao trimestre anterior, mas cresceu 11,4% na comparação anual. Frente ao trimestre encerrado em novembro de 2022, houve aumento considerável nos setores de Alojamento e alimentação (6,0% t/t) e serviços domésticos (2,6% t/t). Os demais grupamentos não apresentaram variação significativa.
Enfim, a desaceleração do mercado de trabalho se mostrou mais clara. Essa nova dinâmica está em linha com os resultados mais fracos dos indicadores de atividade setorial do início de 2023 que revelam uma retração mais contundente. Vale destacar que a queda da força de trabalho observada desde setembro de 2022, quando atingiu a máxima da série histórica, vinha colaborando para a queda da taxa de desemprego. Na mesma direção, a taxa de participação (61,7%) segue em contração, o que, na nossa visão, reflete os efeitos da expansão das políticas de transferência de renda. Além disso, fevereiro registrou a segunda queda da ocupação ante trimestre anterior após seis trimestres e elevação da taxa de desemprego dessazonalizada. Para os próximos meses, esperamos que os efeitos do ciclo de aperto monetário serão cada vez mais intensos para a atividade, inclusive para o mercado de trabalho. No entanto, o rendimento médio real deve permanecer pressionado nos próximos meses devido ao aumento do salário-mínimo real e do desemprego próximo ao nível neutro. Esse movimento contrário pode representar uma pressão inflacionária extra vinda dos salários, que pode impactar o nível de preço dos serviços, de alta inércia. Por fim, a revisão dos cadastros irregulares no programa Auxílio Brasil/Bolsa Família impõe um risco altista para o desemprego no ano. Para 2023, esperamos uma taxa final de desemprego em 8,8% e de 9,3% na média do ano.