Em março, a Produção Industrial variou 1,1% m/m, na série com ajuste sazonal, vindo acima da mediana do mercado de 0,9% (Broadcast+). Nos últimos três meses a queda acumulada é de 0,4%, frente ao mesmo período do ano anterior. Na variação interanual, houve avanço de 0,9 % a/a. Já o acumulado nos últimos doze meses apresentou estabilidade (0,0%). A leitura foi composta por uma retração da Indústria Extrativa Mineral (-0,1% m/m, ante 4,4% m/m) que foi compensada por uma melhora na Indústria de Transformação (1,4% m/m, ante -0,3% m/m). Com isso, a indústria se encontra 17,9% abaixo do nível recorde de maio de 2011 e 1,3% abaixo do patamar pré-pandemia (fev/20).
Na composição da retração de fevereiro, 3 das 4 grandes categorias econômicas e 16 dos 25 ramos econômicos pesquisados mostraram avanço na produção. Nas categorias de uso, os avanços ocorreram nos bens de consumo duráveis (2,5% m/m), nos bens de capital (6,3% m/m), ambos beneficiados pela expansão da produção de Veículos automotores, reboques e carrocerias, que se beneficiaram do arrefecimento dos gargalos nas cadeias de produção e de uma base de comparação mais depreciada. Por fim, os bens intermediários apresentaram alta de 0,9% m/m, com destaque para a produção de Máquinas e equipamentos (7,4% m/m). Em contrapartida, os bens Semiduráveis e não duráveis tiveram contração de 0,5% m/m. Entre as atividades, as principais influências positivas foram: Equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (6,7%), Produtos farmacêuticos (3,2% m/m), Produtos químicos (0,6% m/m), Outros equipamentos de transporte (4,8% m/m) e Produtos minerais não metálicos (1,2% m/m).
Comparando a atividade industrial das categorias com o nível registrado no período pré-pandemia temos que 7 delas retomaram e já ultrapassaram o patamar anterior. Dentre elas se destacam: veículos (23,1% acima) e máquinas e aparelhos (13,6 % acima). Por outro lado, itens como outros equipamentos de transporte, produtos diversos, informática e eletrônicos e têxteis ainda se situam 27%, 15,9%, 18,4% e 13,6% abaixo do pré-pandemia, respectivamente. Já em relação às máximas históricas, todas as categorias de uso ainda se situam consideravelmente abaixo dos seus respectivos picos. Os bens duráveis se situam 38,1% abaixo do pico de março de 2011, enquanto para os bens semiduráveis a diferença é de 15,6% para o ápice de junho de 2013. Os bens de capital também apresentaram queda expressiva (-26,6%) em comparação com o nível máximo de produção atingido em abril de 2013. Por sua vez, os bens intermediários situam-se 15,7% aquém do pico observado em maio de 2011.
Diante disso, o resultado de março contribui para reforçar os dados mistos sobre a atividade brasileira no primeiro trimestre do ano. A produção industrial ficou estável (0,0% t/t) no primeiro trimestre de 2023 ante o último do ano passado, recuando da alta de 0,2% t/t anterior, sinalizando a continuidade da trajetória de desaceleração da atividade industrial. Com a expectativa de manutenção da taxa Selic em 13,75% por mais tempo, setores industriais ligados ao crédito continuarão sendo fortemente penalizados pelas altas taxas de juros e aumento gradativo da inadimplência tanto para pessoas físicas quanto jurídicas. Além disso, a persistência dos gargalos na obtenção de insumos na indústria automotiva (semicondutores) é um vetor negativo adicional ao cenário de desaceleração da indústria nos próximos meses. Por fim, nosso viés negativo também é reforçado pelas medidas recentes do governo, entre elas, a tentativa de reestatizar a Eletrobrás, que obstruem a atração de investimentos para o médio e longo prazo dado o aumento da incerteza, desestimulando os investimentos. Em suma, acreditamos que o bom desempenho do setor no mês de março não reflete uma melhora no cenário prospectivo, mas uma base de comparação depreciada. Diante disso avaliamos que a combinação entre um cenário macroeconômico adverso e gargalos ainda presentes, sobretudo na indústria automotiva, será um importante limitador do desempenho da produção nos próximos meses.