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Publicado em 28 de Julho às 12:50:57

PNAD (jun/23): Desemprego de 8,0% surpreende positivamente as expectativas

De acordo com o IBGE, no trimestre encerrado em junho de 2023, a taxa de desemprego ficou em 8,0% da força de trabalho, vindo melhor que a mediana do mercado de 8,2% (Broadcast+). Esta foi a menor taxa para um trimestre encerrado em junho desde 2014. O resultado representa um recuo (-0,8 p.p.) em relação ao trimestre móvel anterior, encerrado em março, e -1,3 p.p. ante o mesmo período do ano anterior. Assim, é notório que o mercado de trabalho vem apresentando um desempenho mais forte do que o antecipado pelo mercado, sendo beneficiado pela resiliência da atividade econômica neste início de ano, ainda que em um cenário marcado por uma taxa de juros significativamente restritiva. Além disso, contribui para esta surpresa a manutenção da taxa de participação em um patamar depreciado, que na nossa avaliação reflete os efeitos da expansão das políticas de transferência de renda, sobretudo a partir do segundo semestre de 2022. Entretanto, avaliamos que o processo de arrefecimento do mercado de trabalho deve ser intensificado nos próximos meses, diante da perspectiva de desaceleração da economia devido ao impacto do efeito total da política monetária sobre a economia.

A população ocupada avançou 1,1% t/t frente ao trimestre móvel imediatamente anterior e alta de 0,7% a/a quando comparado ao mesmo trimestre do ano anterior, alcançando o patamar de 98,9 milhões de pessoas. Por sua vez, a população desocupada recuou 8,3% t/t frente ao trimestre móvel encerrado em março, com redução de 785 mil desocupados no período e recuo de 14,2% a/a na comparação interanual. Embora o mercado de trabalho ainda apresente uma expressiva recuperação em relação aos números de 2022, vale ressaltar que esse processo vem perdendo dinamismo desde o trimestre móvel encerrado em out/22, em linha com o processo de desaceleração da economia brasileira, exceto o setor agro. Vale destacar que, para o trimestre móvel encerrado em junho, o recuo da taxa de desemprego foi devido ao aumento da população ocupada ao passo em que a taxa de participação parou de cair, sinalizando um diagnóstico mais positivo para o mercado de trabalho no mês. Esse resultado diverge das leituras dos meses anteriores em que os dados mostram que a sustentação da taxa de desemprego em um patamar mais baixo refletiu um movimento de saída de pessoas da força de trabalho.

Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado foi de 36,8 milhões de pessoas, ficando estável em relação ao trimestre anterior e crescendo 2,8% a/a (mais 991 mil pessoas) na comparação interanual. Por sua vez, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,1 milhões) cresceu 2,4% em relação ao trimestre anterior e se manteve estável frente ao ano anterior. Ademais, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,2 milhões) ficou estável no trimestre e teve redução de 491 mil pessoas no ano.

No trimestre móvel encerrado em junho de 2023, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) foi estimada em 107,3 milhões de pessoas, ficando estável em relação ao trimestre móvel anterior e redução de 0,46% em relação ao mesmo período em 2022. Esse movimento contribuiu para a trajetória de queda da taxa de desemprego iniciado ao final de 2022, sugerindo que parte do bom desempenho do mercado de trabalho não derivou de um robusto processo de criação de empregos, mas sim da elevação do salário de reserva com a expansão de políticas de transferência de renda, sobretudo do Bolsa Família.

Na comparação com o trimestre móvel anterior, houve um incremento de 1,1 milhão na população ocupada atingindo o patamar de 98,9 milhões de pessoas. Nesse sentido, o avanço no período foi liderado pelo grupamento de Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,2%, ou mais 716 mil pessoas), enquanto os demais grupamentos não apresentaram variação significativa. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve aumento em: Transporte, armazenagem e correio (4,3%, ou mais 221 mil pessoas), Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas (2,9%, ou mais 344 mil pessoas) e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,6%, ou mais 793 mil pessoas). Na ponta negativa, temos o desempenho de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (5,0%, ou menos 440 mil pessoas) e Construção (4,6%, ou menos 345 mil pessoas).

Por fim, o rendimento real habitual (R$ 2.921) apresentou estabilidade em relação ao trimestre anterior. Na comparação anual, ocorreram aumentos em Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (7,1% a/a); Indústria (4,3% a/a); Construção (7,8% a/a); Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (7,1% a/a); Alojamento e alimentação (8,2% a/a); Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (5,0% a/a); e Serviços domésticos (6,5% a/a). Por sua vez, a massa de rendimento real habitual cresceu 1,0% t/t frente ao trimestre anterior, entretanto e avançou 7,2% a/a na comparação com o mesmo trimestre de 2022.

Em suma, o mercado de trabalho segue mostrando resiliência mesmo em um ambiente adverso marcado por uma política monetária restritiva, com destaque para a volta da queda da taxa de desemprego sendo acompanhada pela alta na ocupação. Entretanto, enxergamos que o segundo semestre deve ser marcado por um arrefecimento do mercado de trabalho, em linha com o nosso cenário de perda de dinamismo da economia que deve ser marcado pela manutenção da trajetória de queda do consumo das famílias. Este movimento deve ser limitado pela baixa taxa de participação, que na nossa avaliação reflete em boa parte o aumento do salário de reserva da economia com a expansão do Bolsa Família. Por fim, esperamos uma taxa de desemprego média de 8,3% para o ano de 2023.

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