Em abril, a Produção Industrial apresentou queda de 0,6% m/m, na série com ajuste sazonal, vindo pior que a mediana do mercado de -0,3% m/m (Broadcast+). A leitura foi composta por retrações generalizadas, tanto na Indústria Extrativa (-1,1% m/m, ante -0,2% m/m), quanto na Indústria de Transformação (-0,6% m/m, ante 1,4% m/m) e na Indústria Geral (-0,6% m/m, ante 1,0% m/m). No acumulado no ano, a Indústria apresenta retração de 1,0%. Na variação interanual, houve recuo de 2,7% a/a, com resultados negativos em 18 dos 25 ramos pesquisados. Com este resultado, a Indústria se encontra 18,5% abaixo do nível recorde de maio de 2011 e 2,0% abaixo do patamar observado durante o período pré-pandemia (fev/20).
Na composição de abril, 2 das 4 grandes categorias econômicas e 16 dos 25 ramos econômicos pesquisados mostraram contração da produção. Nas categorias de uso, as quedas ocorreram nos Bens de Consumo Duráveis (-6,9% m/m) e nos Bens de Capital (-11,5% m/m). Além disso, os Bens Intermediários apresentaram alta de 0,4% m/m e os Bens Semiduráveis e não Duráveis tiveram alta de 1,1% m/m, impactados positivamente pelo crescimento da produção de Têxteis e Vestuário e acessórios. Entre as atividades, as principais influências negativas foram: Produtos de metal (-9,4% m/m); Máquinas e equipamentos (-9,9% m/m), eliminando o crescimento de 6,7% m/m observado em março; Veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,6% m/m), resultante do cenário macroeconômico adverso marcado por uma taxa de juros significativamente restritiva e a manutenção de gargalos na obtenção de insumos; e Produtos alimentícios (-3,2% m/m), que acumula o quarto mês consecutivo de contração, com o resultado do mês sendo influenciado pelo vetor negativo advindo da produção de açúcar devido a um maior volume de chuvas nas regiões produtoras de cana-de-açúcar.
Comparando a atividade industrial das categorias com o nível registrado no período pré-pandemia temos que 7 delas já retomaram e ultrapassaram o patamar anterior. Dentre elas se destacam: veículos (15,2% acima) e outros produtos químicos (6,8% acima). Por outro lado, itens como Metalurgia, informática e eletrônicos, máquinas e equipamentos e Outros equipamentos de transporte ainda se situam 13,2%, 21,0%, 19,7% e 27,0% abaixo do pré-pandemia, respectivamente. Já em relação às máximas históricas, todas as categorias de uso ainda se situam consideravelmente abaixo dos seus respectivos picos. Os Bens Duráveis se situam 42,7% abaixo do pico de março de 2011, enquanto para os Bens Semiduráveis a diferença é de 14,6% para o ápice de junho de 2013. Os Bens de Capital também apresentaram queda expressiva (-34,5%) em comparação com o nível máximo de produção atingido em abril de 2013. Por sua vez, os Bens Intermediários situam-se 15,3% aquém do pico observado em maio de 2011.
Diante disso, o resultado de abril contribui para reforçar o enfraquecimento da atividade brasileira no ano. A produção industrial recuou 2,7% em relação ao mesmo mês de 2022, acumulando queda de 0,2% em 12 meses e de 1,0% no ano de 2023, sinalizando a continuidade da trajetória de desaceleração da atividade industrial. Vale destacar que a elevação do grau de incerteza jurídica e econômica deve continuar desestimulando os investimentos nos próximos meses e deve penalizar o desempenho da Indústria, sobretudo a produção de Bens de Capital ao longo do ano. Com a expectativa de manutenção da taxa Selic em 13,75% por mais tempo, setores industriais ligados ao crédito continuarão sendo penalizados pelo encarecimento do custo do crédito e aumento gradativo da inadimplência, sendo este um importante vetor baixista para o desempenho da Indústria em 2023. Além disso, a persistência dos gargalos na obtenção de insumos na indústria automotiva (semicondutores) deve continuar impactando negativamente a produção industrial nas próximas leituras. Diante disso avaliamos que a combinação entre um cenário macroeconômico adverso e gargalos ainda presentes, sobretudo na indústria automotiva, serão importantes limitadores do desempenho da produção nos próximos meses, que deve continuar apresentando resultados negativos próximos à estabilidade.