No mês de abril, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 1,68 bilhão, ante superávit de US$ 100 milhões no mesmo mês do ano anterior. O resultado veio pior do que o piso das projeções de mercado (-US$ 1,5 bilhão) e do que o consenso, cuja projeção era de superávit de US$ 50 milhões no mês (Broadcast+). No acumulado no ano, a conta corrente apresentou déficit de US$ 13,7 bilhões. Já no acumulado dos últimos 12 meses encerrados em abril, o déficit é de US$ 54,2 bilhões, equivalente a 2,76% do PIB, comparativamente a um déficit de US$ 44,6 bilhões (2,56% do PIB) em abril de 2022.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 6,9 bilhões (o melhor resultado para o mês desde abril de 2021 e o segundo melhor da série histórica), ante US$ 6,8 bilhões em abril do ano passado. As exportações de bens totalizaram US$ 27,6 bilhões, redução de 5,7% a/a. Já as importações de bens diminuíram 8,0% a/a, totalizando US$ 20,6 bilhões. A manutenção de um bom resultado na balança comercial se deu pelo crescimento da produção do setor agropecuário, expresso no aumento das exportações de grãos.
Já a conta de serviços apresentou novo déficit de US$ 3,2 bilhões em abril, com queda de 1,2% a/a (déficit de US$ 3,19 bilhões ano passado). A conta de transportes registrou despesas líquidas de US$1,0 bilhão, recuo de 26,1% a/a, influenciada por menores gastos em fretes (-34,6% a/a). As despesas líquidas com aluguel de equipamentos somaram US$746 milhões, aumento interanual de 20,6% a/a. As despesas líquidas na rubrica de viagens internacionais aumentaram 11,4% a/a e somaram US$784 milhões, com aumentos de 14,6% a/a (para US$452 milhões) nas receitas e de 12,6% a/a nas despesas (para US$1,2 bilhão).
O déficit em renda primária somou US$5,4 bilhões em abril de 2023, aumento de 41,5% a/a comparativamente ao déficit de US$3,8 bilhões em abril de 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$3,8 bilhões, ante US$3,0 bilhões em abril de 2022. As receitas de lucros e dividendos totalizaram US$1,5 bilhão em abril de 2023, comparativamente a US$2,0 bilhões em abril de 2022, explicando a maior parte do incremento interanual das despesas líquidas. As despesas líquidas com juros somaram US$1,5 bilhão em abril de 2023, US$737 milhões superiores ao resultado de abril de 2022, influenciadas por maiores despesas brutas em operações intercompanhia e em outros investimentos.
Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 3,3 bilhões em abril, consideravelmente pior que o resultado do mesmo mês do ano anterior (US$ 11,1 bilhões), e abaixo do piso das estimativas dos analistas (US$ 3,9 bilhões, Broadcast+). No mês houve ingressos líquidos de US$4,4 bilhões em participação no capital e amortizações líquidas de US$1,1 bilhão em operações intercompanhia. O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$82,0 bilhões (4,17% do PIB) em abril de 2023, ante US$89,7 bilhões (4,57% do PIB) no mês anterior e US$54,3 bilhões (3,12% do PIB) em abril de 2022. O montante é suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2,76% do PIB nos 12 meses.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram entradas líquidas de US$1,1 bilhão em abril de 2023, resultado de entradas líquidas de US$1,5 bilhão em ações e fundos de investimento e de saídas líquidas de US$424 milhões em títulos de dívida. Nos doze meses encerrados em abril de 2023, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$10,3 bilhões. Os investimentos estrangeiros em carteira tiveram entrada líquida de US$ 3,26 bilhões em abril, ante US$ 3,83 bilhões ano passado. No mercado de renda fixa, entraram liquidamente US$ 1,75 bilhão, já o fluxo de investimentos estrangeiros em ações via bolsa de valores resultou na entrada de US$ 1,37 bilhão.
Em nossa avaliação, o aumento da incerteza sobre a trajetória econômica global de curto e médio prazo, que impõe um viés de baixa sobre a atividade econômica, segue sendo um fator negativo para as exportações. No Brasil, destacamos o setor agropecuário como um impulsionador da economia doméstica, que segue em trajetória de desaceleração diante do forte ciclo de aperto monetário, o que tende a desestimular as importações. Ademais, há novos fatores de preocupação. Políticas de reversão da globalização como aquelas que propõem a aproximação (nearshoring/friendshoring) ou a internalização (reshoring) das cadeias produtivas tenderão a remoldar os fluxos internacionais de capitais, levando a uma realocação dos investimentos. Tendo como prioridade a reformulação das cadeias de suprimento globais, privilegiando as relações entre os países ricos, esse movimento tende a desfavorecer países emergentes, como o Brasil, com uma diminuição do fluxo de investimentos. Além disso, já foi possível identificar nessa leitura o impacto negativo da contestação da privatização da Eletrobras no STF no resultado do IED/IDP. Mais um fator de redução do fluxo de investimentos no médio e longo prazo. Ainda assim, no curto prazo, o fluxo de Investimento Direto no País (IDP) deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga.