No mês de agosto, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 6,6 bilhões, ante resultado negativo de US$ 1,0 bilhão no mesmo mês de 2023, sendo esse o pior resultado para o mês desde 2014. O resultado veio pior do que o consenso de mercado (-US$ 5,2 bilhões, Broadcast+), com o déficit superando também a nossa previsão (-US$ 3,6 bilhões). No acumulado dos último doze meses, o resultado foi de -US$ 38,6 bilhões (1,75% do PIB), registrando forte piora em relação aos -US$ 33,0 bilhões (1,49% do PIB) dos doze meses encerrados em julho. O número de agosto reforçou a deterioração na dinâmica das transações correntes resultante do crescimento robusto que vem sendo registrado pela economia brasileira.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 4,0 bilhões, ante US$ 8,8 bilhões em agosto de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 29,2 bilhões, queda de 6,8% a/a, ante alta de 9,2% a/a no mês imediatamente anterior. As importações, por sua vez, atingiram US$ 25,2 bilhões, com uma expansão de 12,0% a/a em agosto após avanço de 15,2% a/a em julho, puxadas pela demanda interna aquecida. Com este resultado, no acumulado dos últimos doze meses, o superávit foi de US$ 82,1 bilhões (US$ 344,8 bilhões em exportações e US$ 262,7 bilhões em importações). Daqui em diante, a tendência de desaceleração das principais economias globais deve impor uma pressão baixista sobre os preços das commodities o que, aliada com o aumento da demanda doméstica, deve pesar sobre a balança comercial.
A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,7 bilhões em agosto, uma alta de 53,4% a/a (déficit de US$ 3,1 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais avançaram 24,6% a/a e somaram US$ 766 milhões por conta de alguma recuperação do real frente ao dólar em agosto. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,5 bilhão, alta de 49,3% a/a, ainda pressionada pelos preços dos fretes, mas que devem apresentar arrefecimento daqui em diante. Junto com a balança comercial, a balança de serviços se apresentou como uma das principais responsáveis pelo aumento do déficit em transações correntes.
Já o déficit em renda primária foi de US$ 6,2 bilhões em agosto, queda de 12,1% a/a comparativamente ao déficit de US$ 7,0 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 4,3 bilhões, ante US$ 5,2 bilhões em agosto de 2023, um recuo de 18,7% a/a. Já as despesas líquidas com juros que somaram US$ 1,9 bilhões em agosto, uma alta de 7,8% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Em agosto, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram ingressos líquidos de US$ 2,6 bilhões. Esse montante foi composto por um fluxo positivo de US$ 592 milhões em ações brasileiras, US$ 23 milhões de investimentos em fundos e US$ 2,0 bilhões em renda fixa. O investimento líquido em carteira se recuperou no mês por conta de alguns fatores. O aumento esperado no diferencial de juros entre o Brasil e as principais economias desenvolvidas por conta de ciclos de política monetária que estão se movendo em direções opostas serviu para tornar o país mais atrativo ao capital externo. Além disso, houve uma percepção por parte dos gestores que o Brasil, por vir surpreendendo positivamente em termos de crescimento econômico, deve apresentar uma melhor performance relativa em relação aos pares emergentes e latino-americanos, o que ajudou a recuperar parte do fluxo estrangeiro de recursos para o país que havia saído ao longo do ano.
Em relação a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 6,1 bilhões em agosto, um pouco abaixo do que foi registrado no mesmo mês de 2023 (US$ 7,3 bilhões), vindo basicamente em linha com a nossa projeção de US$ 6,4 bilhões e abaixo da mediana do mercado (US$ 7,5 bilhões, Broadcast+). O resultado de agosto levou o IDP acumulado em doze meses para US$ 70,6 bilhões (3,19% do PIB). Diferentemente dos meses anteriores, nos quais o destaque do IDP se deu pelas operações intercompanhia, desta vez os ingressos líquidos em participação no capital responderam pela maior parcela do investimento direto (US$ 5,8 bilhões), sendo US$ 4,2 bilhões em lucros reinvestidos e US$ 1,5 bilhões em participação no capital propriamente dito. Por fim, apesar de o IDP não ter sido capaz de financiar o déficit em transações correntes no mês de agosto, no médio prazo o cenário ainda é benigno, embora menos promissor do que nos últimos anos e do que se esperava para 2024.