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Publicado em 27 de Junho às 13:39:01

PNAD (Mai/25):  Mercado de trabalho ainda a todo vapor

A taxa de desemprego no trimestre encerrado em maio de 2025 ficou em 6,2%, abaixo da nossa expectativa de 6,3% , vindo em linha com o piso das estimativas de mercado (Broadcast+). O número registra variação negativa de -0,6% frente ao trimestre de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025 (6,8%), e 0,9 p.p. abaixo do mesmo período do ano de 2024 (7,1%).

Seguindo o mesmo direcional das leituras anteriores, a PNAD do trimestre encerrado em maio sugere um mercado de trabalho aquecido. Olhando a série com ajuste sazonal, o aperto no mercado de trabalho se intensificou entre abril e maio, com taxa de desemprego dessazonalizada saindo de 6,3% para 6,1%. Na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro de 2025, a taxa de desemprego dessazonalizada caiu 0.36 p.p., onde registrava valor de 6,45%. Apesar da elevada taxa de juros doméstica, o mercado de trabalho segue mostrando resiliência e até intensificando seu dinamismo, comportamento que vai na direção contrária de um arrefecimento esperado de demanda.

A população ocupada voltou ao patamar registrado em dezembro de 2024 e janeiro de 2025, período de elevada sazonalidade no mercado de trabalho. A massa de rendimento real habitual aumentou 1,8% no trimestre encerrado em maio e 5,8% no crescimento anual. Vale destacar que, em condições de equilíbrio econômico entre oferta e demanda, a massa salarial deveria crescer à produtividade (~2% a.a.) somado ao crescimento populacional (~0,5% a.a.), de forma que os números atuais corroboram o desbalanceamento do mercado de trabalho em relação a sua tendência de longo prazo. Apesar disso, o crescimento anual da massa de rendimento segue em tendência de queda desde agosto de 2024, mas estabiliza na ponta em patamar ainda incompatível com a trajetória de longo prazo.

Olhando a variação interanual por setores, os destaques são transporte e armazenagem, comércio, serviços financeiros, informação e indústria. Teoricamente, esses setores deveriam registrar variação interanual mais baixa, refletindo o diferencial de juros entre os períodos. Observa-se esse comportamento no setor da construção e serviço doméstico. Já por cargo, o que mais chama atenção é o crescimento interanual do setor privado com carteira (3,7% a.a.) e o do trabalho por conta própria com CNPJ (8,9% a.a.), consistente com um aumento da taxa de participação. O setor privado sem carteira, que pode refletir melhor as condições correntes no mercado de trabalho devido a menor custos de criação, remoção e preenchimento de postos, traz um crescimento mais enquadrado com o ciclo de aperto monetário. Algo similar ocorre no lado do empregador. O saldo médio ainda é na direção oposta do esperado.

Nos salários, o crescimento interanual do rendimento médio habitual mostra algum arrefecimento, mas vale destacar o elevado ritmo de crescimento no mesmo período do ano passado (efeito base forte), bem como o fato do patamar atual de crescimento (3,1%) ainda ser inconsistente com estimativas mais otimistas de crescimento da produtividade (~2%), evidenciando mais uma vez que o desbalanceamento no mercado de trabalho segue presente. Apesar da queda marginal do crescimento real dos salários, o crescimento nominal anual não caiu tanto, de forma que parte da queda no rendimento real é explicada pelo elevado nível de inflação entre os períodos. Os salários nominais, apesar de serem mais rígidos que os preços, aumentam no médio prazo junto com o aumento da inflação.

Em nossa avaliação, o aumento da taxa de desemprego (dessazonalidada) e a redução do crescimento salarial real são evidências necessárias para o bom funcionamento do canal de transmissão da política monetária. Devido aos problemas de matching entre trabalhador e firma, custos de criação e destruição de postos de trabalho e rigidez de salários, é esperado que o mercado de trabalho seja mais resiliente aos ciclos econômicos do que os demais setores da economia. Apesar disso, era esperado uma reversão da tendência de queda, mesmo que bem modesta, sendo essa expectativa frustrada há várias e várias leituras. Em nossa avaliação, o mercado de trabalho indo na direção contrária do esperado traz algum sinal de que o arrefecimento da demanda pode ser menos intenso, trazendo riscos altistas para a inflação de serviços bem como maior duração do ciclo de aperto monetário. Adicionando na conta ainda impulsos fiscais já contratados por vir (a isenção do IR, crédito consignado, aumento dos benéficios e precatórios), pontua-se um elevado risco altista para a inflação de médio prazo, especialmente nos serviços.

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