Em dezembro, a produção industrial ficou constante marginalmente, com 0,0% m/m (série com ajuste sazonal), resultado em linha com o consenso de mercado. Nesse mês, houve recuo de 1,1% m/m da indústria extrativa, o segundo mês consecutivo de baixa, e expansão de 0,3% m/m da indústria de transformação, que emplaca três meses sem recuos.
Na variação interanual, o setor teve sua primeira queda depois de quatro avanços consecutivos, registrando -1,3% a/a em dezembro. Assim, em 2022, a indústria acumulou baixa de 0,7% após acumular alta de 3,9% em 2021. Com este resultado, o setor industrial permanece 2,2% abaixo do patamar pré-pandemia (fev/20) e 18,5% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Vale destacar que houve uma certa deterioração do setor ao longo do ano. No quarto trimestre de 2022, o setor industrial, ao recuar 0,5% t/t, permaneceu com o comportamento negativo observado no terceiro trimestre de 2022 (-0,3% t/t), quando interrompeu três variações positivas em relação ao trimestre imediatamente anterior. Quando fazemos a comparação com o mesmo trimestre de 2021, há uma recuperação no último semestre, com avanço de 0,9% a/a e 0,5% a/a no terceiro e quarto trimestre, após quatro variações negativas seguidas. Com isso, podemos perceber que, houve uma certa melhora em relação ao ano anterior, mas a indústria teve uma perda considerável de ritmo ao longo de 2022.
No mês de dezembro, três das quatro grandes categorias econômicas e 11 dos 26 ramos pesquisados mostraram crescimento na produção. Entre as atividades, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,4% m/m) teve destaque por registrar o terceiro mês consecutivo de expansão, acumulando avanço de 6,8%. A principal contribuição positiva veio de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (9,1%), que ainda eliminou a queda de 0,4% verificada no mês anterior. Por outro lado, produtos alimentícios (-2,6%) e metalurgia (-5,1%) exerceram os principais impactos no mês, com ambos interrompendo dois meses seguidos de avanço, quando acumularam crescimento de 8,5% e 8,6%, respectivamente.
Entre as categorias econômicas, bens de consumo duráveis apesentaram o maior avanço do mês, com 4,1% m/m. Com este resultado, foi possível eliminar parte da perda de 4,6% acumulada entre setembro e novembro. Na mesma direção, bens de consumo semi e não duráveis (3,2% m/m), bens de consumo (2,2% m/m) e bens de capital (1,8% m/m) também apresentaram crescimento. A primeira marcou o terceiro mês consecutivo de expansão da produção, acumulando 4,5% de crescimento, a segunda tem terceiro mês sem quedas, acumulando 2,6% no período, e a terceira intensificou a marca positiva de novembro (0,8% m/m). Na ponta negativa, houve recuo de bens intermediários (-2,2% m/m). Com o único resultado de retração do mês, interrompeu os dois meses consecutivos de crescimento na produção, período em que havia acumulado ganho de 0,9%.
Diante disso, o ano de 2022, mais uma vez, não foi positivo para a produção industrial. Com este resultado, a indústria opera em um patamar semelhante ao observado em janeiro de 2009. O encarecimento do custo do crédito e a elevação da inadimplência entre pessoas físicas e jurídicas são fatores que contribuem para a deterioração do setor, o que nos leva a projetar um ano de 2023 igualmente desafiador. Acreditamos que o cenário macroeconômico adverso, aliado à normalização do perfil de consumo de bens para serviços e as incertezas em torno da política fiscal a ser adotada pelo novo governo, limitarão o desempenho do setor nos próximos meses. Embora a produção de bens de capital esteja em um patamar significativamente acima do nível observado durante o pré-pandemia (14,1%), refletindo os efeitos positivos das reformas econômicas aprovadas nos últimos anos, acreditamos que esse segmento deve ser penalizado nos próximos meses, diante das expectativas de ausência de avanços na agenda de reformas estruturais. Por fim, todas as quatro grandes categorias e a maioria dos ramos (17 de 26) e produtos (62,4%) apresentaram queda em 2022, o que revela um perfil disseminado da retração industrial que deve persistir nos próximos meses.