No mês de fevereiro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 4,4 bilhões, ante resultado negativo de US$ 4,4 bilhões no mesmo mês de 2023. O resultado veio pior do que a mediana de mercado (-US$ 3,3 bilhões, Broadcast+). No acumulado dos últimos doze meses encerrados em fevereiro, o déficit foi de US$ 24,7 bilhões (1,11% do PIB), bem abaixo dos US$ 52,3 bilhões (2,63% do PIB) registrados em fevereiro de 2023.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 3,4 bilhões, ante US$ 2,2 bilhões em fevereiro de 2023, significativamente melhor do que o superávit de um ano atrás, mas bem menor do que o superávit expressivo observado nos últimos meses. As exportações de bens totalizaram US$ 23,9 bilhões, alta de 12,2% a/a, ante crescimento de 18,5% a/a no mês imediatamente anterior. Já as importações continuaram a crescer na métrica interanual, saindo de um avanço de 3,6% a/a em janeiro para uma alta de 7,3% a/a em fevereiro, totalizando US$ 20,4 bilhões. No acumulado dos últimos doze meses, o superávit foi de US$ 85,2 bilhões (US$ 351,3 bilhões em exportações e US$ 266,1 bilhões em importações).
A conta de serviços registrou déficit de US$ 3,7 bilhões em fevereiro, uma alta de 70,7% a/a (déficit de US$ 2,1 bilhões no mesmo mês de 2023). As despesas líquidas com viagens internacionais cresceram 11,8% a/a e somaram US$ 379 milhões, deixando de se beneficiar de uma base de comparação depreciada da época da pandemia. Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,2 bilhão, alta de 22,9% a/a. Esse avanço já é uma amostra das pressões altistas sobre os preços dos fretes em decorrência dos navios estarem evitando a rota do Mar Vermelho.
O déficit em renda primária foi de US$ 4,2 bilhões em fevereiro, queda de 7,5% a/a comparativamente ao déficit de US$ 4,6 bilhões do mesmo mês de 2023. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 2,9 bilhões, ante US$ 2,5 bilhões em fevereiro de 2023, um avanço de 17,4% a/a. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 1,4 bilhões no segunda-feira mês de 2024, ante US$ 2,1 bilhões no mesmo período de 2023, queda de 35,3% a/a.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram egressos líquidos de US$ 2,9 bilhões em fevereiro de 2024, compostos por um fluxo negativo de US$ 2,1 bilhões em fundos de investimento e em ações, resultante de um desinvestimento de US$ 2,3 bilhões em ações brasileiras e de um ingresso líquido de US$ 167 milhões em fundos. O montante restante de US$ 857 milhões foi relativo a saídas líquidas de investimentos em renda fixa (títulos de dívida). O fato de o investimento líquido negativo ter se dado majoritariamente em ações esteve associado os maiores ruídos envolvendo a relação do governo com empresas estatais e ex-estatais (Eletrobras, Vale e Petrobras), levando a um movimento de “sell-off”, que tende a aparecer ainda mais forte nos dados do mês de março.
▪ Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 5,0 bilhões em fevereiro, abaixo do número registrado em no mesmo mês de 2023 (US$ 7,2 bilhões) e aquém da mediana das projeções dos analistas (US$ 6,9 bilhões, Broadcast+). O resultado de fevereiro levou o IDP acumulado em doze meses para US$ 62,0 bilhões (2,80% do PIB). Com o ciclo de afrouxamento monetário por parte dos principais bancos centrais devendo ter início esse ano, devemos observar, principalmente a partir do segundo semestre, um aumento do diferencial de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos, o que deve levar a uma recuperação do IDP ao longo desse ano. Com isso, ele deve continuar a financiar os déficits em transações correntes com alguma folga, apesar do menor saldo positivo da balança comercial esse ano, juntamente com as contas de serviços e de renda primária mais pressionadas, devendo levar a um maior déficit na conta corrente.