Home > Macroeconomia Brasil > Setor Externo (fev/23): Transações correntes registram déficit de US$ 2,8 bilhões

Publicado em 27 de Março às 13:18:47

Setor Externo (fev/23): Transações correntes registram déficit de US$ 2,8 bilhões

No mês de fevereiro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 2,8 bilhões, ante déficit de US$ 4,2 bilhões no mesmo mês de 2022, vindo melhor do que a mediana das projeções, que apontava para um déficit de US$ 5,0 bilhões (Broadcast+). Esse foi o melhor resultado para o mês desde 2017. Já no acumulado de doze meses encerrados em fevereiro, o déficit é de US$ 54,4 bilhões, isto é, 2,78% do PIB, comparativamente a US$ 46,8 bilhões (2,81% do PIB) em fevereiro de 2022. No período dos dois primeiros meses do ano, o déficit acumulado em transações correntes é de US$ 11,9 bilhões.

No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 2,5 bilhões no mês, ante US$ 3,6 bilhões em fevereiro do ano passado. O resultado refletiu o saldo entre US$ 21,6 bilhões em exportações e US$ 19,1 bilhões em importações, decréscimos de 9,0% a/a e 5,4% a/a, respectivamente. Com as exportações recuando mais do que as importações na métrica anual, viu-se uma piora de US$ 1,0 bilhão no saldo da balança comercial.

Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 2,0 bilhões em fevereiro, redução de 27,6% a/a. As despesas líquidas com viagens internacionais reverteram a trajetória de retorno a patamares anteriores à pandemia e reduziram 23,9% a/a, somando US$ 339 milhões. Além disso, contribuíram para o recuo de US$ 772 milhões no déficit da conta de serviços na métrica anual a redução do déficit em transportes (US$ 946 milhões, ante US$ 1,4 bilhões) e nos “demais serviços” (US$ 173 milhões, ante US$ 436 milhões). Por sua vez, o aluguel de equipamentos se destacou mais uma vez e teve despesas líquidas que totalizaram US$ 571 milhões, um aumento de 6,2% na comparação com fevereiro de 2022.

O déficit na conta de renda primária acompanhou o movimento visto em serviços e recuou 33,5% a/a, saindo de US$ 5,2 bilhões para US$ 3,4 bilhões. Por sua vez, as despesas líquidas de lucros e dividendos totalizaram US$ 2,1 bilhões, ante US$ 2,9 bilhões em fevereiro de 2022. As despesas líquidas com juros somaram US$ 1,4 bilhão em fevereiro, uma redução considerável (de 39,6%) frente aos US$ 2,2 bilhões do mesmo mês do ano passado devido à alta dos juros globais. Com isso, todas as três aberturas (remuneração de empregados, juros e lucros e dividendos) contribuíram para a redução do déficit da conta de renda primária.

Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 6,5 bilhões em fevereiro, registrando uma forte piora frente aos US$ 10,8 bilhões no mesmo mês do ano passado, vindo abaixo do piso das estimativas dos analistas (US$ 7,5 bilhões, Broadcast+) e sendo o pior resultado para o mês desde 2020. Os ingressos líquidos em participação no capital atingiram US$ 4,9 bilhões em fevereiro e de US$ 1,6 bilhão em operações intercompanhia. No acumulado em doze meses, o IDP totalizou US$ 88,0 bilhões (4,49% do PIB), numa redução frente aos US$ 92,3 bilhões (4,75% do PIB) do primeiro mês do ano e num aumento expressivo em relação aos US$ 50,2 bilhões (3,01% do PIB) registrados em fevereiro de 2022. Em 2023 até fevereiro, o IDP já acumula o ingresso de US$ 13,3 bilhões. Para 2023, a última estimativa do banco central é de ingresso de investimentos estrangeiros na ordem de US$ 75 bilhões.

Dos investimentos em carteira no mercado doméstico, foi registrado o ingresso líquido de US$ 317 milhões em ativos de renda fixa, US$ 202 milhões em ações e US$ 34 milhões em fundos, totalizando US$ 553 milhões. No agregado de doze meses, a posição em carteira no mercado local sofreu um aporte líquido de US$ 3,5 bilhões.

Em nossa avaliação, os fatores de risco sobre as transações correntes em 2023 se ampliaram do mês passado para esse. A emergência de problemas no setor bancário americano e europeu aumenta a incerteza sobre a trajetória econômica de curto e médio prazo dessas duas economias o que, por sua vez, impõe um viés de baixa sobre a atividade econômica global. No Brasil, a tendência cada vez mais clara de desaceleração interna tende a desestimular as importações, enquanto os fatores externos acima citados devem pesar negativamente sobre as exportações. O único vento favorável externo no momento é a reabertura do mercado chinês para as exportações de carne bovina após os casos de vaca louca no estado do Pará. Visto isso, ainda é cedo para sabermos os reais efeitos da crise bancária sobre a economia global e qual força irá predominar sobre as exportações brasileiras. Ainda assim, o fluxo de investimento direto no país (IDP) deverá continuar financiando os déficits em transações correntes.

Acesse o disclaimer.

Leitura Dinâmica

Recomendações

    Vale a pena conferir