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Publicado em 25 de Setembro às 12:44:51

Setor Externo (ago/23): Investimento Direto no País (IDP) continua surpreendendo para baixo

No mês de agosto, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 778 milhões, ante resultado negativo de US$ 7,0 bilhões no mesmo mês do ano anterior. O resultado veio abaixo da mediana de mercado (-US$ 2,1 bilhões, Broadcast+). No acumulado do ano até agosto, a conta corrente apresentou déficit de US$ 19,5 bilhões. Já no acumulado dos últimos doze meses encerrados em agosto, o déficit é de US$ 45,3 bilhões, equivalente a 2,21% do PIB, comparativamente a um déficit de US$ 53,6 bilhões (2,94% do PIB) em agosto de 2022.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 7,6 bilhões, ante US$ 2,6 bilhões em agosto do ano passado. As exportações de bens totalizaram US$ 31,4 bilhões, avanço de 0,8% a/a. Já as importações acentuaram a queda na métrica anual, saindo de um recuo de 15,6% a/a para um de 16,8% a/a, totalizando US$ 23,8 bilhões. Essa redução das importações ao mesmo tempo em que as exportações apresentaram uma leve alta aponta para uma desaceleração da atividade econômica mais pronunciada no Brasil do que no resto do mundo. O resultado do PIB do segundo trimestre surpreendeu para cima no caso dos Estados Unidos, enquanto a Zona do Euro conseguiu deixar para trás o quadro de recessão técnica no qual se encontrava. Já a China, principal destino dos produtos brasileiros, passou apresentar alguns sinais mais promissores de estabilização da atividade econômica depois das várias medidas de estímulo por parte do governo.

A conta de serviços apresentou novo déficit de US$ 2,9 bilhões em agosto, com queda de 23,2% a/a (déficit de US$ 3,7 bilhões no mesmo mês do ano passado). As despesas líquidas com viagens internacionais contraíram 0,8% a/a e somaram US$ 615 milhões com a volta do setor de turismo após a reabertura de vários destinos que ainda não estavam disponíveis nessa mesma época do ano passado. A conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,0 bilhão, recuo de 48,5% a/a, ainda por conta dos menores gastos com fretes. As despesas líquidas com o aluguel de equipamentos somaram US$ 794 milhões, um avanço interanual de 12,9% a/a.

O déficit em renda primária somou US$ 5,6 bilhões em agosto, queda de 8,2% a/a comparativamente ao déficit de US$ 6,1 bilhões em agosto de 2022. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 3,9 bilhões, ante US$ 4,9 bilhões em agosto de 2022. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 1,8 bilhão em agosto de 2023, ante US$ 1,3 bilhão em agosto de 2022.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 4,3 bilhões em agosto, menos da metade dos US$ 10,0 bilhões registrados no mesmo mês do ano anterior e abaixo também da mediana das estimativas dos analistas (US$ 5,3 bilhões, Broadcast+). Em agosto, houve ingressos líquidos de US$ 5,2 bilhões em participação no capital e saídas de US$ 1,0 bilhão em operações intercompanhia. No acumulado de doze meses, o IDP totalizou US$ 65,9 bilhões (3,21% do PIB) em agosto, ante US$ 71,7 bilhões (3,53% do PIB) em julho deste ano e US$ 64,9 bilhões (3,55% do PIB) em agosto de 2022. Já no acumulado do ano até julho, o IDP soma US$ 37,9 bilhões. Para esse ano, a nossa estimativa é de que o IDP feche o ano com entradas líquidas de cerca de US$ 70 bilhões, abaixo do consenso de mercado. Ainda assim, no curto prazo, o fluxo de IDP deverá continuar financiando os déficits em transações correntes com alguma folga. O montante atual é mais do que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2,21% do PIB dos últimos doze meses.

Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram saídas líquidas de US$ 807 milhões em agosto de 2023, compostos por um fluxo negativo de US$ 113 milhões em fundos de investimento e US$ 2,2 bilhões em ações brasileiras, além de um fluxo positivo de US$ 1,5 bilhão em ativos de renda fixa no país. No acumulado de 2023, os respectivos resultados foram de -US$ 2,0 bilhões, -US$ 829 milhões e US$ 5,9 bilhões. Já na métrica de doze meses encerrados em agosto, os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram ingressos líquidos de US$ 11,3 bilhões.

Dada a nítida piora nos resultados fiscais, assim como a perspectiva de deterioração futura, o Brasil muito dificilmente retomará o grau de investimento, o selo internacional de bom pagador que atesta a qualidade do país e que é indispensável para que alguns fundos de investimentos externos possam aportar recursos no Brasil. Num cenário de políticas industriais agressivas a nível global, sairiam como as maiores receptoras dos fluxos de investimentos as economias com um maior espaço fiscal, por serem elas as capazes de conceder os maiores subsídios. Ações do tipo tendem a privilegiar os fluxos de capitais em prol das economias desenvolvidas, com menos recursos sendo direcionados para países emergentes como o Brasil. Isso pode ter impactos diretos sobre o Novo PAC, que pode não conseguir o volume de investimentos externos que espera pelo fato das isenções fiscais e subsídios para programas de transição energética serem maiores nos países desenvolvidos. Vale destacar que depois de aprovar a Lei de Redução de Inflação (IRA) em 2022, os Estados Unidos já passaram a registrar um aumento considerável no influxo de investimentos externos.

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