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Publicado em 17 de Março às 12:44:24

PNAD (jan/23): Mercado de trabalho muda de trajetória em 2023

De acordo com o IBGE, no trimestre móvel encerrado em janeiro, a taxa de desemprego ficou em 8,4% da força de trabalho, acima do teto das projeções do mercado (8,3%). Esta foi a menor taxa para o mês de janeiro desde 2015 (6,9%). Assim, após a forte trajetória de recuperação do mercado de trabalho ao longo do último ano, os sinais de uma perda de tração já estão gerando um aumento da taxa de desemprego, o que deve continuar nas próximas leituras.

A população ocupada (98,6 milhões) registrou redução de 1,0% t/t e alta de 3,4% a/a, enquanto a população desocupada (9,0 milhões) ficou estável frente ao trimestre anterior e caiu 25,3% a/a. Desse modo, a taxa de ocupação (percentual das pessoas ocupadas na população em idade para trabalhar) recuou 0,7 p.p. no trimestre e avançou 1,3 p.p., no ano, chegando a 56,7%, segunda leitura consecutiva de queda após a máxima histórica.

Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 36,8 milhões de pessoas, mantendo a estabilidade no trimestre e crescendo 6,5% a/a. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,1 milhões) ficou estável ante o trimestre anterior e aumentou 5,9% a/a. Por fim, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,3 milhões de pessoas) também ficou estável tanto frente ao último trimestre quanto na comparação anual.

No trimestre móvel de novembro de 2022 a janeiro de 2023, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) chegou a 107,6 milhões de pessoas, redução de 1,0% (menos 1 milhão de pessoas) frente ao trimestre de agosto a outubro de 2022 e apresentou estabilidade frente ao mesmo período do ano anterior. Vale ressaltar que este é o quarto mês consecutivo de queda dessa métrica. Esta, na nossa avaliação, tem contribuído para a queda da taxa de desemprego nos últimos meses, sinalizando que o bom desempenho do mercado de trabalho ao final de 2022 não deriva de um robusto processo de criação de empregos, mas sim do movimento de saída de pessoas desempregadas da força de trabalho.

Na passagem de dezembro para janeiro, sete das dez atividades econômicas acompanhadas registraram recuo, sendo que as de Alojamento e alimentação (0,9% m/m) apresentaram a maior expansão, junto de Serviços domésticos (0,9% m/m). Por outro lado, a maior contribuição negativa para a ocupação veio de Administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (-1,8% m/m), mas na comparação com o trimestre encerrado em outubro, mais uma vez Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-3,1% t/t) teve o pior resultado. Na comparação anual, houve destaque da alta em Transporte, armazenagem e correio (9,8% a/a),

Por fim, no que se refere ao rendimento real habitual dos grupamentos de atividades, frente ao trimestre encerrado em outubro, houve aumento considerável nos setores de Alojamento e alimentação (7,1% t/t) e Administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,2% t/t). Por outro lado, setores de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,0% t/t) e Transporte, armazenagem e correio (-1,9% t/t) apresentaram as maiores retrações no rendimento.

Enfim, a desaceleração do mercado de trabalho se mostrou mais clara. Essa nova dinâmica está em linha com os resultados mais fracos dos indicadores de atividade setorial do final de 2022 que já mostravam uma retração mais contundente. Vale destacar que a queda da força de trabalho observada desde set/22, quando atingiu a máxima da série histórica, vinha colaborando para a queda da taxa de desemprego. Na mesma direção, a taxa de participação (61,9%) segue em contração, o que, na nossa visão, reflete os efeitos da expansão das políticas de transferência de renda. Além disso, janeiro registrou a primeira queda da ocupação ante trimestre anterior após seis trimestres e elevação da taxa de desemprego dessazonalizada. Para os próximos meses, esperamos que os efeitos do ciclo de aperto monetário serão cada vez mais intensos para a atividade, inclusive para o mercado de trabalho. No entanto, o rendimento médio real deve permanecer pressionado nos próximos meses devido ao aumento do salário-mínimo real e do desemprego próximo ao nível neutro. Esse movimento contrário pode representar uma pressão inflacionária extra vinda dos salários, que pode impactar o nível de preço dos serviços, de alta inércia. Por fim, a revisão dos cadastros irregulares no programa Auxílio Brasil/Bolsa Família impõe um risco altista para o desemprego no ano. Para 2023, esperamos uma taxa final de desemprego em 8,8% e de 9,3% na média do ano.

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