De acordo com o IBGE, no primeiro trimestre de 2023, a taxa de desemprego ficou em 8,8% da força de trabalho, um pouco abaixo da mediana do mercado (8,9%, Broadcast). Esta foi a menor taxa para um trimestre encerrado em março desde 2015 (8,0%). Esse resultado representa uma elevação de 0,9 p.p. em relação ao 4° trimestre de 2022, e -2,4 p.p. ante o mesmo período do ano anterior. Assim, após a forte trajetória de recuperação do mercado de trabalho ao longo do último ano, os sinais de uma perda de fôlego têm levado a um aumento gradual da taxa de desemprego, o que deve continuar nas próximas leituras.
A população ocupada (97,8 milhões) registrou mais uma redução de 1,6% t/t frente ao último trimestre de 2022 e alta de 2,7% a/a, enquanto a população desocupada (9,4 milhões) cresceu 10,0% t/t e recuou 21,1% a/a. Desse modo, a taxa de ocupação (percentual das pessoas ocupadas na população em idade para trabalhar), estimada em 56,1%, caiu 1,0 p.p. no trimestre e avançou 1,0 p.p. ante igual trimestre do ano anterior, quarta leitura consecutiva de queda após a máxima histórica (57,4%). Por fim, a população fora da força de trabalho (67 milhões) cresceu 1,6% t/t ante o trimestre anterior e 2,3% a/a.
Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 36,7 milhões de pessoas, com leve queda (-0,5% t/t) em relação ao último trimestre de 2022 e crescendo 5,2% a/a. O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (12,8 milhões) caiu 3,2% t/t e aumentou 4,8% a/a. Ademais, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,2 milhões) apresentou quedas em ambas as comparações, -1,1% t/t e -0,4% a/a.
No primeiro trimestre do ano, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) foi estimada em 107,3 milhões de pessoas, redução de 0,6% t/t (menos 658 mil) frente ao trimestre terminado em dezembro de 2022 e apresentou estabilidade frente ao mesmo período do ano passado. Vale ressaltar que este é o quinto mês consecutivo de queda dessa métrica. Avaliamos que essa tendência tem contribuiu para a queda da taxa de desemprego no ano passado, sinalizando que o bom desempenho do mercado de trabalho não derivou de um robusto processo de criação de empregos, mas sim do movimento de saída de desempregados da força de trabalho.
Na comparação do último trimestre de 2022 com o primeiro de 2023, não houve aumento no contingente de ocupados de nenhum dos grupamentos de atividade. Houve reduções em Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,4% t/t), Construção (-2,9% t/t), Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,5% t/t), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (-2,4% t/t) e Outros serviços (-4,3% t/t). Na comparação anual houve retração apenas do grupamento de Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-5,2% a/a), sendo esta a sexta desaceleração consecutiva e a décima taxa de negativa, e Construção civil (-0,8% a/a), a décima primeira desaceleração e sexta taxa negativa. Este comportamento é acompanhado por outros grupamentos que, mesmo ainda apresentando taxas positivas, estão perdendo tração, como Serviços domésticos (11 meses em desaceleração) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (10 meses em desaceleração).
Por fim, o rendimento médio real habitual (R$ 2.880) teve leve aumento (0,7% t/t) frente ao último trimestre do ano passado e cresceu 7,4% a/a. A massa de rendimento real habitual (R$ 277,2 bilhões) teve queda de 0,8% t/t frente ao trimestre anterior, mas cresceu 10,8% a/a. Comparando os setores ao quarto trimestre de 2022, houve aumento considerável nos setores de Alojamento e alimentação (5,1% t/t) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (3,5% t/t). Já no ponto negativo, destaca-se o recuo de Transporte, armazenagem e correio (-3,9% t/t).
Enfim, a desaceleração do mercado de trabalho se mostrou mais disseminada. Essa nova dinâmica está em linha com os resultados mais fracos dos indicadores de atividade setorial do início de 2023, que revelam uma retração gradativa. No primeiro trimestre de 2023, houve a terceira contração consecutiva do contingente de população ocupada na comparação trimestral, enquanto houve a segunda expansão de desocupados, sendo que a taxa de março apresentou forte aceleração (10,0% t/t ante 5,5% t/t no mês anterior em relação ao trimestre encerrado em novembro). Assim, na mesma direção, a taxa de participação apresentou sua sexta queda, o que mostra a perda de força do mercado de trabalho e, em nossa visão, reflete os efeitos da expansão das políticas de transferência de renda. Apesar da desaceleração que deve se intensificar nos próximos meses, o rendimento médio real deve permanecer pressionado devido ao aumento do salário-mínimo real. Esse movimento contrário pode representar uma pressão inflacionária extra vinda dos salários, intensificando o efeito inercial do nível de preços. Por fim, a revisão dos cadastros irregulares no programa Auxílio Brasil/Bolsa Família impõe um risco altista para o desemprego no ano. Para 2023, esperamos uma taxa final de desemprego em 8,8% e de 9,3% na média do ano.