De acordo com o IBGE, no trimestre encerrado em setembro de 2023, a taxa de desemprego ficou em 7,7% da força de trabalho, vindo em linha com a mediana do mercado de 7,7% (Broadcast+). Esta foi a menor taxa desde o trimestre móvel terminado em fevereiro de 2015 (7,5%). O resultado representa um recuo -0,4 p.p. em relação ao trimestre móvel anterior, encerrado em junho, e -1,0 p.p. ante o mesmo período do ano anterior.
A população ocupada avançou 0,9% t/t frente ao trimestre móvel imediatamente anterior (mais 929,0 mil pessoas) e alta de 0,6% no ano, alcançando o patamar de 99,8 milhões de pessoas, o maior contingente registrado desde o início da série histórica (1T23). Por sua vez, a população desocupada recuou 3,8% t/t frente ao trimestre móvel encerrado em junho, com redução de 331,0 mil desocupados no período e recuo de 12,1% no ano, sendo este o menor contingente de desempregados desde o trimestre móvel encerrado em maio de 2015 (8,3 milhões).
No trimestre móvel encerrado em setembro de 2023, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) foi estimada em 108,2 milhões de pessoas, crescendo 0,6% em relação ao trimestre de abril a junho de 2023 e recuando 0,5% no ano (menos 575 mil pessoas). Por sua vez, a população fora da força de trabalho ficou estável em relação ao trimestre móvel anterior, entretanto, apresentou alta de 3,2% a/a ante o mesmo trimestre do ano anterior, sugerindo que a elevação do salário de reserva da economia decorrente da expansão de políticas de transferência de renda, impactaram o mercado de trabalho através de uma menor oferta de mão de obra.
Os números divulgados no relatório da PNAD contínua referente ao trimestre móvel encerrado em setembro, apontam para um mercado de trabalho resiliente, visto que o recuo da taxa de desemprego foi acompanhado pelo aumento da taxa de participação no trimestre, indicando que esse movimento foi decorrente de um aumento da ocupação no período. Este é um diagnóstico mais positivo para o mercado de trabalho e se soma aos resultados que vem sendo observados desde o trimestre encerrado em julho, revertendo uma tendência observada nos primeiros trimestres móveis do ano em que o recuo na taxa de desemprego foi reflexo da saída das pessoas da força de trabalho, em linha com a expansão das políticas de transferência de renda.
Já em relação às ocupações, o número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado foi de 37,4 milhões de pessoas, com alta de 1,6% no trimestre anterior (mais 587,0 mil trabalhadores) e crescendo 3,0% a/a (mais 1,1 milhão de pessoas) na comparação anual. Este foi o maior contingente desde janeiro de 2015 (37,5 milhões). Por sua vez, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado (13,3 milhões) ficou estável tanto no trimestre quanto no ano. A combinação destes resultados aponta para redução da informalidade no setor privado, que contribui para elevação do rendimento médio e da massa de rendimento real, visto que trabalhadores formais, têm, em média, rendimentos maiores. Ademais, vale destacar que o número de trabalhadores por conta própria (25,5 milhões) ficou estável tanto na comparação com o trimestre anterior e quanto ao mesmo período do ano passado.
Na comparação com o trimestre móvel anterior, houve um incremento de 929,0 mil pessoas na população ocupada atingindo o patamar de 99,8 milhões de pessoas. Nesse sentido, houve avanço nos grupamentos: Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3,5%, ou mais 420 mil pessoas), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (1,2%, ou mais 210 mil pessoas) e Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,7%, ou mais 134 mil pessoas). De maneira geral, além do bom desempenho desses três grupos, o resultado positivo também está relacionado com o fato de nenhum grupo ter registrado dispensa de trabalhadores. Em relação ao trimestre encerrado em setembro de 2022, houve alta em: Transporte, armazenagem e correio (4,3%, ou mais 226 mil pessoas); Alojamento e alimentação (3,9%, ou mais 209 mil pessoas); Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,2%, ou mais 617 mil pessoas); e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (3,9%, ou mais 685 mil pessoas). Por outro lado, houve redução em: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-3,8%, ou menos 334 mil pessoas) e Outros serviços (-4,5%, ou menos 246 mil pessoas).
Por fim, o rendimento real habitual (R$ 2.982,0) apresentou alta de 1,7% em relação ao trimestre anterior e de 4,2% frente ao mesmo período do ano passado. Vale destacar que na comparação com o trimestre anterior, houve aumento no rendimento médio dos Empregados com carteira no setor privado (1,9%), Empregados no setor público (2,1%) e trabalhadores por conta própria (2,3%). Entre as atividades, os destaques vão para os rendimentos dos trabalhadores da Indústria (5,3%), Outros serviços (4,9%) e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (1,7%). Na comparação anual, os principais destaques vão para: Indústria (6,3%, ou mais R$ 174,0); Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (2,6%, ou mais R$ 62,0), Alojamento e alimentação (12,3%, ou mais R$ 218,0), Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,3%, ou mais R$ 169,0), Serviços prestados principalmente às empresas (4,2%, ou mais R$ 175) e Outros Serviços (4,9%, ou mais R$ 110,0). Os demais grupamentos não apresentaram variação significativa. Por sua vez, a massa de rendimento real habitual avançou 2,7% frente ao trimestre anterior, atingindo o patamar mais elevado da série histórica (R$ 293,0 bilhões), refletindo os efeitos da expansão da população ocupada e o aumento da massa de rendimento real, e aumento de 5,0% na comparação interanual.
Em suma, o mercado de trabalho segue mostrando resiliência mesmo em um ambiente adverso marcado por uma política monetária restritiva, com destaque para a continuidade do processo de queda da taxa de desemprego acompanhado por uma elevação na taxa de ocupação e redução da população desalentada para o menor nível desde o trimestre encerrado em set/16. Entretanto, devido ao efeito ainda mais defasado da política monetária sobre o mercado de trabalho, enxergamos que o segundo semestre do ano deve ser marcado por um arrefecimento dos indicadores do mercado de trabalho, em linha com alguns sinais que já podem ser capturados nos indicadores setoriais mensais, que apontam para a perda de dinamismo da atividade econômica. Este movimento deve ser limitado pela queda da taxa de participação, que na nossa avaliação reflete em boa parte o aumento do salário de reserva da economia com a expansão do Bolsa Família. Dessa forma, projetamos que a taxa de desemprego média fique em 8,2% para o ano de 2023.