No mês de janeiro, as transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 8,7 bilhões ante resultado negativo de US$ 4,4 bilhões no mesmo mês de 2024. O resultado veio pior do que o consenso de mercado (US$ -8,5 bilhões, Broadcast+) e um pouco melhor do que a nossa projeção (US$ -8,9 bilhões). Nos últimos doze meses o resultado foi de US$ -65,4 bilhões (3,02% do PIB), registrando forte piora em relação aos US$ -24,5 bilhões (1,11% do PIB) do mesmo período de 2024.
No que se refere à balança comercial de bens, foi registrado um superávit de apenas US$ 1,2 bilhões, ante US$ 5,6 bilhões em janeiro de 2024. As exportações de bens totalizaram US$ 25,4 bilhões, queda de 5,9% a/a. As importações, por sua vez, atingiram US$ 24,1 bilhões, com uma expansão de 12,8% a/a em janeiro após avanço de 3,0% a/a em dezembro, o maior da série histórica. Com este resultado, esperamos que 2025 registre um superávit comercial de US$ 76,7 bilhões (US$ 351,7 bilhões em exportações e US$ 274,9 bilhões em importações). Nos próximos meses, uma conjunção de fatores internos e externos como a dúvida quanto a real velocidade de desaceleração da economia brasileira e a reação dos países à ameaça de terem as suas exportações com destino aos EUA taxas pelo governo Trump contribui para gerar incertezas sobre os impactos na balança comercial brasileira, cujo efeito líquido ainda é difícil antecipar.
A conta de serviços registrou déficit recorde de US$ 4,6 bilhões em janeiro, uma alta de 28,9% a/a (déficit de US$ 3,5 bilhões no mesmo mês de 2024). As despesas líquidas com viagens internacionais avançaram na esteira do movimento de valorização do real frente ao dólar visto ao longo de todo o mês de janeiro, somando US$ 1,0 bilhão (alta de 13,1% a/a). Por sua vez, a conta de transportes registrou despesas líquidas de US$ 1,4 bilhão, alta de 53,6% a/a. Em doze meses o déficit foi de US$ 55,6 bilhões em janeiro, número que deve sofrer alguma redução ao longo do ano e encerrar 2025 em US$ 48,0 bilhões.
Já o déficit em renda primária foi de US$ 5,6 bilhões em janeiro, queda de 16,2% a/a comparativamente ao déficit de US$ 6,7 bilhões do mesmo mês de 2024. As despesas líquidas de lucros e dividendos, associadas aos investimentos direto e em carteira, totalizaram US$ 2,6 bilhões ante US$ 2,8 bilhões em janeiro de 2024, um recuo de 6,9% a/a. Já as despesas líquidas com juros somaram US$ 3,1 bilhões no primeiro mês desse ano, uma queda de 21,6% a/a em relação ao mesmo mês do ano anterior. No período de doze meses findos em janeiro, o déficit da balança de rendas foi de US$ 74,3 bilhões, patamar esse em que deve permanecer até o final do ano (US$ 75,0 bilhões).
Em janeiro, os investimentos em carteira no mercado doméstico registraram saídas líquidas de US$ 715 milhões, com 2 das 3 principais categorias de investimento – ativos de renda fixa (US$ -2,37 bilhões) e fundos (US$ -189 milhões) – contribuindo para isso. Por outro lado, as ações brasileiras registraram influxo positivo de US$ 1,84 bilhão. O desmonte das apostas do mercado no “Trump trade” e a percepção de que os ativos brasileiros haviam ficado muito baratos após a má recepção do pacote de ajuste fiscal proposto pelo governo em dezembro deram as condições para que janeiro apresentasse uma boa janela de entrada para o investidor estrangeiro voltar a investir no Brasil. Vale ressaltar que os investimentos em carteira só não apresentaram um déficit menor do que os US$ 4,8 bilhões vistos no período porque houve um pagamento de um título soberano brasileiro (Global 25) no valor de US$ 4,3 bilhões.
No tocante a conta financeira, o Investimento Direto no País (IDP) totalizou ingressos líquidos de US$ 6,5 bilhões em janeiro, resultado que veio bem em linha com a nossa projeção. Em relação ao mesmo mês de 2024 o número ficou 28,4% aquém (US$ 9,1 bilhões), mas configurou uma surpresa positiva em relação a mediana do mercado (US$ 6,1 bilhões, Broadcast+). Desta vez, tanto o item de participação no capital como o de operações intercompanhia registraram ingressos líquidos positivos, de US$ 4,7 bilhões e US$ 1,8 bilhão respectivamente. Como o IDP não foi capaz de financiar o déficit em transações correntes em 5 dos últimos 6 meses, o cenário para as contas externas brasileiras começa a ficar cada vez mais pressionado. Dado que esperamos uma desaceleração no ritmo de crescimento da economia brasileira em 2025, a situação das contas externas do país deve apresentar um cenário um pouco mais benéfico nesse ano. Visto isso, esperamos que o IDP apresente um resultado melhor em 2025, de US$ 77,9 bilhões.







