No mês de dezembro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 10,9 bilhões, ante déficit de US$ 7,7 bilhões em dez/21, vindo pior que a mediana das projeções que apontava para um déficit de -US$ 6,6 bilhões (Broadcast+). Desse modo, o déficit em doze meses até dezembro de 2022 é de US$ 55,7 bilhões, isto é, 2,92% do PIB, comparativamente a US$ 46,4 bilhões (2,81% do PIB) em 2021, o pior resultado desde 2019. Esse aumento e US$ 9,3 bilhões refletiu às ampliações nos déficits de serviços (US$ 13 bilhões), e de renda primária (US$ 4,9 bilhões), compensadas parcialmente por aumento de US$ 8,0 bilhões no superávit comercial.
No que se refere à balança comercial, a mesma apresentou um superávit de US$ 3,2 bilhões no mês, ante superávit de US$ 2,7 bilhões em dez/21. O resultado refletiu o saldo de US$ 27,4 bi de exportações e de US$ 24,2 na importação de bens, incrementos de 10,9% a/a e 10,5% a/a em relação à dez/21, respectivamente. No ano, as exportações e as importações de bens registraram os maiores valores da série histórica. As exportações somaram US$ 340,7 bilhões, alta de 19,9% a/a em relação à 2021, enquanto as importações totalizaram US$ 296,3 bilhões, acréscimo de 19,6% a/a em relação ao mesmo período. No ano, o saldo da balança comercial foi de superávit de US$ 44,4 bilhões, representando alta de 22,1% a/a em relação à 2021 (US$ 36,4 bilhões).
Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 4,6 bilhões em dezembro, alta de 49,5% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior. Com a retomada pós-pandemia, o déficit de viagens se elevou em cerca de 39,2% em comparação com dezembro do ano passado, indo a US$ 575 milhões, ao passo que as despesas com transportes se reduziram em 10,2%, somando US$ 1,4 bilhão, ante US$ 1,6 bilhão em dez/21. Por sua vez, o aluguel de equipamentos teve despesas líquidas de US$ 844 milhões, aumento de 28,4% em relação à dez/21. Com este resultado, no ano de 2022, o déficit em serviços foi de US$ 40 bilhões, alta de 48,4% se comparado ao resultado do ano anterior (US$ 27 bilhões). Esse resultado refletiu, principalmente, as elevações nas despesas líquidas com transportes (US$ 5,8 bilhões) e de viagens (US$ 4,9 bilhões).
O déficit na conta de renda primária acompanhou esse movimento de serviços e também apresentou elevação do déficit em relação à dez/21, saindo US$ 7,7 bilhões para US$ 9,7 bilhões, representando alta de 24,7% a/a. Deve se destacar a elevação de 25,6% a/a do déficit na renda de investimentos, com destaque para despesa líquida com lucros e dividendos, que teve alta de 34,5% a/a, indo de déficit de US$ 3,3 bilhões para US$ 4,5 bilhões. Além disso, as despesas líquidas com juros de operações intercompanhia apresentaram alta de 54,7% a/a, saindo de US$ 1 bilhão para US$ 1,6 bilhão. Vale destacar que as despesas líquidas com juros somaram US$ 3,0 bilhões, ante US$ 2,4 bilhões em dez/21. No ano, o déficit em renda primária totalizou US$ 63,9 bilhões, ficando 8,3% a/a acima do déficit ocorrido em 2021 (US$ 59,0 bilhões). Este resultado refletiu o aumento das despesas líquidas de lucros e dividendos que somaram US$ 44,7 bilhões, alta de 16,4% a/a, enquanto as despesas líquidas de juros somaram US$ 19,2 bilhões, ligeiramente inferiores aos US$ 20,6 bilhões de 2021.
Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou US$ 5,6 bilhões em dezembro, uma robusta melhora frente ao déficit de US$ 5,2 bilhões em dezembro de 2021, e vindo acima do consenso de mercado de US$ 5,5 bilhões (Broadcast+). Os ingressos líquidos em participação no capital atingiram US$ 5,0 bilhões, compostos por lucros reinvestidos negativos de US$ 320 milhões e o ingresso líquido de US$ 5,3 bilhões em participação no capital exceto lucros reinvestidos. No ano de 2022, o IDP totalizou US$ 90,6 bilhões (4,76% do PIB), o maior ingresso líquido desde 2012 (US$ 92,6 bilhões), ante US$ 46,4 bilhões (2,82% do PIB) em 2021. Este resultado refletiu o aumento de US$ 16,0 bilhões nos lucros reinvestidos, que passaram de US$ 16,9 bilhões em 2021 para US$ 32,9 bilhões e de US$ 6,6 bilhões em participação no capital exceto lucros reinvestidos (passou de US$ 30 bilhões em 2021 para US$ 36,6 bilhões em 2022). Por fim, as operações intercompanhia aumentaram em US$ 21,5 bilhões, com ingressos líquidos de US$ 21,1 bilhões, ante saídas líquidas de US$ 446 milhões em 2021.
Ainda no que se refere à conta financeira, dezembro foi um mês de entrada líquida de investimentos em fundos (US$ 817,7 milhões), renda fixa (US$ 2 bilhões) e ações (US$ 1,3 bilhão). No ano de 2022, os ingressos líquidos em carteira no mercado doméstico somaram US$ 6,4 bilhões (ingressos líquidos de US$ 10,9 bilhões em ações e fundos de investimentos e saídas líquidas de US$ 4,5 bilhões em títulos de dívida), ante ingressos líquidos de US$ 27,9 bilhões em 2021.
Em nossa avaliação, a combinação de um cenário externo mais adverso e o surgimento dos primeiros sinais de desaceleração da economia brasileira adiciona um viés mais positivo para as transações correntes nos próximos meses. Acreditamos que a desaceleração econômica menos severa do que o antecipado dos Estados Unidos e da Europa será responsável por um arrefecimento mais moderado do volume de exportações, refletindo os impactos da política monetária contracionista. Por outro lado, o súbito abandono por parte da China de sua rígida política de Covid-zero será um vetor positivo de expansão das exportações ao longo de 2023. Por sua vez, o processo de desaceleração gradual da economia brasileira e o elevado grau de incerteza econômica serão responsáveis por limitar a demanda interna, impondo viés de baixa para as importações. Por fim, deve-se destacar que o fluxo de investimento direto no país (IDP) continuará financiando os déficits em transações correntes.