De acordo com o IBGE, no trimestre encerrado em julho de 2023, a taxa de desemprego ficou em 7,9% da força de trabalho, vindo em linha com a mediana do mercado de 7,9% (Broadcast+). Esta foi a menor taxa desde o trimestre móvel terminado em fevereiro de 2015. O resultado representa um recuo (-0,6 p.p.) em relação ao trimestre móvel anterior, encerrado em abril, e -1,2 p.p. ante o mesmo período do ano anterior. Assim, é notória a resiliência mercado de trabalho, beneficiado pela manutenção da atividade econômica, ainda que em um cenário marcado por uma taxa de juros significativamente restritiva. Entretanto, avaliamos que o mercado de trabalho deve entrar em trajetória de arrefecimento nos próximos meses, diante da perspectiva de desaceleração da economia frente ao impacto da política monetária contracionista sobre a economia.
A população ocupada avançou 1,3% t/t frente ao trimestre móvel imediatamente anterior (mais 1,3 milhão de pessoas) e alta de 0,7% no ano, alcançando o patamar de 99,3 milhões de pessoas, ficando próximo do nível mais elevado da série histórica (trimestre móvel encerrado em novembro de 2022). Por sua vez, a população desocupada recuou 6,3% t/t frente ao trimestre móvel encerrado em abril, com redução de 573 mil desocupados no período e recuo de 13,8% no ano. Vale destacar que, para o trimestre móvel encerrado em julho, o recuo da taxa de desemprego foi acompanhado pelo aumento da taxa de participação, sinalizando um diagnóstico mais positivo para o mercado de trabalho no mês. Esse resultado diverge das leituras dos meses anteriores em que os dados mostram que a sustentação da taxa de desemprego em um patamar mais baixo refletiu um movimento de saída de pessoas da força de trabalho.
Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado foi de 37,0 milhões de pessoas, ficando estável em relação ao trimestre anterior e crescendo 3,4% a/a (mais 1,2 milhão de pessoas) na comparação anual. Por sua vez, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,2 milhões) cresceu 4,0% em relação ao trimestre anterior e se manteve estável no ano. Ademais, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,2 milhões) ficou estável frente ao trimestre anterior e teve redução de 637 mil pessoas no ano.
No trimestre móvel encerrado em julho de 2023, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) foi estimada em 107,9 milhões de pessoas, crescendo 0,7% em relação ao trimestre móvel anterior e reduzindo 0,6% em relação ao mesmo período em 2022. Esse movimento contribuiu para a trajetória de queda da taxa de desemprego iniciado ao final de 2022, sugerindo que parte do bom desempenho do mercado de trabalho não derivou de um robusto processo de criação de empregos, mas sim da elevação do salário de reserva com a expansão de políticas de transferência de renda, sobretudo do Bolsa Família.
Na comparação com o trimestre móvel anterior, houve um incremento de 1,3 milhão na população ocupada atingindo o patamar de 99,3 milhões de pessoas. Nesse sentido, houve avanço nos grupamentos: Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (3,4%, ou mais 593 mil pessoas), Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas (2,5%, ou mais 296 mil pessoas) e Serviços domésticos (3,1%, ou mais 178 mil pessoas). Embora apenas 3 grupamentos mostraram variações significativas, vale ressaltar que muitos interromperam o movimento de queda, entre eles, Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, Construção, Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas e Outros serviços. Os demais grupamentos não apresentaram variação significativa. Em relação ao trimestre encerrado em julho 2022, houve aumento em: Transporte, armazenagem e correio (4,0%, ou mais 207 mil pessoas), Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas (5,2%, ou mais 608 mil pessoas) e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,1%, ou mais 706 mil pessoas). Na ponta negativa, temos o desempenho de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (5,1%, ou menos 450 mil pessoas) e Construção (4,1%, ou menos 309 mil pessoas).
Por fim, o rendimento real habitual (R$ 2.935) apresentou estabilidade em relação ao trimestre móvel anterior. Na comparação anual, ocorreram aumentos em: Indústria (3,8%, ou mais R$ 101); Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (5,5%, ou mais R$ 127); Alojamento e alimentação (8,3%, ou mais R$ 149); Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,4%, ou mais R$ 171) e Serviços domésticos (5,4%, ou mais R$ 59). Por sua vez, a massa de rendimento real habitual avançou 2,0% frente ao trimestre anterior, atingindo o patamar mais elevado da série histórica (R$ 286,9 bilhões) e aumento de 6,2% na comparação interanual. Embora o rendimento tenha ficado estável no mês, o avanço da massa de rendimento se beneficiou da expansão da população ocupada, reforçando a visão de resiliência do mercado de trabalho.
Em suma, o mercado de trabalho segue mostrando resiliência mesmo em um ambiente adverso marcado por uma política monetária restritiva, com destaque para a continuidade do processo de queda da taxa de desemprego acompanha por uma elevação na taxa de ocupação. Entretanto, devido o efeito ainda mais defasado da política monetária sobre o mercado de trabalho, enxergamos que o segundo semestre do ano deve ser marcado por um arrefecimento dos indicadores do mercado de trabalho, em linha com o nosso cenário de perda de dinamismo mais acentuada da atividade econômica. Este movimento deve ser limitado pela baixa taxa de participação, que na nossa avaliação reflete em boa parte o aumento do salário de reserva da economia com a expansão do Bolsa Família. Dessa forma, projetamos que a taxa de desemprego média fique em 8,3% para o ano de 2023.