No primeiro mês de 2022, a produção industrial recuou 2,4% m/m frente dezembro (série com ajuste sazonal), pior que o projetado pelo mercado, que aguardava contração de 1,8% m/m (Broadcast). O destaque no mês vai para a queda na produção de veículos e na indústria extrativa. Na variação interanual, a indústria recuou 7,2% a/a.
A queda em janeiro foi mais disseminada entre as atividades, apresentando um baixo índice de difusão (25%). Houve recuo em todos os quatro grandes grupos e em 20 das 26 atividades pesquisas. Apesar de muitas atividades terem apresentado queda, a produção de veículos (-17,4%) e a indústria extrativa (-5,2%) puxaram o índice no mês. O setor extrativo foi impactado pelas fortes chuvas ocorridas em Minas Gerais que provocaram paralisação da produção de minério de ferro durante o mês. Além disso, o setor automotivo vem apresentando desarticulação da cadeia produtiva, com dificuldades para obtenção de insumos de produção. Outro ponto que vale destacar é o impacto da variante Ômicron na atividade em janeiro: diversas empresas relataram dificuldade de produção por conta do afastamento de funcionários diagnosticados com Covid-19.
Os destaques positivos no mês ficaram com a produção de derivados de petróleo (3,5%) e alimentos (1,4%). Com o resultado de janeiro, o setor industrial se encontra 3,5% abaixo do nível pré pandemia (fev/20). Além disso, deixa um carrego estatístico de -0,6% para o 1º trimestre de 2022.
A indústria apresentou queda em nove dos últimos treze meses. Os últimos meses foram marcados pelo desarranjo das cadeiras produtivas globais que provocaram forte escassez de matéria primas, por exemplo, semicondutores para indústria automotiva, tendo sido frequente a paralisação das plantas industriais ao longo do ano por falta de insumos importantes. A previsão de normalização para esses componentes (chips), que anteriormente era estimada ao final de 2022, pode ser postergada pelo início do conflito entre Rússia e Ucrânia. Esses dois países são importantes produtores de paládio e gás neônio, que são insumos fundamentais para produção de chips.
Além disso, em um cenário de aumento da inflação global houve forte encarecimento dos custos, penalizando as margens dos produtores, que nem sempre conseguem repassar integralmente para os consumidores, num cenário de atividade econômica fraca e redução do poder de compra real com o aumento dos preços. Novamente, o conflito entre Rússia e Ucrânia impõe viés negativo para o setor industrial, com aumento da inflação (custos) e atividade. Uma política monetária ainda mais contracionista piora ainda mais a recuperação do setor. Por outro lado, a recente redução do IPI (em 25%) deve proporcionar um certo alívio para o setor industrial, amortecendo o forte aumento das commodities e beneficiando o giro das empresas.
Para fevereiro, os resultados para o setor industrial são mistos. Por um lado, a sondagem da indústria medida pela FGV apresentou recuo de 1,7% m/m e o PMI industrial ficou em 49,6, permanecendo abaixo de 50. Entretanto, a sondagem da CNI apresentou avanço de 3,6% m/m.