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Publicado em 24 de Janeiro às 14:48:17

Setor Externo (Dez/24): Déficit em transações correntes volta a superar o investimento direto

No mês de dezembro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 9,0 bilhões, ante resultado negativo de US$ 5,6 bilhões no mesmo mês de 2023. Apesar disso, o resultado veio melhor do que o consenso de mercado (US$ -12,4 bilhões, Broadcast+) e a nossa previsão (US$ -13,4 bilhões). Com isso, o resultado de 2024 foi de US$ -56,0 bilhões (2,55% do PIB), registrando forte piora em relação aos US$ -24,5 bilhões (1,12% do PIB) de 2023. O número de dezembro reforçou a deterioração na dinâmica das transações correntes, que superou o Investimento Direto no País (IDP) em quatro dos últimos cinco meses de 2024.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 4,3 bilhões, ante US$ 8,6 bilhões em dezembro de 2023. As exportações de bens totalizaram US$ 25,1 bilhões, queda de 13,2% a/a. As importações, por sua vez, atingiram US$ 20,8 bilhões, com uma expansão de 2,3% a/a em dezembro após avanço de 8,8% a/a em novembro, em decorrência dos primeiros sinais de desaceleração da economia no 4º trimestre. Com este resultado, o superávit comercial fechou o ano de 2024 em US$ 66,2 bilhões (US$ 339,8 bilhões em exportações e US$ 273,6 bilhões em importações). Nos próximos meses, o arrefecimento da demanda doméstica e a possível fragmentação do comércio mundial com as políticas tarifárias que o governo Trump promete implantar tendem a agir em direções opostas sobre a balança comercial brasileira, cujo efeito líquido ainda é difícil antecipar.

A conta de serviços registrou déficit de US$ 4,6 bilhões em dezembro, uma alta de 27,3% a/a (déficit de US$ 3,6 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais voltaram a avançar a despeito do movimento de desvalorização do real frente ao dólar, somando US$ 568 milhões (alta de 23,7% a/a). Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,4 bilhão, alta de 27,0% a/a, ainda impactada pela elevação do preço dos fretes. No ano, o déficit foi de US$ 49,7 bilhões, em linha com a nossa projeção de US$ 49,6 bilhões. Para 2025 esperamos uma redução marginal do déficit para US$ 48,0 bilhões.

Já o déficit em renda primária foi de US$ 9,1 bilhões em dezembro, queda de 13,8% a/a comparativamente ao déficit de US$ 10,6 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 4,1 bilhões, ante US$ 4,6 bilhões em dezembro de 2023, um recuo de 11,3% a/a. Já as despesas líquidas com juros que somaram US$ 5,1 bilhões no período, uma queda de 15,7% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior. A balança de rendas encerrou 2024 com um déficit de US$ 75,4 bilhões, marginalmente melhor do que esperávamos (US$ 77,5 bilhões), e que deve se repetir também esse ano (US$ 75,0 bilhões).

Em dezembro, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram saídas líquidas de US$ 12,6 bilhões, com todas as principais categorias de investimento – ativos de renda fixa (US$ -4,5 bilhões), ações brasileiras (US$ -3,1 bilhões) e fundos (US$ -5,0 bilhões) – contribuindo para isso. Essa deterioração na passagem de novembro para dezembro já era de certa forma esperada em decorrência tanto de fatores domésticos como externos. A depreciação do real frente ao dólar se aprofundou devido à má recepção por parte do mercado do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo e da montagem de posições por parte dos investidores estrangeiros visando obter ganhos com as políticas econômicas que o governo Trump prometia adotar (“Trump trade”). Com isso, os investimentos em carteira no mercado doméstico encerram 2024 com egressos líquidos de US$ 4,3 bilhões (US$ -17,1 bilhões em ações e fundos de investimento e US$ 12,8 bilhões em títulos de dívida).

No tocante a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 2,8 bilhões em dezembro, resultado que superou o número negativo registrado no mesmo mês de 2023 (US$ -2,0 bilhões) e que configurou uma surpresa positiva tanto em relação a mediana do mercado (US$ -1,2 bilhão, Broadcast+) como a nossa projeção de US$ -1,3 bilhão. Isso fez com que o IDP encerrasse o ano de 2024 em US$ 71,1 bilhões (3,24% do PIB), bem próximo da nossa projeção de US$ 73,4 bilhões. Novamente, o destaque positivo do IDP se deu pelos ingressos líquidos em participação no capital (US$ 4,8 bilhões), com o destaque negativo ficando por conta das operações intercompanhia (US$ -2,0 bilhões).

Apesar de o IDP não ter sido capaz de financiar o déficit em transações correntes em quatro dos últimos cinco meses de 2024, no médio prazo o cenário ainda é benigno, embora menos promissor do que nos últimos anos. Como esperamos uma desaceleração no ritmo de crescimento econômico da economia brasileira em 2025, a situação das contas externas do país deve apresentar um cenário um pouco mais benéfico nesse ano. Visto isso, esperamos que o IDP apresente um resultado melhor em 2025, de US$ 77,9 bilhões.

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