No mês de janeiro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 8,8 bilhões, ante déficit de US$ 9,4 bilhões em jan/22, vindo levemente pior que a mediana das projeções que apontava para um déficit de -US$ 8,1 bilhões (Broadcast+). Desse modo, o déficit em doze meses até janeiro de 2023 é de US$ 55,4 bilhões, isto é, 2,87% do PIB, comparativamente a US$ 47,1 bilhões (2,85% do PIB) em janeiro 2022.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de US$ 1,2 bilhões no mês, ante déficit de US$ 1,4 bilhões em jan/22. O resultado refletiu o saldo entre US$ 23,3 bi de exportações e US$ 22,1 em importações, incrementos de 16,5% a/a e 3,5% a/a, respectivamente.
Já a conta de serviços apresentou déficit de US$ 2,3 bilhões em janeiro, redução de 11,3% a/a. As despesas líquidas em viagens internacionais, em trajetória de retorno a patamares anteriores à pandemia, aumentaram 138,6% e somaram US$642 milhões, com aumentos de 43,3% (para US$604 milhões) nas receitas e de 80,5% nas despesas (US$1,2 bilhão). Por sua vez, o aluguel de equipamentos se destacou mais uma vez e teve despesas líquidas que totalizaram US$726 milhões, aumento de 11,7% na comparação com janeiro de 2022.
O déficit na conta de renda primária acompanhou esse movimento de serviços e apresentou ampliação em relação à jan/22, saindo de US$ 5,7 bilhões para US$ 7,8 bilhões, aumento de 36,1% a/a. Por sua vez, as despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$4,5 bilhões, ante US$2,5 bilhões em janeiro de 2022. As despesas líquidas com juros somaram US$3,3 bilhões, valor semelhante ao de janeiro de 2022.
Em relação à conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 6,9 bilhões em janeiro, havendo uma melhora frente à US$ 5,1 bilhões em janeiro de 2022, mas vindo ligeiramente abaixo do consenso de mercado de US$ 7,1 bilhões (Broadcast+). Os ingressos líquidos em participação no capital atingiram US$ 5,1 bilhões em participação no capital e de US$ 1,8 bilhão em operações intercompanhia. O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$92,3 bilhões (4,78% do PIB) em janeiro de 2023, ante US$90,6 bilhões (4,75% do PIB) no mês anterior e US$48,1 bilhões (2,91% do PIB) em janeiro de 2022.
Os investimentos em carteira no mercado doméstico totalizaram ingressos líquidos de US$4,2 bilhões em janeiro de 2023, resultado de ingressos líquidos de US$1,9 bilhão em ações e fundos de investimento e de US$2,2 bilhões em títulos de dívida. Nos doze meses encerrados em janeiro de 2023, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$4,8 bilhões.
Em nossa avaliação, há fatores positivos e negativos para as transações correntes em 2023. Por um lado, a tendência cada vez mais clara de desaceleração interna tende a desestimular as importações, enquanto fatores externos se mostram favoráveis às exportações brasileiras. Nesse sentido, destacamos a desaceleração econômica menos severa do que o antecipado nos Estados Unidos e Europa, bem como a reabertura chinesa como os principais vetores de incentivo às exportações ao longo de 2023. No entanto, os recentes casos de vaca louca no estado do Pará apresentam um risco para a venda de bovinos, já contando com uma suspensão temporária do mercado chinês. A China compra 70% da carne paraense e o embargo trará queda estimada de 50% nos abates nas indústrias locais. Por fim, deve-se destacar que o fluxo de investimento direto no país (IDP) continuará financiando os déficits em transações correntes.